Política

Governadores vão à Brasília para tentar barrar teto de ICMS de energia e combustível no Senado

Estados apresentarão aos senadores uma conta que mostra impacto de R$ 64 bilhões de perda de arrecadação com projeto que deve ser votado hoje pelos deputados


25/05/2022

WSCOM com Estadão

Com a perspectiva de aprovação do projeto que fixa um teto de 17% para a cobrança do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica pela Câmara, os governadores traçaram uma estratégia para abrir diálogo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na tentativa de barrar a votação do projeto na Casa, ou até mesmo no Supremo Tribunal Federal (STF), e estimam uma perda de quase R$ 70 bilhões na arrecadação de Estados e municípios por ano.

A negociação na Câmara para a inclusão de um gatilho temporário de seis meses para que a União compense os Estados por eventual perda de arrecadação com o ICMS não resolve o problema, na avaliação dos secretários de Fazenda.

Caso a medida receba o aval dos senadores também, os Estados vão trabalhar para adiar a entrada em vigor da nova alíquota. Em reunião virtual do Fórum dos Governadores, realizada na segunda-feira, 23, para discutir a votação do projeto, uma das propostas apresentadas foi buscar o apoio do Colégio dos Procuradores-Gerais dos Estados para judicialização da matéria com base em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) que fixou para 2024 a entrada em vigor de uma decisão da Corte que considerou a energia elétrica um bem essencial e que, portanto, o ICMS não poderia incidir com as alíquotas mais elevadas.

Os governadores também estudaram a possibilidade de o Comitê de Secretários de Fazenda dos Estados (Comsefaz) elaborar uma nova proposta de convênio para a regulamentação da lei que fixou uma alíquota uniforme do ICMS do diesel. A regulamentação feita pelos Estados é alvo de uma ação da Advocacia-Geral da União (AGU).

Pelos cálculos dos Estados, o congelamento do preço dos combustíveis, medida adotada desde novembro de 2021, gerou uma perda de R$ 16,1 bilhões, com previsão de alcançar R$ 37 bilhões até o fim do ano.

Gatilho

Para facilitar a aprovação da proposta, principalmente no Senado, líderes da base governista propuseram que a União compense os Estados quando a perda global de arrecadação com o tributo for superior a 5%.

Com a negociação, o relator do projeto de lei complementar, deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), incluiu em seu parecer preliminar um gatilho temporário que poderá ser acionado pelos Estados para que eles sejam compensados por eventual perda de arrecadação com o tributo.

“Estão perdidos. A ideia do tal gatilho é outra esquisitice. É um recibo do tamanho de um bonde mostrando que o texto todo é um grande equívoco”, disse o secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. Para ele, a proposta é  “remendo novo em tecido velho. “Não resolve nada e ainda cria complexidade. ICMS é matéria estadual. Só o Senado é que, sim, tem certa ingerência, mas apenas nas alíquotas interestaduais”, ponderou.

Na sua avaliação, o projeto não tem salvação e o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) está sendo desrespeitado.

Os Estados defendem o uso dos dividendos recebidos pelo governo do lucro da Petrobras para bancar um subsídio transparente para mitigar o impacto dos preços altos . Para Salto, o governo pode fazer um crédito extraordinário, fora do teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação), para bancar esse subsídio diante dos efeitos da guerra da Rússia com a Ucrânia. “É a União quem mais ganha dividendo com os preços altos”, disse.

De acordo com o Estadão, entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos.

Fórum dos governadores

Em nota, o Fórum Nacional de Governadores publicou nesta quarta-feira uma ata da reunião extraordinária do dia 23, que ocorreu de forma virtual para debater o projeto do teto do ICMS. O documento aponta que os governadores vão promover a “abertura de diálogo com o Legislativo Federal, sobretudo com a Presidência do Senado , tendo como propósito tratar dos efeitos deletérios da eventual aprovação do PLP 18/2022, do interesse dos entes subnacionais na aprovação do PL 1472/2021 (fundo de estabilização dos preços dos combustíveis) e de uma Reforma Tributária ampla”.

Os governadores também reconhecem a opção jurídica. “A partir de estudos e apoio do Colégio dos Procuradores-Gerais dos Estados e do Distrito Federal – Conpeg, judicialização da LC 192/2022 e, caso aprovado, do PLP 18/2022, para a qual se buscaria respaldo na jurisprudência do STF, que modulou para 2024 os efeitos de decisão em matéria semelhante. E Elaboração pelo Comsefaz de alternativa que possa atender aos interesses dos Entes Federados, objetivando retirar de pauta a discussão em torno do PLP 18/2022, em tramitação na Câmara Federal”, conclui a ata da reunião dos governadores.



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