Economia

Taxa de desocupação da Paraíba cai, mas economista aponta carência estrutural no estado

Mesmo com queda na taxa de desocupação, economista aponta que ausência de indústrias e serviços complexos limita o crescimento econômico da Paraíba.


03/06/2025

(Foto: Reprodução)

Anna Barros

A taxa de desocupação na Paraíba teve uma queda de 1,2 ponto percentual no primeiro trimestre de 2025, quando comparado com o mesmo período do ano anterior – passando de 9,9% para 8,7%. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final do último mês.

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A pesquisa também revelou que, embora a queda tenha sido significativa, o percentual de pessoas desocupadas ainda está acima da média nacional (7,0%), mas abaixo da média da Região Nordeste (9,8%).

Em entrevista ao Portal WSCOM, o economista Lucas Milanez, membro do Projeto de Globalização e Crise na Economia Brasileira da UFPB (Progeb), afirmou que esses dados refletem anos de carência estrutural do Nordeste Brasileiro quando comparado a outras regiões do país.

(Foto: Reprodução)

“É um problema histórico, um problema que tem origem,é explicável historicamente, que a gente encontra a razão. Apesar das políticas de tentar minimizar essas questões, são sempre políticas assistencialistas, aqui e ali tem umas políticas mais efetivas, mas no fundo o grande problema mesmo é a falta de desenvolvimento tecnológico industrial da região”, explicou.

“A gente não tem esse desenvolvimento histórico de uma estrutura produtiva mais elaborada, mais complexa, mais avançada do ponto de vista tecnológico. E aí os empregos que terminam sendo gerados são empregos ligados à atividade atividades agrícolas, atividades com remuneração pior”, continuou.

Ainda segundo a pesquisa do IBGE, somam-se 152 mil pessoas desocupadas na Paraíba, com a 10ª maior taxa de desocupação do país – empatada com o Amapá e o Pará. Esse é o mesmo contingente do trimestre anterior, no entanto, quando comparado ao mesmo período de 2024, houve uma queda de -20 mil pessoas desocupadas.

Segundo Milanez, o maior problema empregatício do estado encontra-se no setor privado, que é “amortecido” pelos empregos gerados pelo setor público.

“Aqui na Paraíba, a nossa remuneração só não é ainda pior, porque uma parcela muito significativa da da força de trabalho é contratada pelo setor público, que paga bem e regularmente. Então, a gente tem, digamos, esse colchão, esse amortecimento que é o próprio setor público”, pontuou.

“Mas quando a gente vai para para o setor privado, a gente vai encontrar principalmente precarização, ela é um fenômeno estrutural em economias atrasadas como a nossa, só que aí tem um segundo elemento. Para além das questões tradicionais de falta de uma estrutura produtiva, possui a falta de uma estrutura produtiva diversificada, que são as questões ligadas às novas formas de contratação. E também às novas formas de relação de trabalho assalariado”, continuou.

Essa relação de trabalho assalariado, de acordo com Milanez, é exploratória no setor privado. As empresas, visando o lucro máximo, subutilizam a mão de obra com empregos e salários precarizados.

Crescimento sem impacto

O número de pessoas ocupadas na Paraíba está estimado em 1,6 milhão em 2025, uma leve alta quando comparado ao mesmo período do ano passado (1,57 milhão). Embora a taxa de desocupação do estado tenha apresentado um declínio, de acordo com a própria pesquisa, esse recuo não foi significativo.

“O crescimento da Paraíba não vai ser suficiente porque entra na questão da diversificação da complexificação das atividades produtivas. A literatura mostra que os principais empregos mais bem remunerados são para além do setor público Eles estão, sobretudo, em atividades industriais ou em atividades de serviços de alta complexidade que na Paraíba, infelizmente, não tem”, detalhou o economista.

Os serviços de alta complexidade, segundo Milanez, estão no campo da ciência, educação e tecnologia. Esses mercados, na Paraíba, são mais impulsionados pelo setor público, havendo uma carência industrial. “Em termos de política pública, o que tem que ser feito é estimular esse tipo de atividade, né? Estimular a implementação dessas atividades aqui no território. É em conexão com o desenvolvimento local, obviamente”, explicou.

A implementação dessas indústrias no estado vão frear, de acordo com o economista, a evasão da mão de obra qualificada – que saem, principalmente, das universidades públicas da Paraíba. Além de aquecer a economia local, com demandas e remunerações mais atrativas.



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