Educação

Chineses buscam imersão nos EUA

Ensino americano


27/05/2013

 Weiling Zhang, uma estudante do segundo ano no colégio de ensino médio de Nova York Leman Manhattan, desejava se comunicar com mais convicção e entusiasmo do que seus colegas chineses – no “estilo americano", explicou. Yijia Shi, um estudante do primeiro colegial, queria aumentar suas chances de conseguir uma carta de aceitação da Universidade de Brown. E Meng Yuan, da oitava série, estava buscando a independência no estilo ocidental, sem mencionar a possibilidade de poder ter muito mais escolhas na hora de ir às compras. Quando não está treinando corrida ou fazendo sua lição de casa, ela está procurando por bolsas de edição limitada da Louis Vuitton na Bergdorf Goodman e saboreando o menu de degustação de US$ 295 no célebre restaurante do Círculo Columbus, Per Se.

As escolas particulares de Nova York sempre foram redutos para estudantes jovens e ricos da cidade, cujas vidas e educação podem inspirar tanto desdém quanto inveja. Mas esses alunos são filhos de magnatas imobiliários, gigantes de transporte, proprietários de hotéis de luxo e médicos de regiões costeiras de Xangai que fazem fronteira com o Mar da China Oriental. Eles também fazem parte de um pequeno, mas crescente, quadro de adolescentes de famílias ricas na China que frequentam escolas em Nova York.

De acordo com o Departamento de Segurança Interna, 638 estudantes chineses com vistos frequentaram escolas de ensino médio na cidade em 2012, contra 114, cinco anos antes.

A adaptação não é perfeita, mas as escolas – particularmente aquelas que sofrem com atraso no pagamento das matrículas – têm procurado um componente internacional e pais que possam pagar mensalidade integral, mesmo que isso signifique aceitar alunos que falam inglês limitado. Estudantes chineses e seus pais viram as escolas como uma forma de ganhar uma vantagem sobre os milhares de estudantes na China que se candidatam a vagas em faculdades dos Estados Unidos a cada ano. Eles também estão querendo tirar proveito de um modelo educacional mais completo do que encontrariam na China, inclusive um particularmente de interesse das faculdades americanas: atividades extracurriculares.

"Em casa, eu não seria capaz de fazer todas estas atividades, pois tinhamos muita lição", disse Yijia, 15, que joga basquete no colégio Leman.

Em setembro, Leman acolheu 27 estudantes chineses, cerca de um quinto dos alunos do ensino médio, e 10 estudantes de outros países. Os alunos se alojaram em estúdios em uma torre residencial em Wall Street acima de uma loja Tiffany & Co. e em frente a um prédio de escritórios de Donald Trump. Os apartamentos dispõem de banheiros construídos em mármore, pufes e camas de beliche. Os alunos são supervisionados por uma equipe de responsáveis que moram no mesmo prédio e servem como assistentes para ajudar a facilitar a transição dos estudantes para uma nova cidade. A taxa de matrícula total: US$ 68,000 por ano, em comparação com os US$36,400 para quem não fica nos alojamentos.

Administradores no Leman disseram que o intercâmbio cultural enriqueceu a escola. Os estudantes chineses estão descobrindo o Halloween, bailes da escola e peças teatrais. Já aos estudantes americanos estão aprendendo a serem mais receptivos.

"Temos uma relação simbiótica acontecendo na escola", disse Drew Alexander, o diretor.

Max Rosenthal, estudante da oitava série, disse que foi muitas vezes colocado para sentar-se junto a estudantes da China durante discussões em classe a respeito das batalhas da Guerra Civil ou dos costumes da época da Lei Seca.

"Isso realmente ajuda a entender a história quando você tem que explicar para alguém", disse.

Mas outros alunos disseram que essa mesma necessidade de explicar poderia atrapalhar.

"Eu acho muito legal o fato deles estarem aqui", disse Osiris Vanible, do segundo colegial. "Mas eles não entendem muito do que eu digo. Existe uma barreira do idioma que é necessário romper. "

Uma professora, Jessica Manners disse que alguns de seus alunos estrangeiros tinham dificuldades para entender coisas que eram simples para estudantes americanos.

"Eu tento falar mais devagar do que eu normalmente faria", disse ela. "E eu quase nunca pergunto algo para alunos que não têm as mãos levantadas.”

Alexander disse que os estudantes estrangeiros foram obrigados a ter um "nível mínimo de proficiência" antes de serem aceitos. E, uma vez inscritos, muitos recebem diferentes testes e lições de casa, assim como materiais de leitura mais básicos do que os dos estudantes americanos. Aqueles que precisam de mais ajuda recebem aulas de inglês para estudantes de fora.

De acordo com Nicole Xu, uma representante da Usaedu Consulting Group International, uma das várias agências internacionais que coloca estudantes chineses em escolas americanas, este tipo de imersão total é a principal razão pela qual os pais chineses querem enviar seus filhos para os Estados Unidos.

Weiling, de 16 anos, filha de um empresário do planalto da Mongólia, disse que seus pais haviam procurado um lugar onde ela iria aprender a negociar de forma mais eficaz e se tornar hábil em resolver problemas do mundo real. Ambas são características que ela disse que seus pais consideravam ser mais americanas do que chinesas e boas para os negócios.

"Na China, nós só aprendemos o que está nos livros", disse ela.

Yulan Hu, a mãe de Monroe, disse que, quando ela chegou em Xangai para passar as férias de inverno, notou um traço recente de auto-suficiência nela. Monroe está agora na equipe de atletismo e aprendeu a nadar. Mas, talvez, o traço mais notável, foi que Monroe deixou de participar um ritual familiar de longa data – café na manhã em sua cama todas as manhãs.

"Ela mudou, literalmente", escreveu Hu.



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