Economia
“Sem política fiscal firme, juros altos sozinhos não controlam a inflação”, diz Amadeu Fonseca sobre Selic projetada em 14,75% para 2025
06/05/2025

O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (5), apontou nova redução na projeção da taxa básica de juros (Selic) para 2025: de 15% para 14,75% ao ano. Já a expectativa para a inflação oficial (IPCA) também recuou levemente, de 5,55% para 5,53%. Apesar da queda, a estimativa permanece acima do teto da meta do Banco Central (4,5%).
Ao comentar os dados, o economista Amadeu Fonseca alerta: “A taxa de juros elevada ajuda a conter a inflação, mas sozinha não resolve. Sem uma política fiscal consistente, os efeitos da política monetária são limitados”. Segundo ele, o cenário ainda é de incerteza, o que exige cautela nas decisões de consumo e investimento.
A Selic atual, fixada pelo Copom em 14,25% ao ano em março, será reavaliada na reunião marcada para os dias 6 e 7 de maio. Membros do BC vêm sinalizando maior “cautela” e “flexibilidade” na condução da política monetária diante de incertezas internas e externas.
A meta de inflação para 2025 é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — ou seja, entre 1,5% e 4,5%. A projeção atual, portanto, segue acima do limite superior, o que indica que as expectativas do mercado ainda não estão ancoradas.
Para o economista, o elevado nível de expectativas inflacionárias afeta diretamente o comportamento de famílias e empresas. “Quando não há previsibilidade sobre os preços, o consumo de bens duráveis é adiado e os investimentos ficam represados. Isso trava o crescimento”, afirma Fonseca.
O Boletim Focus também manteve as projeções de crescimento do PIB em 2% para 2025 e 1,7% para 2026. Já o dólar teve leve ajuste: a estimativa para o fim de 2025 passou de R$5,90 para R$5,86.
Mesmo com os avanços recentes, Amadeu Fonseca avalia que o espaço para corte adicional nos juros ainda é restrito: “A inflação segue resistente em alguns núcleos, e os sinais fiscais não são firmes o suficiente para permitir quedas seguras da Selic”, disse.
Segundo ele, o risco fiscal é o principal fator que pode levar a novas revisões nas projeções de juros e inflação. “A elevação de gastos públicos sem receitas estruturais pressiona os preços e dificulta a ação do Banco Central. A disciplina fiscal é o ponto-chave”, conclui.
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