Geral

Tanto Mar


07/02/2012



(Para meu sobrinho Matheus, que tem os olhos da cor do mar…clarinho. Parabéns!)

Quando chega o verão é um desassossego….Por dentro do coração.…(Fagner)

Desde pequena que sou uma criatura das águas salgadas. É no litoral que me sinto em casa. Nas montanhas me sinto um abutre, de medo e desconhecimento. Nos sítios e fazendas, fico sorumbática, principalmente ao entardecer. Melancolia pura. Mas diante do mar, todos os sentimentos juntos me fazem feliz. Ou triste.

Mar azul, cinza, com barquinho, sem, calmaria, de inverno a verão.
Veraneios, Praia Formosa, Poço e praia do Bessa. Vento que assopra, vento…

O mar de Praia Formosa, maré de janeiro, muitos caldos, bunda cheia de areia, caracol, caravela, toda salgada, e um sal da terra salmoura que me entranhou de cheiro de sargaço até hoje. Um Farol que não era o de Virginia Woolf, mas norteou algumas estórias de menina. Meu pai! Tio Celso! Minha avó, que tomava banho de mar de ceroulas….

Nesse mesmo mar, avoei uma cueca sofrida de vida e morte. O dono dela? Gostava de Cabedelo, de xadrez, do Farol e de mangaba. Num ritual solitário, fiz esse pedaço de pano nadar em noite de lua cheia, ou terá sido dia de sol a pino?

O mar do Poço, balanços, festas, namoro nas ondas, onde todos os sais viravam um só. Beijos.
O mar Egeu – lindo azul anil; o mar Negro – ventos do oriente e uma calça saruel; o mar do Norte, Ana de Amsterdã, queijos Gouda, oba!!; o mar do Pacífico, enjôos, balsa,balanços, convés, e uma cantiga das sereias. Ceviche. Pacífico é a minha rua, uma muriçoca do além mar! Mar Morto!

Mar de Areia Vermelha, de jangadinha perdida. Um marzão somente para mim. Nem todos os peixinhos…..Bossa Nova, novamente um barquinho.
Uma paisagem? Uma praia, tanto mar, uma lua cheia, um coqueiro. Coqueirinho! Pá!
Uma serenata, areia dourada, um amor de: Houve uma vez um verão de 69. Um lençol molhado. Uns beijos, gritos e sussurros.
Uma canção? Ruy Guerra e Chico Buarque cantando Tanto Mar. Vontade de navegar com certeza e descobrir o Alentejo. Navegar é preciso!

Estive lá! Na Revolução dos Cravos. Cheguei em Lisboa na horinha e fiquei com gosto de alecrim impregnado nas memórias das passeatas. Pastel de Belém Belém Belém !

Contemplar o mar , eis a questão. Não sou a mulher do tenente francês, mas estou sempre “longing to the sea”; quem sabe existe não um tenente do outro lado, mas quiçá uma possibilidade.

Adoro trovão, tormentas, mas de noite, dormindo, em misto de sonho e devaneio; chuva chovendo, tudo cinza, e o aconchego do quentinho da minha cama.

Sonho com uma onda. Pelo filme do Eastwood, e me apavoro. Não quero que o sertão vire mar; uma vez meu filho quando pequeno perguntou: “Mãe, porque o mar não vem para dentro?” E me apavorei! Um dia, quem sabe dá a louca, e esse azul todo imenso, resolve adentrar a terra…Naquela noite não dormi…e até hoje tenho receios com as profundezas do mar sem fim. Estórias de pescador. Estórias dos celtas. Estórias…

O mar! Esse azul cheio de estrelas, caracóis, peixinhos dourados. O mar de Hemingway e do Velho; o mar dos bondes e dos desejos de Eugene O`Neill; O mar do Farol do tempo que passa de Virginia Woolf; o mar de Tio Celso e de um bisavó de nome Sinhá. O mar do meu pai. O meu mar. Peixe frito, coquinho, onda, fazer chuvisco de baleia, medo de tubarão, jangada no mar, vela molhada, deitada na areia quente feito bife à milanesa…; uma brisa, Tom Jobim, Wave….e um mar que é só meu.

Mar-ítimo! Mar-íntimo! Meumar!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 7 de fevereiro 2012

 



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.