Política

Viúva de Burity se diz indignada com homenagem do Senado Federal a Ronaldo

A Ronaldo Cunha Lima


10/11/2014



A viúva do ex-governador Tarcísio de Miranda Burity (in memorian), Glauce Burity, encaminhou carta ao presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), lamentando a homenagem que aquela casa legislativa fará ao ex-governador e ex-senador Ronaldo Cunha Lima (in memorian).

No texto da carta, Glauce relembra o atentado sofrido pelo seu marido, dia 5 de novembro de 1993, no Restaurante Gulliver, em João Pessoa, quando o então governador Ronaldo Cunha Lima desferiu três tiros contra Tarcísio Burity. De acordo com ela, a família está indignada com a decisão da Presidência do Senado de homenageá-lo.

“Senhor Senador da República, as homenagens ao agressor do meu marido fere gravemente a consciência moral e jurídica do povo brasileiro”, escreve Glauce Burity.

A homenagem
O Senado Federal decidiu batizar de "Edifício Senador Ronaldo Cunha Lima" o espaço físico onde funciona o Programa Interlegis, que treina servidores do Senado e de outros poderes legislativos país afora. O homenageado terá direito ainda a um busto de bronze.

Confira a carta escrita por Glauce Burity:

Exmo. Sr. Presidente do Senado Federal
Senador Renan Calheiros

Prezado Senador;

A propósito da notícia veiculada nos meios de comunicação sobre a homenagem a ser prestada pelo Senado Federal ao ex-Governador Ronaldo Cunha Lima, numa das salas do Programa de Treinamento de Funcionários (Interlegis) desta egrégia Casa, peço transmitir a todos os congressistas a indignação da família de Tarcísio de Miranda Burity, vítima de uma tentativa de homicídio qualificado praticada por aquele cidadão quando Governador do Estado da Paraíba.

Vale relembrar o fato:

1) No dia 05 de novembro de 1993, de forma premeditada, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima ao adentrar num restaurante da Capital do Estado, disparou três (03) tiros contra um cidadão íntegro, jurista, professor de Direito, ex-Secretário de Educação e Cultura do Estado, ex-Deputado Federal, governador por dois mandatos, que além de indefeso, estava desarmado, almoçando despreocupadamente, em companhia de amigos, deputados e jornalistas dos Diários Associados;

2) Quando gravemente ferido, e quase perdendo a consciência, ainda conseguiu forças para escrever um bilhete aos nossos filhos, pedindo-lhes que não se vingassem, é que tinha a convicção de que violência não se combate com violência…

3) O pedido de licença para processar o agressor foi encaminhado pelo Exmo. Sr. Ministro Relator José Carlos Moreira Alves, ao Senado Federal, em 1999, onde foi engavetado. A impunidade do referido réu foi uma afronta à consciência moral e jurídica dos brasileiros;

4) Infelizmente, o Sr. Ronaldo Cunha Lima, renunciou ao mandato de Deputado Federal para não ser condenado;

5) Na época, o ex-Governador Cunha Lima procurou minimizar o fato, como se o ato premeditado e consciente de tentar matar uma pessoa, com arma de fogo (révolver -38 e bala tipo hollow-point ), de alta periculosidade fosse apenas um gesto esportivo de tiro ao alvo…E foram 03 tiros consecutivos!!!

Que motivos relevantes o conduziram a tamanho desatino? Em sã consciência, podemos assegurar que até hoje desconhecemos. A opinião pública do Brasil e da Paraíba, em particular, também não percebeu as razões. A entrevista concedida por Tarcísio Burity a SBT, no dia do atentado, sequer fez menção a assuntos do governo paraibano. Teve caráter puramente acadêmico: a revisão constitucional que tramitava no Congresso. Nada mais do que isso. Efetivamente, ele atirou na pessoa errada!

Toda a Imprensa da Paraíba conhecia o estilo de Tarcísio Burity de fazer política. Ele criticava governos, criticava princípios. Nunca houve um discurso dele, mesmo em palanque, em que acusou quem quer que seja, de forma a que se identificasse uma acusação pessoal à dignidade de qualquer pessoa.

As críticas dirigidas contra a administração de seu filho Cássio Cunha Lima, ao exercer o cargo de Superintendente da SUDENE, originavam-se nos grandes meios de comunicação e empresariais do país.

Senhor Senador da República, as homenagens ao agressor do meu marido fere gravemente a consciência moral e jurídica do povo brasileiro.

Obrigada pela atenção.
Cordialmente,

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Glauce Maria Navarro Burity (viúva) e filhos
João Pessoa, 04 de novembro de 2014



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