Educação

Custos durante graduação em medicina podem passar dos R$ 700 mil

Gastos


21/07/2013

 Uma das profissões mais almejadas pelos estudantes no Brasil, a medicina também é aquela que se destaca quando o assunto é dinheiro. Não só pelo senso de que o médico irá ganhar muito bem em sua carreira, mas pelo status que a profissão oferece na sociedade. O curso costuma ser frequentemente o mais concorrido nos vestibulares para as 201 faculdades de medicina no País.

Porém, para chegar até lá, é preciso, em média, cerca de dez anos de estudos, entre cursinhos preparatórios, a faculdade e a residência médica, uma das especializações profissionais da categoria. Este tempo pode aumentar caso o programa Mais Médicos, proposto recentemente pelo governo federal, seja aprovado. Pelo programa, os estudantes terão de atuar durante dois anos, além dos seis da graduação formal, de maneira obrigatória no SUS (Sistema Único de Saúde).

Entre os custos, apenas para se formar em na faculdade, o estudante pode desembolsar até R$ 721.500 se optar por realizar o curso em uma universidade em São Paulo. Na maioria dos casos, quem arca com este custo diretamente não é o aluno, lembra o professor Joseph Elias Benabou, médico do Hospital das Clínicas, ligado à FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

— O aluno de medicina custa caro para a família [dele], porque ele ficará estudando em tempo integral durante todo este tempo. O que é que ele vai comer? E o transporte? E se ele namorar? Ele vai sair com a namorada para comer cachorro-quente? Ele é um aluno que custa para a família e esta tem de sustentá-lo.

Sobre custos com materiais de apoio, como livros, estetoscópio, aparelho para medir pressão, jalecos etc, este total não chega a ser tão impactante, relata o professor.

Classes A e B

O médico e professor José Eduardo Lutaif Dolci, diretor do curso de medicina da FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), destaca que alunos com menor aporte financeiro enfrentam mais dificuldades para se manter no curso.

— Os alunos da Santa Casa são alunos de classe média para alta. Um aluno de classe C ou D dificilmente consegue [se manter na faculdade]. Porém, com as atuais políticas, como auxílio, financiamento, acaba facilitando um pouco mais.

Dolci também lembra que das 110 vagas abertas anualmente no curso de medicina, uma parte é reservada a bolsistas do ProUni (Programa Universidade para Todos), do MEC (Ministério da Educação).

— São cem vagas do vestibular, que é feito junto com a USP [Universidade de São Paulo], e dez vagas do ProUni.

No total, o professor José Eduardo destaca que normalmente, os alunos que saem da faculdade de medicina da Santa Casa demoram por volta de dez anos até iniciarem sua vida profissional plenamente.

— O aluno fica dois anos no cursinho, seis na faculdade e, no mínimo, mais dois na residência. Estamos falando de, no mínimo, dez anos para ele começar sua vida profissional. Se ele for se especializar em cirurgia, oftalmologia, otorrinolaringologia, já não são dois anos, são três anos. Se for fazer residência em cirurgia plástica, ele tem de se especializar dois anos em cirurgia geral e mais três na área. Estamos falando de até 13 anos para ele começar sua vida profissional.

Mesmo após formados, a família muitas vezes precisa continuar complementando a renda dos já profissionais. Dolci destaca que, durante a residência, a bolsa que o recém-médico recebe gira em torno de R$ 3.000, o que torna sua renda muitas vezes insuficiente.

— Nesta fase, eles [os novos profissionais] acabam sendo subvencionados pela família, pois o número de vagas [na residência] é bem menor que o de formandos.

Investimentos

Levantamento feito pelo R7 apontou que moradia, transporte e alimentação podem chegar a R$ 217.500 no decorrer dos seis anos da graduação. Isto sem levar em consideração os reajustes inflacionários.

Se um aluno tem de se deslocar para fora de sua cidade até a proximidade da sua faculdade, estes gastos aumentam significativamente. Imobiliárias consultadas em regiões próximas às principais faculdades da cidade de São Paulo relataram que um apartamento simples, somados os valores do condomínio, telefone e internet básicos, água e luz, custaria por volta de R$ 1.500 por mês. Em seis anos, este valor chega a quase R$ 100 mil.

Professores e alunos ouvidos pela reportagem apontaram que uma média diária de gastos com alimentação chega a R$ 50, um total de quase R$ 110.000 ao final da graduação. O transporte, com a passagem escolar custando R$ 1,50 na cidade de São Paulo, custaria ao bolso do estudante e de sua família, por baixo, R$ 200.

As mensalidades, sem dúvida, são o maior gasto. Uma das faculdades com o valor mais baixo na região, a FCMSCSP, tem mensalidades a partir de R$ 3.700. A mensalidade pode custar até R$ 7.000 dependendo do local onde o aluno estudar. Em seis anos, este valor pode variar de R$ 266 mil a R$ 504 mil.

Somando todos os valores, é possível gastar de R$ 218 mil, caso o aluno opte por estudar em uma universidade pública, a R$ 720.000.

— Ele pode pegar o livro emprestado na biblioteca, ele pode estudar junto com outros alunos, pode ganhar o livro. Acho que este não é o gasto principal dele [aluno].



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