Geral

NAS NUVENS


05/07/2011



 Para Ângela Navarro (Inha), a aniversariante do dia e minha amiga querida.

Vinha voando no meu carro quando vi pela frente…Elba Ramalho cantando Cucucaia, de Kátia de França. Viajei para Baía Formosa nos anos 80´s. Aí, depois de cruzar os pardais, entra Erasmo Carlos numa tremenda interpretação de Pessoa Nefasta, anunciada por Cristóvão Tadeu, na Rádio que toca música da Paraíba! Resultado? Vento na cara, e no meu carro é vermelho, vim em estado de Puro Êxtase, pela BR 102, lembrando de Tony Tornado e sua dança robótica tão atual.

Em um outro momento, num sábado, fui como de costume, à feirinha de Tambaú. E por entre mangabas e pau de canela, encontro Durval Paraí´wa fazendo pesquisa sobre selos verdes, etc…Palmari falou que gostou do meu chapéu! Chovia, e tirei o charmoso acessório da accessorize! E cantarolando fui achando o dia lindo, mais que lindo. Fiz um pit stop no Boteco, e em frente ao mar de Manaíra, sozinha e desacompanhada, tomei uns chopps de olho no horizonte. Porque hoje é sábado!

Chegando em casa, entro no Facebook, e no grupo Fundo do Baú, emudeço: posts de Batmasterson, Richard Chamberlain e Candelabro???, e a música Venus. Liguei a TV, e o Arquivo N falava dos festivais, com Maria Alcina cantando Fio Maravilha para um Maracanãzinho eufórico. Vieram os tempos dos Festivais na cabeça, estou com o filme na gaveta, um presente querido, que por razões da tecnologia ainda não vi – Uma Noite em 67, mas confesso que estou até receosa de ver. Sei que vou chorar muito, dos meus tempos de olho grudado em Ponteio, em Sabiá, em Alegria Alegria,e Domingo no Parque, e todo o meu fascínio por esse evento que me marcou à infância e adolescência. O poder da música, nos levando aos tempos da memória.

Mas, com os pés bem fincados ao chão, eis que recebo uma proposta indecente: “Ana vamos colocar seus arquivos nas nuvens?” E eu, tão acostumada com tudo à mão; e eu tão asostumbrada às pastas amareladas; e eu tão dependente de tags, de caos, de folhas, e de papéis, eis que vou ter que me adaptar com tanta inefabilidade… com tanto cabelo de anjo (não o macarrão, mas a imensidão dos céus). Como reprogramar minha des-organização já tão vigente, em caos aéreo, sem que haja nenhum vulcão e suas fumaças cinzentas por perto.

E nesse estado Abensonhada, ontem vi José Eduardo Agualuza no programa Roda Viva, e adorei vê-lo falando de Angola, da magia de sua literatura, do mercado editorial, da importância de Jorge Amado nos leitores de língua portuguesa. E arrematou sua Viva Roda dizendo que hoje, as mulheres lêem mais que os homens. Antes, num outro evento, dessa vez com João Batista de Brito na livraria Leitura a falar de cinema e literatura, bons papos, boas trocas, e café com várias amigas que em plena terça à tarde, gargalhavam com as belezas e o ócio criativo. Ócio esse que se estendeu numa outra noite, com direito a saches, bordados e poesia.

E ainda na TV, no programa Saia Justa, as participantes, junto com o jornalista Xico Sá, que depois de todo o meu pré-conceito, aprendi a gostar de seu jeito desajeitado para falar de mulheres, comportamento e outras coisas, veio a pergunta : para onde você gostaria de voltar no tempo, numa alusão ao novo filme de Woody Allen “ Meia Noite em Paris”, que os cinema locais teimam em não estrear. Xico Sá queria voltar à St. Tropez, com Brigitte Bardot no colo no filme: E Deus Criou a Mulher; Tetê queria voltar aos anos 80, com Cazuza e o Circo Voador. Camila Morgado, queria ficar nua por três dias em Woodstock, e Monica Waldvogel sonhava em estar em Londres nos anos 70. Na minha Saia Rodada particular (minha cama Queen), e meus pensamentos sombrios e gritantes…., não pude deixar de me ver uma felizarda: não tive idade nem tempo para Brigitte em Cannes..; mas vivi experiências no Woodstock Tupiniquim por aqui mesmo, sem ficar tão nua é verdade; Circo Voador curti com Arrigo Barnabé e Rita Lee e sua Babilônia querida: Eu , uma ovelha negra e desgarrada!; e curti Londres nos anos 70, com direito ao Markee, cantarolando London London nas estações de Metrô, e principalmente em Notting Hill, sem ser Julia Roberts nem nada. Mas bem que tive meus delírios nas livrarias pequenas; por entre os antiques das barracas; nos vestidos indianos bordados de Carrel; nos temperos ao Curry; e nas pupilas dilatadas com a atmosfera de lugares assim que somente Londres tem. Comprei maquiagem da Mary Quant e usei mini-saia com meia arrastão! Um deleite fashion! Enfim, fiquei a viajar pelos “meus lugares” e se, pudesse fazer como uma cinderela em sua abóbora viajante , transgredindo o tempo e o espaço, como o personagem de Allen re-visitando a Paris dos anos 20, acho que queria uma dose extra de anos 70, e tudo aquilo de extravagante que pude viver, de dores e delícias. E se for medir, acho até que teve muitas dores, mas sem perder a delícia jamais!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa 5 de julho de 2011



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