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Tensão e alívio em Oruro: Embaixada evita transferência de corintianos

Na Bolívia


21/03/2013



 Um mês após a tragédia que matou o garoto Kevin Beltrán em Oruro, os 12 corintianos presos na Penitenciária de San Pedro passaram por momentos de tensão. Desde o início da semana, a direção do presídio tenta transferir os brasileiros para celas comuns. A medida significa dividir os corintianos em grupos menores e colocá-los juntos a detentos bolivianos. Nesta quarta-feira, a situação atingiu seu limite: os 12 chegaram a formar uma fila para encaminhamento até as novas seções. Entraram em pânico. No entanto, representantes da Embaixada do Brasil conseguiram manter os presos em celas separadas dos demais. Para os corintianos, isso significa a garantia da integridade física.

Em conversa com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM, o ministro conselheiro da Embaixada, Eduardo Saboia, apresentou um discurso de confiança. Hoje, os brasileiros ficam em duas celas, com seis pessoas em cada, em local separado e sem contato visual com os detentos bolivianos. Saboia ouviu da diretoria da Penitenciária de San Pedro que a atual condição será mantida.

– Eles nos deram a garantia de que os brasileiros terão a integridade respeitada. E isso só vai acontecer se eles continuarem da forma que estão, juntos – disse o representante da Embaixada.

Internamente, porém, o Itamaraty ainda trabalha com a desconfiança, já que tem experiência ao lidar com presos brasileiros na Bolívia – atualmente, de cem a 120 detentos no país. Em conversas de membros da embaixada, um vice-cônsul que acompanha o caso disse que a transferência foi apenas “suspensa”, com a possibilidade de o problema reaparecer no futuro. Saboia, porém, diz que a decisão é consumada.

Presos desde o dia 20 de fevereiro, os corintianos seriam divididos em quatro "seções" do presídio San Pedro e misturados a presos bolivianos. Esta revelação foi feita por um dos corintianos presos, Danilo Silva de Oliveira, que atendeu à reportagem, por telefone, de dentro da prisão. Ele afirma que o diretor do presídio comunicou que eles seriam retirados do "seguro", onde estão desde que foram transferidos para a penitenciária, no dia 22 de fevereiro, e colocados em quatro alas diferentes, cada uma delas com até 200 bolivianos.

O torcedor apelou para que a embaixada brasileira na Bolívia entrasse em ação para evitar a transferência. A princípio, a estratégia deu certo.

– Juntos, conseguimos cuidar da nossa segurança. Mas vamos ser separados nessas quatro seções. Cada uma tem entre 150 e 200 bolivianos. Para dormir, vamos ter de pagar uns 200 (pesos) bolivianos por cabeça para ter um espaço. Vamos ingressar e ficar com esse débito. E sabe como se paga débito em cadeia, né? É lavar a roupa dos outros, tirar o lixo, vira esqueminha. Vamos perder tudo, dinheiro, roupa, documento. Mas perder os pertences é coisa mínima. Nem estou querendo mencionar nossa integridade física, agressões, ser molestado. Pode acontecer tudo isso – afirmou Danilo.

O corintiano conta ainda outro temor dos brasileiros presos: o calabouço, uma espécie de solitária para onde são levados os presos com problemas de comportamento.

– Está todo mundo nervoso, porque aqui é assim: se rola uma briga, se alguém discute, é levado para o calabouço, que é um porão. Todo mundo faz as necessidades no mesmo lugar, não tem alimentação direito, p… nenhuma. E o castigo tem, no mínimo, dez dias. Se descermos (forem transferidos), alguém vai mexer com a gente, roubar nossas coisas, vamos brigar com alguém e aí é calabouço. É complicado.

O torcedor explica que parte do grupo já passou por um calabouço na prisão de San Pedro, mas um que fica num pavimento superior. Isso aconteceu porque, durante uma revista, policiais acharam os celulares do grupo – o uso de qualquer aparelho móvel é proibido dentro da penitenciária.

– Quando entramos, estávamos com nossas mochilas e falamos do celular nextel, que não funciona aqui. O ministro, que estava com a gente, disse que poderíamos ingressar, que não tinha problema. Passou uma semana, e os policiais entraram na nossa cela procurando celular. Nós apresentamos. Ficamos no calabouço por quatro dias. Não no calabouço de baixo, mas no de cima. Chegamos a ir no de baixo, mas batemos o pé, choramos, falamos que iríamos morrer ali. Aí, Deus tocou no coração do sargento, que nos levou para a cela de cima – relatou Danilo, aliviado.

A tendência é que os corintianos presos fiquem em San Pedro até o fim das investigações, pelo menos. O prazo para a apuração dos fatos é de seis meses. A primeira apelação pela liberdade provisória dos torcedores foi negada pela Corte Superior de Justiça de Oruro. Agora, a defesa prepara o pedido de reconsideração das acusações – a diferença desta para a apelação é que novos depoimentos, provas e documentos podem ser anexados ao processo.


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