Internacional

Tarifas de Trump entram em vigor e aprofundam crise no comércio global

Com alíquotas de até 104% sobre produtos chineses, presidente dos EUA acirra guerra comercial, provoca pânico nos mercados e ameaça alianças estratégicas.


09/04/2025

Brasil 247



As tarifas “recíprocas” do presidente dos EUA, Donald Trump, contra dezenas de países entraram em vigor nesta quarta-feira (9), impondo sobretaxas de até 104% sobre produtos chineses e aprofundando sua ofensiva contra a ordem comercial internacional, destaca reportagem da Reuters.

As novas medidas causaram uma reação em cadeia nos mercados financeiros globais, com quedas acentuadas nas bolsas e sinais crescentes de que a economia mundial pode estar à beira de uma recessão. Segundo a Reuters, o índice S&P 500 registrou sua pior perda desde sua criação na década de 1950 e caminha para um mercado de baixa — queda de 20% em relação à sua máxima recente.

Em meio ao colapso das ações, até mesmo os chamados “ativos seguros”, como os títulos do Tesouro, passaram a sofrer com vendas forçadas, demonstrando um cenário de forte incerteza e aversão ao risco por parte dos investidores.

Enquanto a maioria dos mercados asiáticos mergulhava no vermelho, as ações chinesas resistiram com ajuda do governo, que tem utilizado bancos estatais e corretoras para sustentar os índices locais. Ainda assim, a escalada protecionista dos EUA preocupa Pequim. Em resposta à elevação das tarifas — que passaram de 54% para 104% sobre determinados produtos — o governo chinês prometeu resistir ao que classificou como “chantagem”.

“O que estamos vendo é uma destruição deliberada da arquitetura de comércio construída ao longo de décadas”, declarou um analista de mercado ouvido pela Reuters. Do lado político, Trump manteve o tom agressivo, mas também deixou margem para negociação. “Temos muitos países chegando querendo fechar acordos”, disse o presidente em evento na Casa Branca, ainda na terça-feira. Ele afirmou ainda que espera que a China também venha à mesa.

A nova rodada de tarifas inclui não só a China, mas também aliados históricos dos EUA, como Japão, Coreia do Sul, Vietnã e a União Europeia. O bloco europeu foi atingido por uma tarifa geral de 20%, além de taxas específicas por setor. Em reação, os 27 países da UE devem votar ainda hoje medidas de retaliação.

Em meio à turbulência, líderes internacionais se movimentam. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, visitará Washington na próxima semana, e o vice-primeiro-ministro do Vietnã se reúne ainda nesta quarta-feira com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Já Japão e Coreia do Sul preparam reuniões comerciais para tentar conter os danos.

O ministro das Finanças do Japão sinalizou que os diálogos com os EUA podem incluir discussões sobre taxas de câmbio — tema sensível após acusações de Trump de que alguns países estariam desvalorizando artificialmente suas moedas. Tóquio nega.

Em paralelo, a Alemanha também acendeu o alerta vermelho. O ministro das Finanças Joerg Kukies afirmou que a maior economia europeia pode voltar à recessão caso o ambiente de tensões comerciais se mantenha. Segundo o banco JP Morgan, as chances de uma recessão global até o fim do ano subiram para 60%.

A onda protecionista de Trump já começa a provocar reações em cadeia entre os formuladores de políticas econômicas mundo afora. Na quarta-feira, os bancos centrais da Nova Zelândia e da Índia cortaram suas taxas de juros como medida preventiva. A Coreia do Sul, por sua vez, anunciou subsídios emergenciais e alívio fiscal para suas montadoras.

Enquanto isso, o impacto sobre o consumidor americano começa a ser debatido com mais intensidade. Um levantamento da Reuters/Ipsos revelou que quase três quartos dos cidadãos dos EUA esperam aumento nos preços de produtos do dia a dia nos próximos seis meses. Economistas preveem que o consumidor será, inevitavelmente, o elo mais fraco da cadeia.

Ainda há uma janela de respiro para algumas mercadorias: produtos já embarcados até a meia-noite de terça-feira poderão entrar nos EUA sem as novas taxas, desde que cheguem até 27 de maio. Porém, o alívio é temporário. No sábado anterior, já haviam entrado em vigor tarifas gerais de 10% sobre importações de diversos países.

E Trump não pretende parar por aí. Em reunião com parlamentares republicanos, afirmou que novas tarifas “importantes” sobre produtos farmacêuticos — até então isentos — podem ser anunciadas em breve.

A guerra comercial declarada pelo presidente dos EUA reacende o debate sobre o papel dos EUA no sistema multilateral de comércio e aumenta a pressão sobre países aliados e rivais. Com negociações programadas, ameaças de retaliação e uma economia global em compasso de espera, o mundo observa os próximos passos da Casa Branca com atenção redobrada.



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