Geral

Elba Ramalho, Bráulio & Os Acordes do Tempo


25/01/2011



 Há um tempo atrás, numa tarde morna, vi no programa Sem Censura (TV Brasil), uma entrevista com Elba Ramalho, Bráulio Tavares e Geraldo Azevedo. E ouvindo tanto Elba quanto Bráulio, fiz uma viagem no tempo. O tempo em que eles começavam suas carreiras artísticas e o tempo em que de longe, eu os acompanhava.

Fico sempre tomada por um sentimento histórico, quando vejo coisas das quais vi, ouvi e participei, seja vivencialmente, seja através da imprensa, literatura, livros, etc., e anos depois tomo tento de ver que esse fato, aparentemente tão corriqueiro, virou história.

Conheci Elba Ramalho quando estreou nas peças de Luis Ramalho, Viva o Cordão Encantado, onde também conheci Tânia Alves, que logo depois, passando férias no Rio, tive oportunidade de vê-la ensaiando todo dia durante um mês, incluindo a estréia. Sabia o texto de cor. E ficava sempre emocionada ao ver Tânia virar estrela com sua voz afinadíssima. Depois, já na TV, já não gostei tanto assim.

Elba quando dava seus agudos, e interpretava Aquela Mulher, ou O meu Amor (dividindo o dueto com Marieta Severo – emocionante!), ambas de Chico Buarque, Ópera do Malandro, com seus rodopios e figurino meio Kitch, abalava meus arrepios. Os seus 3 primeiros Lps, eu comprei e sabia tudo de cor. Na sua grande estréia na Ópera, por conta de amigos comuns, tive direito a jantar com toda a turma do teatro, em algum lugar charmoso no Rio. Para mim foi uma noite de deslumbramento .

Anos depois encontrei-a na granja de Toinho Mariz & Haruê, por ocasião de um São João. Fiquei ali, tietando, aquela nordestina que eu admirava de Canta Canta Passarinho, trilha sonora de minhas férias em Baía Formosa e todas as farras nas padarias da madrugada, citadas aqui na crônica passada.

Já Bráulio, conhecia de longe, dos martelos, dos aboios e das parcerias Trupizupes – Um Raio da Silibrina! Mas sempre durante o Carnaval, o via descendo a ladeira, ao lado da sua mulher na época, Emília, contemporânea de Lourdinas, e amiga das minhas irmãs. Lá se ia aquele cabeludo exótico, de parcerias musicais ilustres, a quem acompanhava seu trabalho com admiração. Só mais tarde conheci Clotilde, sua irmã, tão artista e igualmente uma Silibrina!

Geraldo Azevedo, tive menos tietagem, embora estava sempre a postos para cantar, Bicho de Sete Cabeças. E ouvi-lo contanto as estórias de amizades entre os nordestinos em São Paulo e Rio, as dificuldades, os elos, a irmandade, fiquei admirando ainda mais esses artistas que conheci ainda quando tateavam as noites por aqui mesmo, nas noites de Cabíria Pessoense. Zé Ramalho foi meu vizinho no Cabo Branco, e lembro certa vez, nós da turma, indo visitá-lo numa madrugada qualquer. Acho que nem um dos Gentleman ele era ainda….Mas pegava o violão e cantava alguma entoanda já parte do seu sucesso anunciado. Eram os tempos também de Lenine, que primo do meu amigo Alexandre Carneiro, fazia sucesso ainda tímido na nossa terrinha. Depois Fuba, quem dividimos muitas mesas, cantaroladas, nas noites de sexta feira, na casa de Gui Faulhaber ou simplesmente tomando véu de noiva no Convívio, ainda um boteco com areia de praia, mas com os garçons que lá ainda servem até hoje: Salve Fernando!

Mas, quem fui mesmo fã de carteirinha foi Alceu Valença. O seu primeiro disco, pelo menos que eu tive, Vivo, ouvi até furar. Um coração Bôbo que me aqueceu em muitas manhãs que te perdi. Alceu não estava no programa de Leda Nagle, mas continua nas minhas estantes, com seu coração valente.

Ao vê-los rememorando as devidas carreiras, letras de música, Ave de Prata, foi como se a fala deles fizessem parte também das minhas experiências, que mesmo de longe, ou através da TV, rádio, etc, eu acompanhava de perto, e me sentia pertencente àquelas experiências alheias. Isso sempre me acontece com filmes, fatos políticos, comportamento, como por exemplo quando vi Os Doces Bárbaros, e chorei o filme inteiro, pois aquela estória era também uma estória que fazia parte de algum compartimento da minha memória. A vida do outro, fazendo parte da minha vida também. Claro que não é só com a vida de pessoas ilustres, famosas, que isso acontece. Com pessoas que de alguma forma fazem parte das nossas referências, admiração ou simplesmente estão ao redor em algum tempo. No caso dos famosos essa sensação é mais forte, pois a arte é algo que se instala e se instaura como uma tatuagem. Uma música, um livro, um artista, tem sim uma importância grande por um minuto ou toda uma vida. Estou no aguardo de comprar o filme Uma Noite em 67, Renato Terra e Ricardo Calil, – o ano dos festivais, para re-memorar minha radiola e TV preto e branco, e viajar por Alegria Alegria, ou o violão partido de Sérgio Ricardo. E tome Sabiá! A Banda! Que só Carolina não viu!

Elba, Bráulio, Geraldo, sintonizados na minha TV naquela tarde, me deram de presente momentos, que por mim só já estavam nebulosos, mas que a cantoria daquela tarde, trouxe sim, as notas da minha juventude e a certeza de um tempo de Bérgson, o tempo da duração.

Canta Canta Passarinho, Canta Canta miudinho, na palma da minha mão. Quero ver você sorrindo…

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa 25 janeiro, 2011



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