Saúde

Toxina botulínica trata enxaqueca e até estrabismo

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09/08/2013

 Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1992, a toxina botulínica – conhecida pela marca botox – tem indicações que vão além da estética, sendo regulamentada para o tratamento de estrabismo, blefaroespasmo e espasmo hemifacial (tique nervoso) desde o início da sua utilização no Brasil. "Sua ação básica se relaciona ao bloqueio da capacidade que a célula muscular tem de contrair", explica o neurologista Cristiano Milani, Coordenador do Departamento Científico de Atenção Neurológica e Neurorreabilitação da Academia Brasileira de Neurologia. Derivada desta ação "paralisante", diversas outras indicações de uso clínico surgiram nos últimos anos. Conheça as aplicações terapêuticos da toxina botulínica e quais os benefícios desse tratamento:

Hiperidrose

Caracterizada pelo suor excessivo principalmente nas mãos, axilas e nos pés, a hiperidrose se agrava quando associada à ansiedade ou outros transtornos emocionais, embora essas não sejam as causas da doença. "Nesta condição, a toxina botulínica inibe a produção e liberação do suor pelas glândulas sudoríparas", explica o neurologista Cristiano Milani, coordenador do Departamento Científico de Atenção Neurológica e Neurorreabilitação da Academia Brasileira de Neurologia. Segundo o especialista, a aplicação da toxina botulínica para hiperidrose é feita de forma superficial – ao contrário das aplicações intramusculares profundas, necessárias para outras indicações. "A substância é aplicada com dois a três milímetros de profundidade nas regiões envolvidas, por meio de múltiplas e pequenas injeções", explica o neurologista. O benefício terapêutico costuma ser mais sustentado, durando até mais de 8 meses em alguns casos. "Além disso, não existe o risco de aparecimento de sintomas em outros locais, que é problema frequente após as simpatectomias, cirurgias de tratamento da hiperidrose."

Enxaqueca

A enxaqueca crônica é caracterizada por mais de 15 dias de dor de cabeça por mês, com duração de mais de quatro horas por dia, por mais de três meses. "Nesse contexto, a toxina botulínica promove a redução do número de dias e da intensidade das crises de enxaqueca", explica o neurologista Cristiano. Ele afirma que o medicamento bloqueia a liberação de neurotransmissores associados com a origem da dor, diminuindo sua frequência e intensidade. A substância é injetada em pontos específicos que variam para cada paciente, porém se concentrando nas regiões temporal, occipital (parte traseira inferior do crânio) e nuca. "O tempo médio em que o paciente percebe o início do resultado esperado é de 24 a 72 horas a partir do momento da aplicação, sofrendo um aumento progressivo por até duas semanas quando, então, estabiliza-se por cerca de dois a três meses." Após o período mínimo de três meses pode ser feita uma nova aplicação, conforme o quadro do paciente. Porém, o uso do botox como tratamento não significa que o paciente poderá abandonar as medicações específicas para o problema, tudo vai depender do quadro clínico. Dependendo da intensidade e frequência da enxaqueca, a toxina botulínica pode ser usada isoladamente ou em conjunto com outros tratamentos.

Bexiga hiperativa

São contrações involuntárias do músculo da bexiga, que causam a necessidade urgente e excessiva de urinar. "No caso da bexiga hiperativa, a toxina botulínica é aplicada diretamente na bexiga e normalmente em 30 pontos diferentes, por meio de um equipamento chamado cistoscópio, uma espécie de endoscópio para as vias urinárias", conta o urologista Caio Cintra, responsável pelo serviço de urodinâmica da AACD-SP e mestre em cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). O procedimento dura cerca de 30 minutos e está indicado quando existe falta de resposta adequada ao tratamento inicial medicamentoso. "A toxina inibe as contrações involuntárias da bexiga e permite que o paciente tenha um melhor controle urinário, não apresentando os efeitos colaterais comuns dos remédios orais, como a boca seca", completa o especialista. Os resultados são percebidos nas primeiras duas semanas e podem durar de seis a nove meses em média, sendo variável para cada paciente.

