Celebridades

Lucy Alves fala sobre desafio de ser protagonista em “Travessia” e elogia parceria com Rômulo Estrela

Em entrevista à Vogue, a atriz fala sobre o papel de Brisa em "Travessia", sua primeira protagonista que é vítima de deepfake, comenta as cenas de linchamento e os bastidores das gravações com Chay Suede no Maranhão


26/10/2022

Lucy Alves fala sobre Travessia (Foto: Divulgação | @jonathanwolpert (@monstermovieph)

Vogue



Enquanto as mudanças bruscas e repentinas marcam o caminho de Brisa a cada capítulo de “Travessia”, Lucy Alves, por sua vez, lidou com uma extensa passagem do tempo desde que recebeu o convite para viver sua primeira protagonista na novela das 9. Com o avanço da pandemia, os planos de gravação foram interrompidos, e Lucy navegou por outras produções, como a novela “Amor de Mãe”, em que viveu a Lourdes na primeira fase, e o misterioso “The Masked Singer Brasil”, como a Leoa.

Para Vogue, a paraibana confessa que esse tempo de espera foi um grande laboratório da vida real para entrar na pele de Brisa. “Ela veio numa hora muito certa de maturidade pessoal para contar essa história com tantos dramas sérios. Talvez, se tivesse acontecido antes, eu não pudesse emprestar à personagem a carga emocional que hoje posso oferecer”, aponta a atriz sobre a sua quarta novela dentro de uma carreira artística musical.

O pertencimento enquanto atriz é construído diariamente e ganha um ritmo ainda mais intenso com os encontros por trás das câmeras. Os intervalos entre uma gravação e outra no Maranhão, cidade natal de Brisa, eram com banho de mar e passeio de quadriciclo com Chay Suede, que interpreta Ari, e conversas com Camila Rocha, a Tininha, para “criar memórias”, como descreve Lucy.

A entrega da atriz é reconhecida pelo público e pela crítica, principalmente nas últimas semanas com as cenas de Brisa sendo linchada após ser acusada de tráfico de crianças. Por conta do crime virtual de deepfake, em que imagens e sons são alterados propositalmente, a personagem foi parar atrás das grades no Rio de Janeiro, perde o contato com filho, o Tonho (Vicente Alvite), e o parceiro Ari (Chay Suede).

Em entrevista exclusiva, Lucy fala sobre suas expectativas para a nova fase da personagem, o motivo por manter sua vida pessoal mais protegida dos holofotes e a relevância de ser uma mulher negra, nordestina e bissexual como protagonista da novela.

Qual a primeira lembrança que você tem com o Maranhão e como essa relação foi se estreitando com o público de lá?

Já tinha ido para o interior do estado, em Pedreiras, com o grupo de forró da minha família, o Clã Brasil, mas nunca tive oportunidade de ficar em São Luís. Depois de conhecer a Thaynara OG [influenciadora maranhense], participo de todas as edições do São João da Thay e, com isso, comecei a conhecer mais de perto a cultura, ver apresentações de Boi de Tambor, artistas locais e ver a preciosidade e as particularidades do estado de perto.

Nunca imaginei viver uma maranhense, mas estou feliz, principalmente, pelo acolhimento das pessoas de lá. É um desafio, por exemplo, falar corretamente como eles, que seguem a gramática e usam bastante o “tú”, mas ao mesmo tempo trazem expressões bem características, como “égua” e “mermã”. Então, tem essa preocupação para parecer o mais local possível.

Na novela, a Brisa é uma vítima de deepfake. Como foi a preparação para gravar a cena do linchamento que ela sofreu?

Eu vi alguns vídeos e tentei me colocar no lugar da pessoa. O mais legal dessa profissão de atriz para mim é quando você realmente consegue outrar, como dizia Fernando Pessoa. Ou seja, ser outra pessoa. Então me permitir ser impactada por essa sensação de uma multidão em cima de mim, me xingando e tentando realmente me bater foi essencial. 90% das cenas gravei sem dublê, porque queria passar o máximo de verdade possível. Não foi fácil, mas de certa forma consegui transmitir esse medo e agonia. Deepfake é uma coisa muito grave, então é essencial mostrar isso no horário nobre.

