Economia & Negócios

Telexfree e títulos de capitalização: fique fora


26/03/2013

 A Telexfree é uma empresa de “marketing multinível” que comercializa um programa para fazer chamadas telefônicas via computador. Os participantes que pagam para entrar na rede da companhia, mesmo sem comprar o produto, encontram sete maneiras para ganhar dinheiro.

Seis delas estão vinculadas à divulgação das atividades da empresa para novos potenciais interessados. Apenas uma é relacionada com o resultado da venda dos produtos e serviços da companhia.

Os títulos de capitalização, por sua vez, possuem semelhança com uma aplicação financeira tradicional. Mas a menos que ganhe nos sorteios realizados periodicamente, a remuneração do aplicador é inferior à rentabilidade que teria se investisse em outras modalidades conservadoras, como a caderneta de poupança.

Os títulos de capitalização estão disponíveis em praticamente qualquer agência bancária e o comprador do título se compromete a fazer desembolsos mensais durante determinado período. Caso não seja contemplado nos sorteios, o detentor receberá apenas parte do valor que foi desembolsado ao longo do tempo, corrigido pelos juros de mercado.

Tanto o esquema da Telexfree quanto a engrenagem dos títulos de capitalização possuem regras operacionais complexas. Apesar disso, são extremamente populares entre as pessoas com menor educação financeira.

A possibilidade de ganhos fáceis atrai os menos esclarecidos. Como lembrou o leitor Aldo P. Neto no comentário sobre a reportagem “Susep aperta o cerco aos títulos de capitalização”, de Luciana Bruno, do Valor, as pessoas superestimam as probabilidades.

No caso da Telexfree, para ganhar o equivalente a US$ 20 por semana, o participante precisa desembolsar US$ 299 e postar, na internet, um anúncio por dia durante todos os dias da semana. No fim de um ano, o ganho será de US$ 1.040.

Mesmo perdendo dez dias ao longo de dez semanas diferentes, o ganho total do membro da rede da Telexfree seria de US$ 840 em um ano. É um retorno de quase 200% sobre o investimento inicial. Isso sem contar com os incentivos e bonificações para aqueles que conseguem convencer outras pessoas a participar do negócio. Quanto mais agressivo for o participante, maior será a remuneração.

O risco que não é corretamente avaliado é a possibilidade de quebra do esquema. Se a quantidade de participantes que deixam a empreitada for maior do que o número de novos interessados, a corrente quebra. A probabilidade de esse evento acontecer aumenta proporcionalmente ao tamanho do empreendimento.

No caso dos títulos de capitalização os ganhos são mais modestos, mas o potencial de perdas é igualmente subavaliado. Como não existe a possibilidade de lucrar com a indicação de outros participantes, a rentabilidade depende exclusivamente do sorteio.

Nessa estrutura financeira, a probabilidade de o investidor terminar com rendimento mais baixo do que a caderneta de poupança é muito alta. A chance de ser contemplado no sorteio é pequena.

Atividades desenvolvidas pela Telexfree e pelas empresas que comercializam títulos de capitalização estão sempre na mira das autoridades. A Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda, por exemplo, elaborou uma nota de esclarecimento sobre atividades da Telexfree apontando que estão presentes indícios de possíveis irregularidades na relação comercial entre a empresa e os divulgadores membros da organização.

A Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep), responsável pela regulamentação dos títulos de capitalização, quer tornar mais rígidas as regras para distribuição e publicidade dos títulos. Propagandas sobre o produto sem informações completas são os principais alvos de investigação.

Ao longo do tempo, na medida em que aumentar o grau de educação financeira da população, a tendência é que alternativas que prometem rentabilidade elevada sem destacar os riscos envolvidos desapareçam. Nesse meio tempo, a melhor alternativa é proibir esse tipo de produto.



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