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18/05/2010

 (Continuando a da crônica anterior: De Twitter e outras Conversas)

Falam que quando estamos com um assunto na cabeça, tudo gira em torno dele. E ultimamente falei sobre as novas tecnologias, twittar, nossas poucas conversas, e principalmente sobre os novos paradigmas que se instauram frente à comunicação humana. Os pulos são gigantes, e ai de nós se não começarmos a pular também, ou nadar; e que seja a favor da maré, do contrário estaremos fritos e isolados.

Para começar a nadar (e não morrer afogada que nem Ophélia…), fui fazer um workshop de blog /wordpress. Claro que me senti peixe fora d´água. A platéia já era iniciada. E eu, diante daquele mar de siglas, quadradinhos, mecanismos tão longe da minha parca compreensão…, fiquei tateando as ferramentas, me sentindo uma completa estranha no ninho, uma outsider, um clone dos mares distantes. E já pela enésima vez, constato que sou realmente uma mulher do século passado. Sem falar do vizinho de mesa, que toda hora perguntava se eu estava entendendo, e olhava de soslaio para minha ignorância digital. E eu, também de soslaio internamente resmungava: Deixa estar: deixa precisar dos meus outrooooos talentos inexploráveis… que darei o troco.

Semana passada falei disso e continuo. Logo em seguida fui assistir à uma palestra na UFPB como parte do I Seminário de Atualização Pedagógica (4 e 5 de Maio, UFPB) e qual a surpresa? A professora Dra. Edna Gusmão Brennand, falava dos Recursos Tecnológicos no Ensino Universitário, e focava exatamente das nossas dificuldades hoje em fazer a ponte entre nós professores e todo um sistema de ensino que é analógico, para os alunos e toda uma nova conjuntura digital. A professora, com carreira de sucesso, hoje lidera pesquisas no Departamento de Educação, fazendo pesquisas e criando Softs no curso de Educação, pois segundo ela, temos , como professores, a obrigação de acompanhar tais mudanças. Sabendo claro, que essa mudança se faz paulatinamente, mas nem tanto, pois no mundo digital, a correria é grande.

Falava ela que o mundo de hoje é veloz. Rápido. Tudo ao mesmo tempo. E que aquela característica que nós mulheres tínhamos/temos de fazer tudo ao mesmo tempo, os jovens de hoje tem: estudam, ouvem hi-phone, zapeiam, blogueiam, twittam e aprendem. E nós professores, eu inclusive, vagando em salas sujas, sem ar condicionado, nem ventilador, sem labtop nem data show, sem vídeo, nem youtube, temos ainda que utilizar gogó, papel e giz, ou lápis preto. Gatos desvalidos interrompem a sala de quando em vez para nos dar bom dia….É um fosso quase intransponível não fosse nossa criatividade e espírito do jeitinho brasileiro (com todo respeito!), de levar nossos aparelhos, gargarejar água Rabelo, molhar o rosto antes de entrar em sala, dar aula de bermuda, e minimizar/maximizar ao máximo esse entrelugar em que nos encontramos do sistema educacional em que fomos formados e das expectativas que estão aí por parte do aluno.

Pois remexendo nos jornais encontrei uma resenha de Regina Schopke, comentando Sobre a Tagarelice e Outros Textos, de Plutarco (Estadão, dez, 2008), onde ela fala de Diderot sobre a importância das palavras; de Kant, sobre a crença nas palavras; sobre Nietzsche, sobre ser superficial e profundo, e principalmente sobre Plutarco , filósofo grego do primeiro século de nossa era, que : mais importante do que falar é saber calar”, e sobre desejos desmedidos de falar, da incapacidade de ouvir, de se escutar a si próprio, da “surdez involuntária”.