O ponto forte dessa personagem é a bondade que ela carrega no coração, mas que não é nada boba. A Brisa foi criada na rua, é sagaz, sabe se virar desde criança, porque nunca esteve na posição de filha. Assim como acontece aos montes na vida real, ela foi atacada sem ter feito nada por conta de uma fake news e ainda vai presa. Quantas pessoas não são presas injustamente? Então, é um drama que não é só ficção, isso acontece toda hora. Somos um país que ainda está aprendendo a lidar com crimes virtuais.

Tem algum spoiler que você pode adiantar sobre as próximas cenas da Brisa?

Ainda não sei a trajetória da personagem por completo, mas vejo que a luta vai ser para ela retomar a dignidade. Quando ela voltar para o Maranhão, as coisas não vão ser as mesmas, as pessoas vão falar, então será uma grande luta para recuperar tudo isso.

Sobre os bastidores, tem algum ator com quem você estreitou ainda mais a relação durante as gravações?

Para mim, foi importante ter ido ao Maranhão. Pude me conectar bem com o Chay, já que passamos o dia juntos com elenco e produção tomando banho de mar e andando de quadriciclo no tempo livre. Essa vivência foi massa para trocar ideia, se conhecer, construir intimidade, criar memórias e levar isso para os personagens. Além disso, me conectei muito com a Camila Rocha, que viajou comigo para Alcântara, a Drica Moraes, que é muito parceira, me dá dicas nos bastidores. E agora o Rômulo Estrela [que interpreta o hacker Oto], que é muito querido, um príncipe e está dando liga.

A música sempre fez parte da sua formação pessoal e, inclusive, acadêmica. Em algum momento, a dramaturgia também deu indícios que poderia ganhar essa proporção que tem hoje na sua carreira artística?

Nunca tinha pensado em atuar. Em João Pessoa, tinha uma intensa atividade musical, estudei múica na Universidade Federal da Paraíba, meus amigos eram todos desse universo, ia para o bar para dar canja, tive grupo de reggae, de choro e forró. Mesmo que não tenha estudado artes cênicas, a música facilitou minha adaptação na dramaturgia.

A Brisa veio numa hora muito certa de maturidade na minha vida para conseguir contar essa história com tantos dramas sérios. Talvez, se tivesse acontecido antes, eu não pudesse emprestar à personagem a carga emocional que hoje posso oferecer. Quero estudar e me aprofundar ainda mais, porque olho para essa profissão agora com outros olhos. Realmente quero cantar e atuar. Antes, era só a música no meu primeiro plano, mas a atuação, mesmo sendo recente, não é menos importante.

Como foi a sua infância e adolescência em João Pessoa? Quais são as suas lembranças daquela época?

Sempre fui muito criativa e fiz coisas fora da caixinha para uma menina, que brincava muito no interior e cresceu em João Pessoa. Nunca quis instrumentos convencionais, preferia, por exemplo, contrabaixo acústico. Sempre inventa brincadeiras e isso carrego até hoje, claro, de forma mais madura, mas essa criança está sempre viva dentro de mim e querendo aprender. Minha família já via esse lado e incentivava, principalmente meu pai, que me animou para participar do The Voice e disse que tinha certeza que daria certo. Hoje consigo acreditar em mim e sentir orgulho.

Você é uma pessoa mais reservada nas redes sociais. Com o “The Voice”, as novelas, o “The Masked Singer”, a visibilidade que a televisão proporciona te assustou em algum momento? Como costuma lidar com isso?

Sou uma pessoa cada vez mais reservada, porque escolho com quem e onde vou gastar minha energia. Vivemos em um mundo tão caótico e de cobranças, que tento me proteger do jeito que dá. Mas, claro, que não dá para me esconder e nem quero, porque gosto de gente, de sair na rua, conversar e tirar foto. Quando isso acontece com carinho, sempre paro e penso em como é uma troca maneira, porque não teria graça fazer isso tudo sem comemorar e compartilhar.

Como uma mulher negra, nordestina e bissexual, você carrega batalhas dentro da sociedade em que vivemos, infelizmente. O que ou quem te dá força para seguir o seu caminho?

Sabemos que o mundo não é justo para muita gente, mas acredito muito no trabalho e na honestidade. Quando temos um objetivo e seguimos sem desrespeitar o outro, acredito que uma hora tende a dar certo. Por movimentar essa energia em mim, atraio pessoas na mesma vibração. Não conheço ninguém no meio, então se estou aqui construindo essa história é porque eu acredito nessa premissa.



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