Há um equívoco de interpretação nessa música, que terminou por colocar de forma preconceituosa a feminilidade da mulher paraibana. Na verdade, o termo “Paraíba muié macho” nada tem a ver com o perfil feminino da paraibana, que não fica nada a dever em termos de graça e beleza para qualquer mulher brasileira.
Há quem diga que a música foi encomendada a Humberto Teixeira para a campanha de José Américo de Almeida em 1950. Quando de sua primeira apresentação num comício em Campina Grande, na voz de Luis Gonzaga, a música foi considerada um insulto à mulher paraibana e por isso foi recusada pelos coordenadores da campanha.
Na sua letra percebe-se claramente que a referência “Paraíba muié macho”, diz respeito ao fato de que nosso Estado assumiu uma posição corajosa na revolução de 30. Como o nome “Paraíba” é feminino foi posta a observação de que nossa terra se destacava pelo destemor e bravura, daí a definição de “muié macho”.
“Quando a lama virou pedra/ E o mandacaru secou/Quando o Ribação de sede/Bateu asa e voou”. São os sinais da seca que castiga a região Nordeste. A terra que por pouco tempo recebeu chuva teve a lama transformada em pedra, porque chegara a estiagem. O mandacaru, planta nativa da região, secando dá mostras de que há muito tempo não tem chuva. O ribação, uma ave do sertão nordestino, ao pressentir a seca “bate asas” e voa em busca de alimento e água para a sua sobrevivência.
“Foi aí que eu vim me embora/Carregando a minha dor/Hoje eu mando um abraço pra ti pequenina/Paraíba masculina/Muié macho, sim sinhô”. O lamento do retirante, proclamando a dor da saudade do seu torrão natal. Obrigado a deixar sua região de origem, não consegue apagar as lembranças e o amor a terra em que nasceu. Então, na distância, manda “um abraço pra ti pequenina”, salientando o tratamento carinhoso no diminutivo. O nome feminino dado à Paraíba recebe a qualificação de intrépida, brava, qualidades que, na época, se imaginava próprias do gênero masculino, “Paraíba muié macho”.
“Eita pau pereira/Que em Princesa já roncou/Eita Paraíba/Muié macho sim sinhô”. Alude nessa estrofe a outro episódio histórico de coragem em que a Paraíba foi protagonista. O coronel José Pereira declarara o município de Princesa Isabel, território independente, numa briga política com o então presidente da província João Pessoa, em 1930. O “pau roncou” indica a batalha enfrentada pelo coronel Zé Pereira.
“Eita pau pereira/Meu bodoque não quebrou/Hoje eu mando/Um abraço pra ti pequenina/Paraíba masculina,/ Muié macho, sim sinhô”. O bodoque é uma arma, uma atiradeira, usada naquele tempo. Tem o significado de dizer que a Paraíba não se curvou às pressões do governo central em 1930, e foi rebelde, insubmissa, indomável. Não poderia ser chamada de outra forma “Paraíba masculina, muié macho, sim sinhô”. As afirmações preconceituosas ficam por conta da ignorância da história e da inveja da beleza da mulher paraibana.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
• Dedico essa crônica a Lucy Alves, uma mulher paraibana, linda, talentosa, cheia de charme, que ontem a noite nos encheu de orgulho com sua apresentação no programa The Voice, da Rede Globo de Televisão.