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Grupos de caciques políticos tentam se reinventar para manter poder nos estados

Quadros


18/10/2014



 As eleições de 2014 resultaram, de um lado, em tentativas frustradas de alguns clãs históricos da política nacional manterem-se no poder em estados como Maranhão, Pará, Bahia e, de outro, pela renovação de quadros em estados como Alagoas. Cientistas políticos acreditam que o nível de escolarização e o maior debate político tem dificultado a vida dos tradicionais caciques da política.

A situação mais emblemática desta dificuldade vem sendo enfrentada no Maranhão, onde o ex-presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) Flávio Dino derrotou, no primeiro turno, o candidato da família Sarney Lobão Filho, por uma diferença de 1 milhão de votos. Foi a primeira vez que a família Sarney perdeu uma eleição em primeiro turno para um candidato da oposição, ainda mais tendo como suporte a máquina administrativa.

Na Bahia, a família de Antonio Carlos Magalhães, representada por ACM Neto, também não conseguiu eleger seu aliado, Paulo Souto (DEM), em primeiro turno. Até logo antes das eleições, imaginava-se que a disputa na Bahia, ao menos, iria para o segundo turno. A corrida terminou com vitória do ex-deputado federal Rui Costa (PT). Em julho, Costa tinha apenas 8% das intenções de voto e conseguiu reverter um cenário em que Souto aparecia, na época, com 42% das intenções de voto.

No Pará, a família Barbalho tenta emplacar o filho do senador Jader Barbalho (PMDB), Helder Barbalho, no governo do estado. Ele disputa o segundo turno contra o atual governador paraense, Simão Jatene (PSDB). A única vitória dos clãs estaduais, até o momento, foi em Alagoas: Renan Filho (PMDB), filho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB).

Na Bahia, com a derrota de Paulo Souto, a esperança do Carlismo reside no próprio ACM Neto, atual prefeito de Salvador, que deve se candidatar à reeleição em 2016. A aliados, conforme o iG apurou, ele tem como principal plano político candidatar-se ao governo do Estado da Bahia e retomar o poder da família perdido em 2006. Na época, o Carlismo sofreu com as derrotas do mesmo Paulo Souto, no governo estadual, e de Rodolpho Tourinho (DEM).

Mas ao contrário de ACM, o seu neto, é considerado um político mais pragmático. Tanto que chegou a fazer alianças, inclusive com o PT, em prol da administração em Salvador. Mas, nos bastidores, fala-se que a trégua deve acabar nos próximos anos, já que ACM Neto deixou clara a sua intenção de disputar o governo, inclusive contra o próprio PT, caso Rui Costa tente a reeleição. ACM Neto é tido como o único nome remanescente da ala política do clã Magalhães na Bahia.

Leia também: Flávio Dino (PC do B) vence no MA e impõe derrota histórica ao clã Sarney

Na Bahia, acredita-se que ACM Neto terá condições de chegar ao governo porque seus principais adversários em 2014 tiveram derrotas inesperadas, como Geddel Vieira Lima (PMDB), que perdeu a disputa ao Senado, e Lídice da Mata (PSB), candidata ao governo do Estado. Os dois eram apontados como grandes adversários de ACM Neto em 2018, caso conseguissem bons resultados em 2014. Além disso, na Bahia acredita-se que ACM Neto poderá vir forte nas próximas eleições, caso ocorra uma vitória de Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial deste ano.

No Maranhão, a derrota para a oposição deixou a família Sarney sem um representante de fôlego para os próximos anos. A atual governadora, Roseana Sarney (PMDB), é tida como a única que pode fazer frente à oposição. Tanto que uma aposentadoria tida como certa, hoje já é reavaliada pelo clã. A ideia dos Sarney, a princípio, é que Roseana dispute a Prefeitura de São Luís, em 2016, para tentar voltar ao governo em 2018 ou 2022.

Do outro lado, familiares próximos a Roseana querem que ela deixe de fato a vida pública e assuma uma posição no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Fora Roseana Sarney, o clã Sarney tem apenas mais dois representantes, mas ambos sem expressão política para cargos executivos: Adriano Sarney (PV), recém-eleito deputado estadual, e Sarney Filho (PV), deputado federal que nunca disputou um cargo executivo.

Já no Pará, a família Barbalho tenta retomar o governo estadual com a disputa de Helder Barbalho, filho de Jader. Ele foi prefeito de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, por dois mandatos, e tenta agora tomar o governo do estado. Durante a campanha, temendo a rejeição do pai, evitou usar Jarder como cabo eleitoral. Preferiu colar no ex-presidente Lula, que inclusive fez campanha para o aliado nesta semana, no Pará. Se Helder Barbalho conseguir vencer as eleições no Pará, a família conseguirá voltar ao poder, algo que não acontece desde 1994, quando Jader deixou o governo para a assumir uma vaga no Senado.

O historiador Wagner Cabral, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), estudioso desses grupos no Brasil, afirma que ainda é difícil dizer se a queda da família Sarney no Maranhão é definitiva. “Como todo processo histórico, ainda é cedo para falar se esse processo é definitivo. Até porque os Sarney ainda mantém partes significativas de seu poder de influência, como o controle dos meios de comunicação”, pontua Cabral. “Temos que observar que outros grupos, de outros estados, retomaram parcialmente o poder, como o caso dos ACM na Bahia e Collor de Mello. Quem diria que Collor, depois de ser expulso do governo retornaria ao Senado com votações expressivas?”, pondera o professor.

Já o cientista político Paulo Fábio Dantas, da Universidade Federal da Bahia, afirma que, no caso do clã criado em torno de ACM, não houve necessariamente uma derrota de ACM Neto e sim uma vitória do PT. Mas o professor afirma que a perda de influência dos Magalhães na Bahia é fruto mais da perda de conexão com o governo federal a partir de 2006.

“O papel que ACM teve na Bahia não foi oligárquico, foi de modernização conservadora. Ele estava do outro lado do balcão nas relações com os grupos oligárquicos tradicionais”, analisa o professor. “O poder longevo do Carlismo na Bahia até 2006 deveu-se principalmente ás suas alianças nacionais com os grupos governantes no plano federal”, pontuou. “Wagner teve uma vitória inegável… Soube trabalhar com eficácia a tradicional vocação governista do eleitorado baiano e conseguiu eleger um candidato obscuro graças à impossibilidade da oposição (Paulo Souto) em encontrar um candidato que expressasse uma autêntica opção de mudança”, analisou o professor baiano.

O professor pondera que as derrotas de grandes grupos são questões circunstanciais. “Assim como há circunstâncias específicas do Carlimos na Bahia, em Alagoas, no Maranhão ou em qualquer estado brasileiro, seja de que região for, haverá explicações ligadas à realidade de cada lugar (para a derrota de alguns grupos políticos”.



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