Geral

Polêmicas: Homoafetividade, Variação Lingüística e Segredos de Alcova


24/05/2011



 Polêmica: situação estabelecida pela insistência dos que acham que todo mundo tem que pensar do mesmo jeito. (Adriana Falcão em Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento)

Aplauso: Quando as mãos não necessitam da boca para dizer “gostei”

Os últimos dias foram cheios de novidades, assuntos discutidos e questionados. Alguns celebrados amplamente como é o caso do STF, que quebrou regra constitucional em favor da relação homoafetiva. Ouvi jornalistas questionarem o termo, achando-o tênue e tímido para camuflar a palavra homossexual. E é. Eu particularmente, concordo que as palavras podem sim ter o poder de abrir caminhos, e tem-se que ter sabedoria para descobrir a palavra certa no momento oportuno. Jane Austen, quando fazia sua crítica à sociedade Inglesa do século XIX, se utilizava da ironia, e assim todos iam achando que aquela escritora observadora da sala de jantar, só falava bagatelas sobre moçoilas correndo atrás de um casamento. O tema das relações homoafetivas pegou fogo após decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF), há dias, de considerar como família a união estável de homossexuais. Várias igrejas, inclusive a católica, condenam a homossexualidade como antinatural e pecaminosa. Diante da derrota no STF, esforçam-se por barrar outras iniciativas legais que ampliem a proteção aos gays.E o Kit gay! O deputado nada ilustre Jair Bolsonaro, esperneando histericamente (e ainda dizem que somos nós as mulheres, as histéricas!) alegando que querem ensinar as criançinhas a serem gays desde pequenininhas…

Aquarela: Todos os quadros que não foram pintados ainda.

Dia 17/05, foi celebrado o dia do Combate à Homofobia, gostaria de transcrever um artigo de alguém mais autorizado que eu, mas com o qual me identifiquei para pensar sobre o assunto. Leandro Colling, professor da Universidade Federal da Bahia, é presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura e membro do Conselho Nacional LGBT. Ele argumenta que esta é uma “ boa data para repensarmos as estratégias que utilizamos para desconstruir os argumentos dos homofóbicos.
As políticas de afirmação identitária, utilizadas para atacar as opressões contra LGBTTTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), negros e mulheres, para citar apenas alguns grupos, surtiram efeito e por causa delas podemos comemorar algumas conquistas. Mas, ao mesmo tempo, essas políticas são limitadas em alguns aspectos.Além de afirmar as identidades dos segmentos que representamos, também precisamos problematizar as demais identidades. Por exemplo: LGBTTTs podem, se assim desejarem, problematizar a identidade dos heterossexuais, demonstrando o quanto ela também é uma construção, ou melhor, uma imposição sobre todos.

Assim, em vez de pensarmos que as nossas identidades são naturais, no sentido de que nascemos com elas, iremos verificar que nenhuma identidade é natural, que todos resultamos de construções culturais. Dessa maneira, a "comunidade" LGBTTT passaria a falar não apenas de si e para si, mas interpelaria mais os heterossexuais, que vivem numa zona de conforto em relação às suas identidades sexuais e de gêneros (aliás, bem diversas entre si). Para boa parte dos heterossexuais, apenas LGBTTTs têm uma sexualidade construída e problemática, e o que eles/as dizem não tem nada a ver com as suas vidas.É a inversão dessa lógica que falta fazermos para chamar os heterossexuais para o debate, para que eles percebam que não são tão normais quanto dizem ser.
Ou seja: para combater a homofobia, precisamos denunciar o quanto a heterossexualidade não é uma entre as possíveis orientações sexuais que uma pessoa pode ter.Ela é a única orientação que todos devem ter. E nós não temos possibilidade de escolha,pois a heterossexualidade é compulsória.Desde o momento da identificação do sexo do feto, ainda na barriga da mãe, todas as normas sexuais e de gêneros passam a operar sobre o futuro bebê. Ao menor sinal de que a criança não segue as normas, os responsáveis por vigiar os padrões que construímos historicamente, em especial a partir do final do século 18, agem com violência verbal e/ou física.
A violência homofóbica sofrida por LGBTTTs é a prova de que a heterossexualidade não é algo normal e/ou natural. Se assim o fosse, todos seríamos heterossexuais. Mas, como a vida nos mostra, nem todos seguem as normas.
Para executar estratégias políticas que denunciem o quanto a heterossexualidade é compulsória, e de como ela produziu a heteronormatividade (que incide também sobre LGBTTTs que, mesmo não tendo práticas sexuais heterossexuais, se comportam como e aspiram o modelo de vida heterossexual), não podemos apostar apenas em marcos legais e institucionais.Precisamos desenvolver, simultaneamente, estratégias que lidam mais diretamente com o campo da cultura, a exemplo de ações nas escolas, na mídia e nas artes.O projeto Escola sem Homofobia, assim, não correria o risco de apenas interessar a professores/as e alunos/as LGBTTTs. Nesse processo, comunicadores e artistas também poderiam servir como excelentes sensibilizadores para que tenhamos uma sociedade que realmente respeita a diversidade. E a festeja como uma das grandes riquezas da humanidade.”

