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Silvana Costa ganha ouro e R$ 60 mil, depois de começar a correr por R$ 300
COMEÇOU POR R$ 300
16/09/2016

Quando conheceu o atletismo, Silvania Costa não poderia imaginar que um dia competiria em uma edição dos Jogos Paralímpicos. O esporte entrou na sua vida apenas para tentar driblar dificuldades financeiras e, dez anos depois, lhe garantiu uma medalha de ouro na Rio 2016.
Assim como quase tudo na vida da atleta, a conquista não veio fácil, é verdade. Silvania chegou à final do salto em distância T11 como recordista mundial, mas estava na segunda colocação até sua última tentativa, quando conseguiu alcançar 4,98m e bater a marfinense Fatimata Brigitte Diasso.
A medalha lhe renderá uma premiação de R$ 60 mil, valor estabelecido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para cada atleta do país que sobe no lugar mais alto do pódio em uma modalidade individual no Rio. Um "bicho" 200 vezes superior ao que recebeu quando começou a correr, há dez anos.
"Tá maluco, não corro nem um quarteirão, vou correr 10km?". Foi assim que Silvania reagiu pela quando foi convidada a ter seu primeiro contato com o atletismo. Ela tinha 19 anos, já era mãe de uma filha e tinha à sua frente a chance de disputar uma corrida de rua.
A resistência da hoje saltadora brasileira mudou quando ficou sabendo que aquela prova rendia prêmio de R$ 300. Ela estava em dificuldades e precisava pagar a leiteira de sua filha. "Então eu vou", respondeu, como contou em entrevista a um portal de esportes, antes dos Jogos.
"Nos 8km, já pensava em desistir, porque não tinha preparo, não tinha treinamento, não sabia o que era ser atleta. Consegui ganhar a prova, pagar uma leiteira, mas falei: 'Olha, você nunca mais me convida para competir'. Fiquei uma semana hospitalizada, com muita febre."
O "nunca mais me chame para correr" durou exatos três meses, quando as dificuldades voltaram a bater em sua porta. Silvania, que só tem 2% da visão em virtude de uma doença descoberta na infância, estava desempregada, e a deficiência dificultava sua reinserção no mercado.
"Tornei a me inscrever em uma competição em Brasília (ela é natural de Três Lagoas/MS). Fui me apaixonando pelo esporte, até um treinador olhar para mim e falar: ‘Você tem um baita potencial para ser atleta'. Ele me chamou para começar a treinar em São Caetano do Sul (SP)."
Até iniciar os trabalhos em um centro de alto nível, Silvania morou três anos em Cuiabá e praticou diversas modalidades. Correu corridas de 10km, arremessou peso, saltos, correu 100m… Seu potencial era evidente, mas faltava descobrir onde poderia ser melhor explorado.
Foi o técnico da seleção paralímpica que resolveu desenvolver a impulsão nos saltos em distância e deu certo. Em quatro anos competindo profissionalmente, além do ouro no Rio, Silvania também foi campeã mundial da prova em Doha 2015 e pan-americana em Toronto, no mesmo ano.
Na mesma modalidade, inclusive, seu irmão Ricardo também foi ouro na Paralimpíada do Rio. Ele sofre da mesma Doença de Stargardt, diagnosticada em todos os três filhos da família Costa de Oliveira ao mesmo tempo. Já sua filha, Letícia Gabriela, está com 10 anos e já é medalhista escolar.
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