Política

Filha de Roberto Jefferson pode assumir Cultura e ‘rifar’ André Amaral

SEM MINISTÉRIO


20/07/2017



Na luta para se livrar da denúncia por corrupção passiva no plenário da Câmara, o presidente Michel Temer acentuou a velha prática fisiológica de trocar cargos por votos para permanecer no Planalto. Na tentativa de agradar a todos os partidos da base, o presidente vem recebendo parlamentares diariamente, ouvindo pleitos das legendas aliadas e mapeando a evolução dos infiéis. A destinação de verbas para as bases eleitorais de parlamentares foi vastamente usada nos bastidores durante a análise da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Mas a negociação de cargos se escancarou nos últimos dias.

Na noite de quarta-feira, em mais um encontro fora da agenda oficial Temer recebeu no Palácio do Planalto o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e sua filha, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). Cotada para assumir o Ministério da Cultura, ela confirmou que o tema foi tratado na reunião, apesar de negar que o motivo da conversa tenha sido a negociação de espaços.

— Acredito que a Cultura será resolvida em breve, não vai ficar muito tempo sem uma cabeça — disse, sem garantir se será a nova titular da pasta. — Pode não ser eu, pode ser outra pessoa — desconversou.

No mês passado, o deputado federal André Amaral (PMDB-PB) foi cotado para o cargo, mas deve perdê-lo para Brasil. 

Um dirigente de um dos partidos do centrão, grupo que mais pressiona o governo para aumentar a participação no governo, disse que é “óbvio” e já “acertado no governo” que, passada a votação da denúncia no plenário, os espaços serão redefinidos de acordo com o apoio recebido por Temer.

— Se o governo contar com o centrão e o PMDB, jamais terá problemas para conter o afastamento, só aí já são mais de 200 deputados. O que a gente quer é que os espaços dos partidos correspondam ao apoio que o governo terá — afirmou esse dirigente, de forma reservada. — Depois da votação nós vamos sentar e ver os espaços no governo que cada partido merece. Isso é uma coisa óbvia, é uma coisa já acertada no governo — admitiu esse líder partidário.

No Palácio do Planalto, o discurso segue na mesma linha: não haverá mudança de ministérios antes da votação no plenário. O governo vai esperar para ver o desempenho de cada partido da base antes de reacomodar os espaços. A maior pressão entre as legendas do centrão — sobretudo PTB, PP, PR, PRB e PSD — é para que Temer tire espaços do PSDB, que permanece na base, mas totalmente rachado. A avaliação do grupo também é que PSB e PPS têm mais cargos do que votos a oferecer ao governo.

O “toma lá, dá cá” ficou tão escancarado que tem sido comum ver deputados falando abertamente sobre as negociações com o presidente. Recebido por Temer seguidas vezes nas últimas semanas — o encontro mais recente foi na terça-feira —, o deputado Wladimir Costa (SD-PA) explica detalhadamente o funcionamento do sistema fisiológico. Fala, sem rodeios, sobre a “oportunidade” para apresentar demandas ao governo, num momento em que Temer precisa de votos.



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