Contrações musculares involuntárias

A condição chamada de distonia provoca contrações involuntárias da musculatura em diversas regiões do corpo – como pescoço, por exemplo – e é comumente confundida com tique nervoso. "As distonias podem causar posturas anormais e geralmente muito dolorosas", explica o neurologista Cristiano. Embora sejam raras, podem acometer todas as faixas etárias e atingir qualquer região corporal, podendo ser desencadeadas por atividades específicas e repetidas à exaustão, como a escrita, digitação e uso de instrumentos musicais. "A doença não tem cura e sua evolução pode levar a incapacidades importantes e de difícil tratamento medicamentoso", alerta o especialista. A aplicação de toxina botulínica é um dos principais tratamentos para as distonias, que ameniza as contrações involuntárias e ajuda a corrigir a postura. Ele é injetado nos músculos, inibindo a liberação da acetilcolina, um neurotransmissor responsável por controlar a contração muscular. Como no caso da enxaqueca, o resultado é percebido nas primeiras 72 horas e sua eficácia aumenta nas duas semanas seguintes à aplicação, durando cerca de dois a três meses, quando então pode ser reaplicada.

Estrabismo

Definido pelo desalinhamento dos olhos, o estrabismo é causado por um desequilíbrio de forças dos músculos que agem sobre o globo ocular. Nesse caso, a toxina botulínica ajuda equilibrando essas forças motoras, alinhando a posição dos olhos. No entanto, a aplicação depende do quadro do paciente e a reaplicação depende da resposta ao tratamento, sendo que em alguns casos ele poderá ser indicado para cirurgia. Lembrando o período mínimo de três meses deve ser respeitado entre uma aplicação e outra.

Tremores nas pálpebras

Uma variação comum da distonia, os blefaroespasmos são contrações involuntárias do músculo que controla as pálpebras, fazendo com que o paciente pisque incontrolavelmente. "Nos estágios iniciais, o blefaroespasmo pode afetar somente um olho, mas ambos os olhos acabam sendo envolvidos", explica o neurologista Cristiano. Em alguns casos o quadro pode levar à cegueira funcional, ou seja, o comprometimento da visão causado pelo fechamento forçado das pálpebras, que impossibilita fazer coisas simples, como dirigir ou usar o computador. Acredita-se que o blefaroespasmo seja causado pelo funcionamento anormal dos gânglios basais, que são estruturas cerebrais profundas, envolvidas no controle dos movimentos.

A aplicação da toxina botulínica age no relaxamento da pálpebra, interrompendo os movimentos involuntários e normalizando o abrir e fechar dos olhos. A aplicação é feita localmente em apenas uma sessão, sendo que os resultados são percebidos nas primeiras semanas. Assim como outros tratamentos com botox, os efeitos duram cerca de seis meses, devendo ser reaplicados após esse período.

Tique nervoso

Conhecido popularmente como "tique nervoso", o espasmo hemifacial é uma doença que provoca contrações rítmicas e involuntárias nos músculos da face. "A principal causa é a presença de um vaso anômalo que pulsa sobre o nervo facial (sétimo nervo craniano) de um dos lados do rosto", diz o neurologista Cristiano. Como todo distúrbio de movimento, a frequência e intensidade dos espasmos costumam aumentar muito em situações de nervosismo ou ansiedade. "Por acarretar diversos prejuízos emocionais e funcionais, como para a leitura, assistir TV e dirigir, jamais deve ser considerado um problema de ordem estética", ressalta o especialista. Os resultados com a toxina botulínica habitualmente são seguros e eficazes. Para tratar o espasmo hemifacial, geralmente é necessária uma baixa dose de toxina botulínica, cerca de 100U da substância em uma única sessão. A duração média da toxina é de três meses, quando deve ser refeita a aplicação.

Rigidez excessiva da musculatura

Comum em pessoas vítimas de AVC, a espasticidade é uma rigidez excessiva da musculatura – de braços e pernas principalmente – que afeta a mobilidade dos pacientes. "Não se trata de uma doença isolada, mas de uma condição clínica que pode evoluir a partir de outras patologias, como o derrame cerebral, esclerose múltipla e paralisia cerebral", explica o neurologista Cristiano. O relaxamento muscular promovido pela toxina botulínica em músculos rígidos e dolorosos facilita o posicionamento dos membros e os alongamentos nas sessões de fisioterapia. "A substância é aplicada no músculo que está com rigidez, inibindo a ação da acetilcolina e diminuindo o estímulo nervoso", explica o otorrinolaringologista Alexandre Cercal, especializado em estética da face. Isso possibilita ao paciente praticar atividades que antes eram mais difíceis, como a higiene diária. "Em médio prazo, aplicações periódicas do produto podem, inclusive, evitar o encurtamento de tendões e deformidades articulares que necessitariam de cirurgias corretivas", afirma o neurologista Cristiano. A aplicação da toxina é feita localmente no músculo afetado em mais de uma sessão, conforme a necessidade do paciente. Os efeitos da toxina aparecem entre 24 e 72h após sua aplicação, mas o pico de melhoria é sentido em 15 dias.



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