E depois de ler tantos textos elucidativos, tantos depoimentos sensíveis, eis que ontem (23/05) zapiando a TV depois das aulas noturnas, me deparo com um programa de TV, O Norte, (Alex Filho), onde um cidadão da roda de debate, Anacleto Reinaldoé, de discurso arrepiante, grosseiro e patético, se “amostrava” indignado com todo e qualquer comportamento sexual diverso. Uma vergonha, possibilitar tal cidadão com tempo, espaço e fala. Com aquele discurso, deveria se resguardar para suas quatro paredes. E olhe lá! Nem isso. Pois não era uma questão de discordância, mas de desrespeito, preconceito e ignorância.

Abracadabra : Palavra que se diz capaz de transformar sapo em príncipe ou vice-versa

E o Dominique Strauss do FMI? Pego no flagrante, estuprando uma camareira de hotel! Esses homens que não podem ver a realidade dos seus fetiches (enfermeira, professorinha, coelhinha). Sua mulher jura de pés juntos que não acredita. E fiquei pensando sobre isso: se ela acreditar na veracidade dos fatos, é como se também não acreditasse em si próprio. E com certeza, esse homem das alcovas secretas pode sim não ser aquele homem com quem convive há tanto tempo. O poder, o dinheiro, o mercado financeiro, as Bolsas de Dinheiro e as Bolsas de Batom, continuam a depender das alcovas e do segredo dos lençóis. Sexo, Mentiras e Videotapes – eis a questão! Nafissatou Diallo, a “camareira subversiva” (Ruth de Aquino, Revista Época da semana), fez com que Dominique limpasse seus cofres para pagar fiança e ele, conhecesse o seu lugar!

E não é que o Arnold Schwarzenagger, nome difícil, ex-governador da Califórnia, também foi pego com um filho de 14 anos da empregada da sua casa? Não teve a decência de informar à sua mulher Maria Schriver, que quando a gata saia, os ratos faziam a festa. Na sua cama. Gato em Teto de Zinco Quente, nem Tennessee Williams daria conta. Com o escândalo, outras amantes surgiram dos corredores dos escritórios soturnos….E seus projetos cinematográficos foram para os quintos! Nem para Connan , o Bárbaro é mais convidado. Dizem as más línguas que O Exterminador do Futuro 10 tem uma vaguinha….

Língua: A maestrina dos beijos e das palavras.

E a lingüística? Ser ou não ser: Nós somos, nós é! Vi tanta gente indignada. Confesso que não gosto de gramática, nem de crase, mas adorava o trema. E quando estava a me acostumar, mudou tudo novamente. O novo código florestal, digo ortográfico…não vou aprender mais. E de floresta em floresta, Marina Silva, o marido , Aldo, tudo em cheque! Tantos textos importantes na imprensa! Há 15 anos que os lingüistas opinam sobre a questão. Marcos Bagno (UnB) esclarece: “E, é claro,
com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu
modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada
em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de
comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.
Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.”

Particularmente, acho muito interessante as discussões postas nos mais variados textos (Gostei de Bráulio Tavares na sua crônica diária no Jornal da Paraíba, 20/05), mas reconheço que a norma/língua culta (?) é cobrada publicamente: concursos, vestibular, publicações, então, como ficamos? Li ainda Lya Luft, Sonia van Dijck, Revistas semanais, mensais, internet, e estou com a cabeça zonza. Muito barulho por tudo, mas são essas as oportunidades de refletirmos e caminharmos com a Língua culta ou não.

Janela- Por onde entra tudo que é lá fora.

E para terminar, entre léxicos, segredos, denúncias e repúdios, lembrei-me de um filme, visto há tantos anos, com minha querida e eterna Mrs. Dalloway, Vanessa Redgrave, que tem como tema as relações estáveis entre mulheres. Trata-se de Desejo Proibido 2 (If The Walls Could Talk 2) , Dirigido por Jane Anderson, Martha Coolidge e Anne Heche, 2000, EUA). O filme que aborda três diferentes histórias envolvendo casais de lésbicas e têm como cenário principal uma mesma casa. Por serem situadas em três diferentes décadas (1961, 1972 e 2000) estas histórias traçam um interessante panorama das percepções sociais acerca do lesbianismo, desde a época em que se tinha de viver às escondidas, até os tempos atuais, que sinalizam para a aceitação de famílias formadas por pais homossexuais. O filme foi feito diretamente para a TV e atingiu grande audiência. São Três histórias sobre lesbianismo, que acontecem na mesma casa. Nas três estórias temos temas pertinentes sobre as relações lésbicas e todos os obstáculos a serem superados, mas é na primeira estória, passada em 1961, que Abby (Marian Seldes) morre de derrame e Edith (Vanessa Redgrave), que foi sua companheira por 50 anos, tem de silenciosamente enfrentar a perda e também o fato de não ser considerada da família, tanto pelo hospital quanto pelos herdeiros de Abby. Essa estória do filme, assim como tantas outras, ilustra a importância das conquistas desses casais, evitando assim, todo e quaisquer sofrimento tão bem descrito no filme.

Ousadia- Quando o coração diz pra coragem “vá” e a coragem vai mesmo.

(Todas as Citações em itálico, são de autoria de Adriana Falcão em O Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento.)

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa 20 de maio, 2011



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