Geral

D. Regina: De Pérolas & Pitangas


22/03/2011

 Ontem, vestida nas suas derradeiras vestes, com batom cintilante rosa e raminho de Muguet na fronte, D. Regina Pitanga mostrou a sua última e eterna elegância. Até nesse último suspiro, soube ela ser diferenciada dos pobres mortais, com a sua singela e nobre tão comentada elegância.

E aí se constata que, elegância é algo que transcende às vestes e à vida. Quem tem, tem; quem não tem não tem , nem se aprende. Ou melhor, se aprende, mas é uma elegância diferente, que passa pela cultura. A elegância de .D. Regina era da sua mais profunda natureza. Mas ontem, durante o encomendar das almas, o padre, a dizer-lhe as últimas bênçãos, mencionou repetidamente, a sua graça. E fiquei a matutar. Graciosidade era a sua questão!

Minha irmã Bebé, resgatou os tempos da adolescência em que junto com Ziza e a turma das Lourdinas, adorava ser levada por um certo Dodge, com D. Regina na direção. Moderna D. Regina! Mas sobretudo acolhedora e generosa. E o que não deve de ter feito, na trajetória dessa filha mais que querida, e das netas igualmente amadas, Camila e Andréa.

Quando a conheci, tive a satisfação de vê-la na intimidade, de bermudas e ciscador em punho a pinçar as sujeiras da piscina, provavelmente deixadas por nós rebeldes de tantas festas e farras, na sua casa sempre aberta aos amigos dos filhos. Tive fazendo umas contas, e naquela época, D. Regina era talvez até mais moça do que eu sou agora, e confesso que, eu, no seu lugar, não teria tanta paciência com tanta anarquia e invasão à sua intimidade. Ou ainda num quarto que era também sala, e ela, na sua rede, via tv, conversava, e cuidava da casa, com seus dotes e talentos domésticos também. Até hoje, quando vou na Cedrul (que um dia foi sua casa, desbravando a Av. Rui Carneiro), enquanto me aflijo nos ultra-sons da vida, o filme passa pela cabeça, e ouço e vejo também uma outra radiografia: a de Lucas pequenininho correndo pelas bordas daquela piscina; ou ainda de um aniversário de três aninhos, que ela organizou, enquanto eu, me dava ao luxo e oportunidade de fazer Mestrado fora do país. Nunca esquecerei o seu acolhimento nos momentos difíceis, e de um certo Natal, onde até a sua cama me ofereceu, para que eu e meu bebê, tivéssemos uma noite digna do menino Jesus.

Anos passaram, e nunca nos perdemos de vista. Telefonemas, mimos, conversa vai, um café no shopping, novidades. Nosso último papo, foi no meu aniversário em janeiro, quando falei de pintura de casa, poeira, faxina, e ela prontamente sugeriu: “Me convide para ver sua casinha toda pintada”. Planejava convidar-lhe para esse café, D. Regina, mas não deu tempo. A vida nunca dá tempo!

Tenho queridas lembranças de Água Fria (que desde os tempos de menina ouvia meu pai falar da amizade das famílias Peixoto e Guedes Pereira); de D. Alzira e Praia Areia Dourada; de Ziza grávida de Camila e nós tricotando sobre bebês a bordo; dos casamentos de princesas que fui sempre convidada; da recepção de Gilberto Freyre & Madalena, em Apipucos, sob condições tão adversas, mas com direito a figos frescos; e do seu tão sempre gentil interesse pelo neto: Como vai Luquinha?

Sei que muitos lhe achavam de aparência frágil, mas bem sei da sua bravura, das suas circunstâncias, e como , através do amor, teve a sabedoria de transformar e transcender essas mesmas circunstâncias. Sei também que, o que aquieta o coração dos órfãos é saber que: a Senhora viveu bem, viveu muito, e deu e recebeu muito amor.

E os céus estão em festa! D. Alzira vó, D. Marta, D. Natália, D. Madalena,e claro, meu pai, que queria muito bem aos seus, devem de estar jogando pétalas, assim como também jogamos, para abensonhar à sua chegada.

Guardarei a lembrança de uma mulher que apreciava as artes, a cultura, e a graça. A graça do bem viver. De bermudas ou colar de pérolas. Como a graça e o carinho de ser também a avó do meu filho querido.

E D. Regina encantou-se!

(A Fred, Marcelo, Ziza, Camila, Andréa, Lucas, Davi, Marcelinho, Pedro e familiares, as minhas mais sinceras condolências) .

Ana Adelaide Peixoto, João Pessoa, 11 de março, 2011



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //