Economia & Negócios

Superoferta de shoppings preocupa lojista

Concorrência


09/08/2013

 É parecido com o que aconteceu no setor hoteleiro. Na euforia do mercado, e com excesso de dinheiro disponível, muitos incorporadores resolveram tirar uma "casquinha" do setor de shoppings centers. Ainda mais diante do aumento do poder de consumo da população, e de novos consumidores que passaram a fazer parte da classe média, nos últimos anos.

O problema é que, diante de um cenário econômico mais contido (a estimativa é que as vendas para este Dia dos Pais atinja o menor nível em quatro anos), sem entrada de novos consumidores, e após o lançamento de muitos empreendimentos nos últimos anos, há um potencial risco de superoferta em algumas regiões do País.

A situação se complica quando se observa que, apenas este ano, 33 novos empreendimentos devem ser inaugurados em pouco mais de dez Estados. Em 2014, estão previstos mais 39 shoppings, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shoppings (Abrasce). A associação estima que todos já estejam em construção.

Apesar da previsão no curto prazo, já tem ocorrido ajustes. De cerca de 120 projetos no País, 40 foram arquivados por incorporadores, dizem fontes do mercado. O problema são os que já estão sendo construídos, cuja obra pode ser adiada, ou cancelada. Neste caso, o prejuízo será certo.

Cidades como Blumenau (SC), Sorocaba (SP), Uberlândia (MG), Salvador (BA) e Recife (PE) são exemplos de praças que podem sofrer saturação. Em Sorocaba, que tem 600 mil habitantes, o caso parece ser mais gritante. O número de empreendimentos irá dobrar em dois anos: serão oito shoppings até 2015.

Segundo o instituto Ibope Inteligência, o índice de produtividade (que mede a relação entre oferta e demanda) da cidade, já atinge 90 com os quatro shoppings em operação. Índices abaixo de 100 indicam um mercado muito concorrido. Ou seja, quanto menor o índice, maior o risco do empreendimento "micar".

Em Salvador, há nove shoppings em operação, sendo que cinco foram inaugurados a partir de 2007. Isso faz com que o índice de produtividade da cidade já atinja 77. Em Recife, que inaugurou seu último shopping no ano passado, o Riomar, um dos maiores em área do País, são seis em operação, e há mais um para ser lançado. O índice na cidade chega a 66.

Em Blumenau, uma cidade com 317 mil habitantes, existem três empreendimentos em operação, o último inaugurado em 2011, e o índice é ainda menor: 43. Em Uberlândia, há dois shoppings em operação e mais um será lançado até o final deste ano. O índice da cidade atinge 68.

Mais "criatividade"

Os baixos índices não significam, necessariamente, que as cidades não comportem mais empreendimentos. Porém, é certo que o incorporador precisará ter muito mais cuidado e trabalho para viabilizar o empreendimento, explica Fabio Caldas, analista de pesquisa da Ibope Inteligência.

Entre as dificuldades dos novos shoppings, em praças com risco de saturação, está a de convencer os principais lojistas a ocuparem o novo empreendimento. "Que rede hoje pode colocar lojas em mais quatro shoppings na cidade? O consumidor é o mesmo", diz Caldas.

Para o analista da Ibope Inteligência, dificilmente Sorocaba, por exemplo, vai crescer em tão pouco tempo. "Mesmo que consideramos sua zona de influência, sabemos que é mais difícil o consumidor fazer compras com frequência em outro município". Em cidades do interior, o comércio de rua também tem mais força, e concorre com os novos shoppings. "Ele não pode ser desconsiderado".

Neste cenário, a localização ganha ainda mais peso, bem como arquitetura e conceito do projeto. Empreendimentos voltados para nichos, como lazer ou alimentação, também podem ter mais sucesso.

Lojistas ressabiados

A desconfiança de lojistas sobre a viabilidade de empreendimentos em praças que apresentam indícios de saturação já promove negociações mais flexíveis.

Alguns empreendimentos têm se oferecido para pagar a instalação da loja para algumas redes. Outros dão três anos e aluguel sem cobrança de taxas.

Muitas redes acabam optando pela escolha de apenas um dos projetos que serão lançados. É o caso da Polishop. "Se estou em quatro shoppings, minha rentabilidade se divide em quatro, e meus custos são quatro vezes maiores. Então tenho de escolher. Quem gosta da marca vai buscá-la naquele empreendimento", conta o presidente João Appolinário.

Eduardo Morita, gerente de expansão do Grupo Ornatus, dono de marcas de franquias como Morana, também afirma que há instabilidade no mercado nos últimos meses. "O pessoal está indo com muita sede ao pote", diz.

Como soluções, o grupo prefere esperar mais um ano ou dois antes de entrar em alguns empreendimentos. "O objetivo é não frustrar franqueados". O grupo também pode optar por lojas de ruas, principalmente em cidades menores, onde este comércio é forte.

Caso a economia brasileira continue patinando, e não haja ajuste em algumas regiões, Caldas, do Ibope, aponta que o mercado poderá presenciar o fechamento de shoppings nos próximos cinco anos. "Eles terão muito trabalho para sobreviver".



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