Paraíba

OPINIÃO: ‘Alceu (Dispor) Valença encanta várias gerações com legado cultural singular e contemporâneo’, por Albiege Fernandes


28/05/2020

Como eu já havia confessado, odeio lives e podcasts, mas graças a Marília Rosado Maia, ontem eu vi a segunda live de Alceu Valença. Esse homem é um artista, daqueles que exemplificam até a uma criancinha o que é ser artista. Alceu , da velha geração, um dos precursores da música popular e de shows, é um compositor, um ser humano, um ser cultural totalmente ambientado no tempo atual com sua cabeleira quase branca, suas rugas faciais, seu jeito de contar estórias do passado.

Onde Alceu se mostra mais contemporâneo (ou bem à frente dos novos) é na pureza da alma, na transparência, na genuína criação.

Um artista de multidões, cantou durante três horas, na sala de casa, com seus amigos, seu parceiro musical o genial guitarrista Paulinho, numa intimidade familiar que arrebatou mais de 33 mil internautas.

Num cenário doméstico – o nome da live era AlceunaToca – percebia-se a beleza monocromática do ambiente, o permanente contato do artista com o invisível grupo de apoio e sua estonteante espontaneidade que faziam o internauta querer estar lá fazendo parte daquela reunião de amigos.

Não há microfones auriculares, não há gestos ensaiados, não há atmosfera de produção. Houve, sim, a demonstração de que Alceu faz música de alta complexidade (letras, arranjos, melodias e sua ligação íntima com cada uma) dentro de uma desconcertante simplicidade.

Ao remeter seu pensamento voador a São Bento do Una, sua terra, brindou-nos com uma estória de pureza: era tempo do homem na lua e seu tio Lívio, médico da cidade, insone pela façanha, saiu a passear na praça do lugarejo.

Ao se deparar com o guarda noturno – que segundo Alceu, não tinha função porque não havia violência no lugar – perguntou-lhe se vira as imagens da lua na tv e o guarda lhe respondeu que não acreditava naquilo: “se ele morasse na lua e tivesse vindo pra cá eu acreditava, porque de ladeira abaixo era mais fácil”.

Há muito tempo meu coração não se alegrava tanto. E encerro com a placa na parede da sala onde se lia ” Alceu Dispor”, gravada na minha memória.
Obrigada, Marília.

* Albiege Fernandes é jornalista e diretora da EPC – Empresa Paraibana de Comunicação e da Rádio Tabajara



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