Política

Saiba a história política e de vida de Wilma Maranhão, segundo Wellington Rafael


21/10/2024

Portal WSCOM

E 2024
Memórias de Araruna: Recordando Wilma Targino Maranhão

Wilma Targino Maranhão

Aos 23 de outubro de 1942 nascia em Araruna, Wilma Targino Maranhão. Uma mulher que viria de uma família tradicional na política e que se tornaria a pessoa que por mais tempo governaria o município na história.

Filha de Benjamim Gomes Maranhão, Seu Beja (in memorian) e de Benedita Targino Maranhão, Dona Yayá, (in memorian). Teve como irmãos José Targino Maranhão (in memorian), Carmésia Targino Maranhão, Benjamin Targino Maranhão, Everaldo (in memorian) e Irís Targino Maranhão. Logo cedo, Wilma faria seus estudos em um convento em Monteiro/PB, juntamente das irmãs, Carmésia e Iris

Em 1962, casaria com o advogado Newton Pedrosa, de cujo enlace teria três filhos: Helder Targino Maranhão Pedrosa (in memorian), Olenka Targino Maranhão `Pedrosa e Benjamin Gomes Maranhão Neto.

Não demoraria para iniciar sua relação com a política local. Aos 13 anos já tinha o seu pai, Beja Maranhão como prefeito de Araruna, eleito em 1955, cargo que o tio José Gomes Maranhão já havia ocupado entre 1948 e 1951). Além de ter tido seu irmão mais velho, José, alcançado o cargo de deputado estadual no pleito de 1954, com tantas influências familiares, sem contar os políticos do ramo Targino, não tardaria a ser postulante de cargos públicos.

Politicamente, após derrotas eleitorais do pai, Benjamim perante Targino Pereira em 1963, de Dr. Rivadávia Guedes, com Everaldo Maranhão de vice, para Agenor Targino em 1958, de Luis Torres em 1972 para Mentor Carneiro da Fonseca, e a cassação do mandato do Deputado Estadual José Maranhão em 1969 pela ditadura militar, Wilma se tornaria opção para concorrer à prefeitura em 1976.

Alguns correligionários começaram a simpatizar com a ideia da indicação da filha de Seu Beja para a prefeitura e já declaravam abertamente a simpatia por esta indicação. Um dos primeiros a indicá-la foi o senhor Chico Cardoso, do sítio Guaribas, que, em um determinado momento, acompanhado de outras pessoas, disse: “Vou apresentar o candidato: Wilma Maranhão!”. (SILVA. W.R. p. 25)

Candidata escolhida pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Wilma Maranhão, até então, com 33 anos, se juntaria a Maria Celeste Torres da Silva, viúva, comerciante, para fechar uma chapa de mulheres que disputaria contra o grupo político da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), do Prefeito Mentor Carneiro, que se dividiu em dois grupos: o candidato Agenor Targino, vice José Adalberto Targino pela ARENA 1, e Antõnio Martins de Sousa, vice José Torres da Silva, pela ARENA 2.

Em sua campanha utilizaria a cor azul de seu partido político, o MDB, e o slogan “Wilma Maranhão – RENOVAÇÃO”. A candidata Wilma, em entrevista ao Jornal O Norte de 10/11/1976, sobre sua candidatura ao cargo de prefeita respondeu:

“Já na eleição municipal anterior meu nome havia sido lançado. Não aceitei, porque naquela época não me achava preparada. Cheguei a participar da campanha do senador Ruy Carneiro e atuava politicamente no município. Passada a campanha senatorial e, logo após a apuração, o povo daqui me lançou a prefeita. Outra vez recusei, porque representaria um sacrifício muito grande aos meus estudos de Direito. Mas os apelos continuaram e não se tratava de um bloco isolado. Verifiquei então que os apelos não partiam apenas dos quadros emedebistas. Grupos da própria Arena queriam a minha candidatura e aí aceitei pois achei que Araruna precisava da minha colaboração. Pretendo se eleita, claro, promover, antes de tudo a harmonia na cidade, pois o clima político aqui ainda tem muito de cidade de interior, com divisões de blocos que prejudicam o próprio desenvolvimento municipal.” (SILVA, W.R. p. 31 e 32).

O resultado das eleições trouxeram uma história vitória de Wilma Maranhão e Celeste Torres contra os adversários, uma “Surra de Saia” como falado à época. Foram 3.035 votos (51,40%), contra 1.875 (31,75%) de Agenor Targino e 995 votos (18,85%) de Antônio Martins. Iniciaria assim a saga de Wilma Targino Maranhão à frente da Prefeitura de Araruna.

Não imaginaria, Wilma, que tornar-se-ia Prefeita de Araruna aos 33 anos, e somente aos 73, em 2016, romperia o seu ciclo no comando da política municipal. Dona Wilma apoiaria os êxitos eleitorais de Celeste Torres em 1982, retornaria a governar ela própria Araruna em 1988, Dr. Nivaldo Isidro em 1992, o filho Benjamin Maranhão em 1996 e em 2000, Availdo Azevedo em 2004 e novamente Wilma, em 2008 e 2012.

Durante seus primeiros mandatos, Dona Wilma receberia de parte da população e de seus correligionários a alcunha de “Mae da Pobreza”, e por assim ficou sendo chamada por toda a vida. Devido muitas ações administrativas voltadas ao combate a amenização das camadas mais pobres da população.

Dona de uma personalidade forte e combativa, Wilma Maranhão era praticamente uma entidade política, sua presença causava sensações como admiração e temor. Comparada por muitas vezes como uma coronel de saia, foi uma líder política que mostrava nas ações o “Aqui eu quero, posso e mando!”. Seu jeito forte contrastava e era burilado com o perfil do irmão, José Maranhão, de tom apaziguador.

