Geral

Brasília: Quero-Quero!


16/08/2011

Para Tina & Marcos

Não me chamo Açucena, mas me senti uma flor do Cerrado ao conhecer Brasília.Lembro ainda quando o Rio de Janeiro/Guanabara era a capital. Sou antiga hein? Até bonde avistei na porta de casa na Rua Visconde de Pelotas.

Pois tive a oportunidade de visitar a capital, por ocasião do XV Seminário Nacional e V Internacional Mulher e Literatura (assunto da próxima semana).

Minha primeira impressão de Brasília: a de que eu estava diante de uma maquete! E uma sensação de que estava no Brasil Central, especialmente na área embaixo da ponte. A vermelhidão da secura da época; um certo ar do filme de Diegues – Bye Bye Brasil. Tive zonzeira, rachaduras, cansaço, coisas de quem vem da umidade da praia. Claro que estou falando somente de um quarteirão…aliás existe isso em Brasília? Senti falta das esquinas, das calçadas, de uma farmácia ali, e principalmente de uma Banca de Jornal acolá.

Emocionei-me com a arquitetura de Niemeyer e com o verde de Burle Max. Pensei que estava em Boston. Mas nunca fui a Boston! A imensidão. O céu cristalino – Azul, azul, e azul. Um silêncio estrangeiro para mim, principalmente do jardim de uma certa casa perto de Sobradinho – Tina & Marcos!

E o lago? Como pode um lago tão grande e tudo artificial. O Pontão fosse de dia ou à noite, foi o meu lugar preferido. Gosto de água e de calçada para passear. E à noite, vi a lua, vi namorados se beijando, vi o frio, jazz, e uma atmosfera de um outro lugar.

Gastronomia? Comi quiche legitimamente francês no Daniel Briand (Mone e Cangiano e Marina); Robalo grelhando no Brasília Restaurant Week (tudo por 29,99) e salteado de frutos do mar. Com direito à risoto de pêra e brie no Piantella, um mimo de presente de aniversário de casamento (Juca). Lembrei de Ulysses Guimarães, que um dia virou peixe…. Encontrei a jornalista de política Christiana Lobo, que saiu apressada para ver a novela das 8/9! E aí , pude botar em dia meus capítulos – Política e novela, tudo junto e misturado! Em se falando de celebridade, avistei Antonia (filha de Camila Pitanga), que enquanto a mãe fazia as últimas cenas de Carol, a pequena desfrutava de viajar com os avós, Antonio e Benedita, e o tio Rocco.

Dentro da programação cultural do Seminário, fui ver a peça Triffles/Bagatelas, de Susan Glaspell. Com direito à palestra com Lúcia Sander (amiga e companheira de As Horas) e debate . Puro luxo, já que trabalhamos com esse texto em sala de aula.

Consumos – Não resisti à Livraria Cultura! Passeei pelo livro História de Quadros e leitores de Marisa Lajolo: “Pintura é poesia Muda e poesia é pintura que fala!”. Finalmente comprei o cd de Chico Buarque e ando me deliciando com Querido Diário, e desvendando surpresa o que seria a “Mulher sem orifício….”, também trouxe Thais Gulin, sua namorada com cabelo cor de abóbora, para quem sabe, ele olhar para os meus também, que são falsos é bem verdade, mas são abóbora! Claro que também trouxe na bolsa o cd da trilha sonora da novela Cordel Encantado. Uma vez noveleira, sempre noveleira! Comprei pijamas nos shoppings! Pode? Aqui não achava. Só ursinhos, babyzinhos. Uma infantilização. Ora! Os adultos também dormem! Mas meus olhinhos brilharam na loja Inglesa Accessorize. Saudades de Camden Town, sem Amy Whinehouse ainda, nos meus tempos de flaneur pelos mercados Londrinos.

Perdi-me de tanto andar em tesourinha! Fui de ponta a ponta do avião. Tive meu momento Meia Noite em Brasília e a imaginar aquela cidade sendo construída na década de 60. Os candangos, Wladimir Carvalho filmando as escrituras dos que lá construíram sua vida e morte. O sonho. Um visionário. Brasília , a ponta do Brasil Central; uma imensidão, uma majestade, uma amplitude, um Ipê rosa, outra árvore de tom lilás de uma delicadeza! E a flor do cerrado! E a terra é azul! Gagarin deve de ter visto Brasília lá de cima.
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Meus sightseeings foram tradicionais: visitar o palácio da Alvorada e imaginar a presidenta Dilma tomando café com bolacha; dar bom dia aos quero-quero; protestar com os guardas mudos de plantão – aquilo é coisa de Buckingham Palace! Vi a presidenta passar na minha frente, com seus batedores anunciando sua passagem pelos mortais. Dei meu adeuzinho básico, enquanto me imaginava habitando por entre as quadras.

Por fim, diante de tanta formosura, prédios majestosos e luxuosos, eis que vejo um estabelecimento chocho e chinfrim, mas parecido com acampamento dos antigos habitantes, e para minha surpresa era a Secretaria das Mulheres. What a shame! Pensei: Nem aqui, nesse avião planejado, com tanta imponência arquitetônica, as mulheres tem vez! Lembrei-me da visita de Virginia Woolf aos gramados de Oxford e Cambridge, e por meio dos chorões chorosos refletiu sobre a pobreza das mulheres e de todo o significado dessa falta, que desde à comida aos mais profundos saberes, determinam o destino profissional e de expressão artística das mulheres. Está na hora do planalto central, construir um prédio decente, para também decentemente pensar sobre às políticas das mulheres.

E como toda viagem que se preze tem festa, lembrei de A Garden Party (Katehrine Mansfield) e das Festas de Mrs. Dalloway, também tivemos nossa festa brasiliense. Já que minha amiga Vitória Lima aniversariava: O Parabéns prá você foi no Carpe Diem, re-rememorando Walt Whitman e “Do I contrict myself?” ou “Captain My Captain!” com bolo, velinhas e o aconchego dos seus familiares.

E para terminar, vi um incêndio ao vivo e à cores do meu lado na UnB, com labaredas imensas por entre o bambuzal, para ter a certeza de que a terra é seca. E a noite de abertura do Seminário, um concerto magistral da Orquestra das Senhoritas. Muitas mulheres sob a batuta de Dora Galesso. Não teve para Brahms, Bach ou Chopinho (como já dizia um amigo meu!). E por entre sucos e pastéis, brindamos às amigas, às músicas, e à Maestrina, uma mulher linda, forte e sorridente.

E por entre lobos guarás imaginários, saúdo os parentes e amigos paraibanos, que há tanto tempo habitam naquela cidade e que nem pude visitá-los a contento. Pouco tempo, muito trabalho e a perplexidade diante de um lugar desconhecido e de profunda desorientação: Saúdo meu Tio Chiquinho, minha prima Leleta Wanderley; amigos Paulo Melo e Marisa e Wladmir e Rosinha; Rejane Nóbrega; Monica Lúcia e Cangeano e Marina; Lúcia Sander; Paola Antony e Dora; Thiago Lima e Joyce; Ulysses (ex-aluno); Zonda(ex-colega das aulas de cinema); Wladmir Carvalho; Raphael, Bartyra e Samuel (que nem pude fazer uma visitinha de tia…).
Aniversário, flores do Cerrado, silêncios, azuis, imensidão, quero-quero, nuvem, mulher e literatura, figos frescos, e uma pulseira de balangandãs! E dormindo de pijamas novinhos….voltei para casa.

 

 

Beijos das Margens Plácidas

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 16 de agosto 2011
 



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