Geral

…E Viva os Noivos!


04/05/2011



 Quero comer bolo de noiva,
puro açúcar, puro amor carnal
disfarçado de corações e sininhos:
um branco, outro cor de rosa,
um branco, outro cor de rosa

(Confeito, Adélia Prado)

Claro que o assunto da semana (antes da beatificação do Papa e da morte de Osama Bin Laden) foi o casamento do Príncipe e da plebéia Kate. Eu, como 2 milhões e meio de pessoas no mundo, fiz parte da platéia, em busca do beijo (muito fraquinho…) no balcão dos personagens do nosso mundo literário e imaginário: Romeu e Julieta.

Acordei mais cedo para ver ao vivo. Como não lembrar do mesmo evento, quando casava Diana, com suas mangas bufantes, para anos mais tarde também acompanhar sua luz apagar num final de túnel. Fiquei de mal de Charles e Camila, não pelo título de realeza de Duqueza da Cornualha (no Brasil fazem piada, mas como conheço a região, uma das mais lindas da Grã Bretanha, esse título não me incomoda), mas pela falta de lealdade de pessoas adultas .

Gostei de ver a festa em London London. Principalmente a festa de rua. A festa daqueles que celebram a não-festa também. E o coroinha dando cambalhotas-estrelinha pelo tapete vermelho da Abadia; um guarda que endoidou para viver seus 15 minutos de fama globalizada. Teve lugar para todos em Trafalgar Square. E quanta imponência na Abadia de Westminster! A arquitetura gótica, as árvores verdes ao invés de flores, o buquê da noiva, singelo, confeccionado diretamente da tradição real de flores que simbolizam os países da coroa britânica, incluindo a murta, que é retirada da mesma árvore plantada na Ilha de Wight pela própria rainha Victória em 1845. Uma florzinha especial de nome Sweet William – How Sweet!; a tiara translumbrante da Rainha-Mãe (como não lembrar da atriz Helen Bonham Carter, no filme O Discurso do Rei); as anquinhas no vestido de Sarah Burton – (criatividade pelo rigor de alfaiataria),do ateliê de Alexandre McQueen – uma bela homenagem ao enfant terrible da moda Inglesa; a bolsinha indefectível da Rainha e a curiosidade das mulheres em sabe o que teria naquele acessório; o seu broche belíssimo que tinha o nome sugestivo de: True Lovers (Amantes Verdadeiros); o olhar translúcido da noiva, seus cabelos soltos (transgredindo às regras e tradição); o olhar tímido e apaixonado do noivo, vestido com uniforme de gala da Irlanda, a exclamar para a noiva quando tirou o véu: Você está linda!; as palavras belas do bispo a falar de respeito ao invés de obediência, e a citar versos de Chaucer, e eu a viajar na catedral de Canterbury!

Palmas também para as homenagens à Lady Di: o anel azul, a visita ao seu túmulo no dia das núpcias, Elton John, e os Hinos de celebração e luto, tudo misturado, afinal festa, vida, morte, onde estão mesmo os limites? E os Rolls Royces? E as Fanfarras! E os sinos – Por quem os sinos dobram?; E a morada dos pombinhos? North Wales, ouvi muitos comentários de brasileiros que não entendem como pode o casal suportar o isolamento. É uma geografia diferente. Os carneiros, landscape, os cliffs, as gaivotas, e o helicóptero no jardim esperando para qualquer voozinho básico para um pub e uma lager qualquer. A princesa sabe o que quer e como todos comentaram , tem personalidade e vontade própria. E sua cauda de somente 2 m e pouco… e a grinalda simplérrima, deram o tom da sua consciência à atual conjuntura econômica do seu país.

E os chapéus? Uma viagem à parte. O de Victoria Beckham tinha o nome de Daffodils! Florzinha que anuncia a primavera explorada nos poemas de Wordsworth. Cada Fascinator! Nunca soube o nome certo desse acessório. Descobri! Já usei um, no casamento da educadora Márcia Lucena com Nanego Lira, em pleno meio dia, na granja do Conde. Um fascinator bege! Eu e minhas modas de Camden Town! Longe da Realeza , of course! Mas os trajes das primas malditas de William, Beatrice e Eugenie, apesar de serem de autoria de Vivienne Westwood, pareciam as irmãs da Rainha Má…Acho até que elas fazem de propósito. Falem mal, mas falem de mim. Aí sai tudo nos tablóides, The Sun, com direito a foto, flor e feitos. Também cantei o Hino de Gales, em um casamento mais plebeu…, o da minha irmã Teca, em Bridgend, há 25 anos atrás. Com discurso também, que não era do Rei, mas tive direito à uma cronicazinha de irmã, exigido pela minha própria pessoa, rompendo também as tradições seculares.

Impressionou-me um certo pajem, o único de cabelos pretos, neto da babá de William, e que depois no balcão, ironicamente se posicionou junto da Rainha Elizabeth, e sem cerimônia nenhuma…conversava amenidades frente à um público eufórico God Save the Queen.

Fiquei atônica diante das regras: não poder chorar em público? Tai, tá explicado o por quê de eu não posso ser princesa! E não comer camarão! Nem pensar! E adorei o carro conversível com viva os noivos alegremente na saída surpresa. O último gole com certeza ficou para Príncipe Harry, e quem sabe Pippa Middleton! Muito elegante para meu gosto.

Fico a pensar como será a vida de Kate daqui prá diante. E por maior que seja o amor, que eles consigam ser companheiros, e que nem de longe ela sinta o fantasma da monotonia dos casais, dos personagens de Virginia Woolf, de Flaubert (Madame Bovary), de Susan Glaspell (Triffles), de Charlotte Perkin Gilman (The Yellow Wallpaper); de Dóris Lessing (To Room 19), e de alguns contos de Clarice Lispector, só para citar alguns, reforçando a tese de Woolf de que, o casamento é muito bom, mas para os homens. Como já atravessamos o século XX, tomara que William & Kate, possam ser o porta voz de uma nova monarquia e de um amor menos romântico e mais conciliador.

E Viva os Noivos! Saindo diretamente da Clarence House, num certo Aston-Marin conversível, com toda a corte acenando com bandeirinhas e votos de um Happy End. Não é mesmo para isso que servem os Contos de Fadas?

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa 02 de Maio , 2011



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