Novamente candidata em 1988, com o clamor partidário de “Wilma voltou!” disputou contra a nova liderança opositora Raaul Câmara, do PFL. Seu vice foi Manuel Martins Teixeira, (Manoel Paulino) Após uma acirrada disputa, a candidata do PMDB venceria com 3.426 votos (52,51%) contra 2.962 de Raul. Neste pleito Wilma utilizaria versão da Música “E lá vou eu” da Banda Mel, que praticamente se tornaria um hino pessoal até os anos posteriores. Na versão desta campanha a letra seria a seguinte:

Força e vontade!
É Wilma com sua honestidade,
conquistando o povão desta cidade!
Nela votarei!
Prepare o coração,
pra receber na prefeitura esta emoção!
Wilma vai ganhar esta eleição!
Nela votarei!
Refrão: Wilma já ganhou,
Araruna vai vibrar!
Wilma já ganhou, nela votarei!
É claro eu não sou idiota,
de deixar de votar em quem mais gosta!
É Wilma, eu torno a repetir!
Nela votarei!
Ainda há quem diga,
que tudo isto é uma grande mentira!
Só se for, de outro partido! Nela votarei!

Em 2008, foi candidata a prefeita de Araruna mais uma vez, sucedendo o aliado Availdo Azevedo, o vereador Luís Azevedo do nascimento, Lulinha, foi seu vice. Agora disputando contra o opositor Vital Costa, que já captava as forças contrárias ao seu comando desde o ano 2000. Nesta eleição, Wilma receberia 5.417 votos (53,75%) contra 4.631 (45,95%) de Vital, elegendo-se pela terceira vez como prefeita de Araruna.

Em 2012, tendo Iran Pontes como seu vice, e após o natural desgaste político de seu comando em décadas, seria reeleita, mais uma vez contra 4 homens, assim como em 1976, mas desta vez recebendo menos votos que os adversários somados. Wilma obteve 4.453 votos (44,50%), contra 3.479 (34,77%) de Vital Costa e 2.074 (20,73%) de Availdo Azevedo.

Apoiaria a vitória da filha Olenka eleita Prefeita de Cacimba de Dentro em 1992, o retorno do irmão José Maranhão para a política como Deputado federal em 1982, 1986 e 1990. Vice-governador em 1994. Governador em 1998, onde foi neste período, Dona Wilma a primeira-dama do Estado. Além de outros mandatos do irmão e de seus filhos como senador e deputados.

Possuindo 4 mandatos de prefeita, seria Wilma Targino Maranhão, a pessoa que por mais tempo estaria comandando os destinos do municípios, ultrapassando o antepassado Major Pedro Targino da Costa que dirigiu o município por 12 anos, contra 18 anos de comando direto de Wilma. Politicamente, como Chefe de partido, e influencia direta nas administrações municipais entre 1977 e 2016, foram 40 anos de comando da filha de Beja em Araruna.

Entre outras funções extra partidários. Wilma também foi oficiala do registro Civil de Araruna a partir da década de 1960, Presidente do Hospital e Maternidade Maria Júlia Maranhão em diversas ocasiões, Presidente do Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente (CENDAC/PB), Coordenadora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL/PB).

Após a derrota eleitoral de seu partido, o PMDB, em 2016, com a vitória de Vital Costa, com ampla margem de votos, a ex-prefeita Dona Wilma se recolheria a seus afazeres pessoais, com poucas aparições publicas, e nenhuma manifestação política a respeito do mandato de seu sucessor. Sentiria fortemente a perda de seu irmão José Maranhão, falecido em 2021, o que entre outras comorbidades de saúde e idade avançada abalariam sua qualidade de vida.

Após longo período de tratamento de saúde, sucumbiria a ultima escala da vida, aos 20 de outubro de 2024, aos 81 anos, 3 dias antes de completar mais um natalício.

Nos mandatos de Wilma Maranhão como prefeita algumas ações ficam como legado, suas principais ações foram:

Construção do Centro Administrativo Benjamim Gomes Maranhão;
Criação da Bandeira e do primeiro brasão municipal de Araruna;
Construção da Escola João Moreira Soares;
Construção da Escola Dr. José Targino Maranhão (Atual Rita Nunes);
Construção do Ginásio “O Maranhão”, atual “O Marcão”;
Eletrificação em mais de 90% das comunidades rurais de Araruna;
Criação do Programa do Sopão Comunitário;
Pavimentação asfaltica das Avenidas: Coronel Pedro Targino, Epitácio Pessoa, Coronel Antônio Pessoa, Rua Padre Bandeira, Rua Pe. Targino Sobrinho, entre outras;
Criação do Festival de Inverno, Cultura e Artes, Micaruna;
Construção da Industria do Conhecimento (Biblioteca);
Construção da Estação de Tratamento de Esgotos;
Quadra de Esportes da Comunidade Macapá;
Criação do Museu Histórico Municipal;
Construção de Conjuntos habitacionais: Maquiné, Estrada Grande, Frei Damião, Helder Maranhão;
Aquisição da unidade do Samu Araruna.
Estas foram algumas das ações realizadas nos mandatos da ex-prefeita Wilma Maranhão em Araruna. Com sua partida perderá Araruna uma de suas maiores e mais emblemáticas lideranças políticas, que sem duvidas estará marcada na história por seu legado.

Wellington Rafael da Silva

Referências:
Diário Oficial do Estado da Paraíba. Ano III. João Pessoa. 1º de Nov. de 1960. nº 420.
FISCO. Ano XXXI, nº 308, Set. 1999.
SILVA. Wellington Rafael. Política & Poder em Araruna (1976/2022).



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