Pego a revista Cláudia de Maio, com a estonteante Gisele Bündchen na capa, e lá está a reportagem: “O Twitter mora ao lado” (Lina de Albuquerquer), discutindo que o microblog Twitter está revolucionando o mundo virtual, bombando novos negócios e noticiando abalos sísmicos em tempo real, antes do rádio e da TV. No campo pessoal, faz companhia, diverte, provoca reflexões e desperta amores. Também explica que, a palavra twitter tem inspiração no pio do passarinho (tweet, em inglês), e que se espalhou no Brasil como um rastilho de pólvora – “Enquanto não encontro o amor, eu me entretenho com o humor”, cita a reportagem de uma publicitário, parafraseando Mae West (Enquanto não encontro o homem certo, vou me entretendo com os errados).

Já a Revista Vida Simples também de Maio, traz uma capa com duas xícaras de cafezinho lado a lado e a manchete: “É Falando que a gente se entende: Você já parou para pensar que estamos conversando menos uns com os outros? Descubra o poder que um bom bate papo tem em todos os campos da sua vida. Falou?” Enfim, as bancas de revista de maio, só falam disso, dessa nova forma de pensar, teclar, viver e se comunicar.

E fiquei triste, aliás ando sorrateira nesses tempos de era digital. Encontro-me numa complexa contradição: Adoro o que a internet me proporciona. Encaixo-me no perfil blogueira; adoro interagir e tagarelar (Que Plutarco não venha me analisar e me chamar de surda voluntária…); gosto muito dessa forma de comunicação, ou seja aquela, em que falo quando quero, como quero, para quem quero, dentro dessas características todas que o mundo digital prescreve: individualismo, egoísmos, multiplicidade, fragmentação etc etc.

Mas, confesso, que essas mudanças do mundo dos dinossauros para o o mundo dos Avatar, está me deixando perplexa e confusa. Em casa, sinto-me um E.T. As minhas conversas estão confinadas ao teclado. Quando não estamos na rua, no trabalho, nos interesses individuais de cada um, e chegamos em casa…Pim Ball! Corre-se cada um para seu parquinho particular; não mais A room of one´s own, mas uma telinha o our own…Cada qual para seu mundão vasto mundão, e quem há de negar que esta lhe é superior?! (Chego a escutar Caetano a cantar Língua!). Confesso que não posso competir com tantos blogs, seguidores, programas de TV, livros, jornais impressos e virtuais, MSN, facebooks. Paradoxalmente, também ando cansada de tanto bombardeio de coisas, notícias e upgrades. Quero estar des-informada. Quero o vazio!Entretanto, a cada dia, minha agenda privada, minhas pautas domésticas, vão ficando tão obsoletas, que nem eu quero saber mais delas. Quando dou por mim, estou passando e-mail para o marido, recebendo mensagem de filho, e tudo dentro da mesma residência analógica… Só não fiquei mais preocupada, pois uma entrevista da premiadíssima cineasta Laís Bodanski (As Melhores Coisas desse Mundo), que também interage com o marido (seu roteirista preferido), por e-mail, igualmente dentro da mesma casa. Já não se fazem mais casas como antigamente. Alpendres? Por onde andas? O conceito de lugar? Já nem sei mais onde estou!

Enfim, os espaços estão dilatados. As paredes cresceram. E a arte de conversar miolo de pote mudou. E aquela atmosfera criada naturalmente nas salas de visita de antigamente, e onde os assuntos transcorriam alegre ou tristemente, hoje foram substituídos pelo isolamento dos quartos do computador; pelos esforços repetitivos; e pela frustração de que nossos assuntos estão ultrapassados e vagarosos.

O glocal (pelo menos dentro de casa) ainda está longe de acontecer. Fica lá nas teorias dos estudos teóricos da academia.

E aqui sigo eu, exausta de tanta informação; querendo deletar tudo, e ao mesmo tempo, celebrando os 60 anos do meu amado Recruta Zero, que me fez gargalhar por tantas tardes deliciosas, com seu ar insubordinado e folgado com Sargento Tainha, e também soprando as velas para os 50 anos da pílula anticoncepcional, que me fez uma mulher livre; pelo menos em termos. Curioso, que o meu mundo ultimamente anda celebrando muitas festas além de 30 anos. Desconfio que estou envelhecendo….Já não era sem tempo!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa 15 de maio, 2010



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