Anselmo Castilho

Advogado e superint. da Funetec/PB.

Paraíba

Paralogismo na Coerência


01/07/2020

Época de eleições. Muito se vê e escuta. Uma das muitas palavras grafadas e propaladas é “coerência”. E pode, você, constatar: o seu uso é sempre qualificador à apresentação.
Qualquer que seja o interlocutor quando se apodera da coerência como virtude, desliza em raciocínio falaz.

A coerência não se presta a ser formalista. Não é uma ética substancialista como a de Aristóteles ou Karl Marx que indicam, expressamente, o que é o bom e o que é o mal em dadas circunstancias. A coerência é, verdadeiramente, um princípio insuficiente para discernir o bem do mal.

A propagação da coerência como qualidade de uma pessoa por si mesma intenciona verter-se para o marketing, sobretudo nesse período que ora vivenciamos. Comum nessa época de eleições candidatos conceituarem-se com “Coerência Comprovada”, “Corajoso e Coerente”, “Coerência e Ética” e tantos outros. Como se o simples fato de ser coerente fosse uma qualidade. A coerência não é uma qualidade em si mesma, uma vez que a incoerência também pode ser uma virtude.

O sujeito pode ser corrupto a vida inteira, corrupção esta absolutamente coerente; alguém pode defender a intransigência, a intolerância, a truculência sendo cristalinamente coerente; pode ser fiel a um projeto pessoal que se confronta com os anseios de um projeto coletivo, mantendo a coerência inalterada. Aliás, mudar de posição, de idéia, é coerente.

Relacionar coerência e incoerência com a democracia é factível. Faz todo o sentido. A virtude está em fazer e pensar as coisas certas, não em fazer e pensar as mesmas coisas sempre.

Com efeito, neste período de disputa eleitoral, onde os candidatos se apresentam com suas respectivas propostas, indubitavelmente todos são coerentes; contudo, para aqueles que se utilizam da bandeira da coerência como marca estão construindo sofismas ou alicerçam-se no paralogismo.

Para aqueles que se apresentam como “coerente”, as suas posições de hoje podem ser coerentes para uns e incoerentes para outros. A posição só se constitui coerente se inserida harmoniosamente na rede de relações do responsável pelo ato.

Pois bem! Como saber se uma posição ou decisão é coerente? Não sei! Mas, uma coisa pode ser afirmada: o paralogismo se constitui pelo simples fato da utilização da palavra “coerência”, quando não se identifica a qual atitude e decisão estão correlacionadas.

Na democracia, a escolha de um
representante deve está literalmente interligado ao seu exercício de coerência. Os Sufrágios devem ser produto da condição de escolher entre soluções diferentes, como bem pontifica o filósofo Noberto Bobbio.A coerência no exercício do voto indubitavelmente refletirá na atuação de mandatos.

Texto publicado originalmente em abril de 2011. Agora com ajustes e atualização.

Anselmo Castilho
Advogado
Julho/2020


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