Economia & Negócios

Revista NORDESTE: Energias renováveis reduzem impacto da maior crise hídrica dos últimos 91 anos


06/10/2021

Geração de energias renováveis tem amenizado os efeitos da crise hídrica

Portal WSCOM / Revista NORDESTE



A edição de Nº 176 da Revista NORDESTE  apresenta matéria especial sobre a produção de energias renováveis, eólica e solar, a fim de reduzirem os impactos provocados pela escassez de chuvas.

Uma das propostas é a geração de energia pelo próprio consumidor, e a contratação de geração solar flutuante, com a instalação de painéis nos lagos dos grandes reservatórios, o que aumenta a eficiência em até 70% e reduz a evaporação da água, além de aproveitar a infraestrutura de transmissão já existente no local.

A edição de Nº 176 da Revista NORDESTE já está disponível para o leitor em edição impressa.

Clique aqui e leia a matéria na íntegra na edição virtual da Revista NORDESTE.

Reprodução: Revista NORDESTE

 

A matéria pode ser lida na íntegra, abaixo. Confira:

ENERGIAS RENOVÁVEIS REDUZEM IMPACTO DA MAIOR CRISE HÍDRICA DOS ÚLTIMOS 91 ANOS

Mesmo com anos de racionamento, o Brasil corre risco de apagão energético, atestam estudos

Por Etiene Ramos

Duas décadas depois do maior racionamento de energia que o país já viveu, estamos sob risco de um novo apagão elétrico, com severas consequências para a retomada da economia no pós-pandemia. O principal motivo continua a ser a escassez de chuvas, a maior dos últimos 91 anos, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), afetando a geração de energia das hidrelétricas, responsáveis por 59% da matriz energética brasileira.

Diferente da crise de 2001, quando a fonte hidráulica respondia por 90% da geração, hoje as fontes renováveis têm ajudado a manter o equilíbrio que está ameaçado com a exaustão dos reservatórios da região Sudeste/Centro Oeste, que detém 70% da geração nacional.  Para evitar o colapso, o Ministério das Minas e Energia, responsável pela gestão do setor elétrico, determinou o acionamento de termelétricas e a importação de energia da Argentina e do Paraguai, entre outras medidas emergenciais de alto custo.

A conta veio, mais uma vez, para o consumidor. Desde maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), anunciou  a cobrança da bandeira tarifária vermelha patamar 1 e a cada 100 KWh no consumo, um acréscimo de R$6,24 na conta de luz. Em junho, a bandeira chegou ao patamar 2, e passou para R$9,49.

Na tentativa de evitar os custos políticos de um racionamento usando reajustes para inibir o consumo, levou o governo a criar, a partir de setembro, a tarifa ‘escassez hídrica’. Com ela, o custo de cada 100 KWh subiu para R$14,92 – um aumento de 49,6% que será cobrado até abril de 2022. As famílias que reduzirem o consumo entre 10% e 20% de setembro a dezembro em relação ao mesmo período de 2020, poderão receber um bônus de R$50,00 – missão ainda mais difícil com a chegada do verão.

Porém, o calor facilita o trabalho do Sistema Interligado Nacional (SIN), que distribui a energia produzida em todas as regiões e está contando com o Nordeste e o seu avanço na produção de fontes renováveis, como a eólica e a solar. A região, desde o ano passado, vem socorrendo o Sudeste/Centro Oeste, onde a crise hídrica bate mais forte pela concentração da geração hidrelétrica.

Não faltaram avisos

Responsável pela gestão do setor elétrico nacional, o Ministério das Minas e Energia, na opinião de especialistas, deveria ter sido mais enérgico na tomada de decisões para evitar que a baixa pluviosidade e a incerteza sobre a volta das chuvas, possam trazer ainda mais prejuízos ao país. “O governo dizia que não trabalhava com a ideia de racionamento, que tudo estava sob controle. Não temos alternativa a não ser a redução do consumo”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, lembrando que o ano passado foi praticamente todo de bandeira verde, sinalizando o livre consumo. A bandeira vermelha foi acionada em dezembro de 2020 e, de janeiro a abril, o alerta foi ligado com a bandeira amarela e um pequeno acréscimo nas contas mensais.

Para Faria, só agora o governo federal revela o tamanho da crise de energia que tende a piorar com a redução da capacidade dos reservatórios a menos de 10%, caso as chuvas não ocorram até o final do ano. “Se tivéssemos usado as térmicas antes, a situação seria outra. Mas o setor elétrico manteve a geração hidráulica, sem preservar os reservatórios que já há alguns anos não conseguem se recuperar”, observa o presidente da Anace.

Se o governo quis poupar o custo político de um racionamento temendo consequências como a não reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022, já que a crise de 2001 custou ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao PSDB a faixa presidencial repassada no ano seguinte ao  ex-presidente Lula, a estratégia pode sair muito cara, nas urnas. Seria um troco dos consumidores que, além de arcar com a nova tarifa da escassez hídrica, enfrentam a aceleração da inflação pela incidência do aumento da energia sobre toda a economia.

Os grandes consumidores como as indústrias e shoppings centers, por exemplo, compram os grandes volumes que demandam no Ambiente de Contratação Livre (ACL), mais conhecido como Mercado Livre de Energia, diretamente das geradoras ou comercializadoras de energia. Para ter acesso, a demanda mínima é de 500 KW, negociados em contratos de longo prazo com preços que podem ficar até 35% mais baixos em relação aos consumidores cativos, do Ambiente de Contratação Regulada (ACR), onde o preço é estabelecido pela Aneel e a energia é comprada das concessionárias locais.

A vacina das energias renováveis

Sem acesso ao ACL, os clientes residenciais e os micro, pequenos e médios empreendedores estão se defendendo dos reajustes com a redução de consumo – mesmo que isso diminua o conforto ou sua lucratividade – ou partindo para a microgeração de energia, especialmente a solar fotovoltaica que responde hoje por 2% da matriz energética brasileira e deve chegar a 16% até 2030.

Diante do atual cenário de crise de energia, a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) lançou o programa GD+10 GW que busca apoio do governo federal para incentivar a geração de energia solar em curto prazo, a fim de mitigar o impacto da falta de chuvas.  “Hoje 10 GW a mais representa cerca de 20% da energia gerada com o atual volume dos reservatórios. Precisamos estimular o consumidor a se tornar prossumidor, a pessoa que produz sua própria energia, pensando numa virtude da geração distribuída: ela é usada no local onde é produzida, evitando até 10% de perdas com transmissão”, explica o diretor técnico da ABGD, Joaquim Rolim.

Uma das propostas do programa é a contratação de geração solar flutuante, com a instalação de painéis nos lagos dos grandes reservatórios, o que aumenta a eficiência em até 70% e reduz a evaporação da água, além de aproveitar a infraestrutura de transmissão já existente no local.  Outra ideia é incentivar a produção de energia a partir de resíduos sólidos urbanos com o material acumulado em lixões e aterros sanitários.

Os recursos para ampliar a geração distribuída podem vir de parte da bandeira tarifária que, segundo cálculos da ABGD, deve chegar a mais de R$13 bilhões este ano.  “Se o consumidor gerar sua energia, vai evitar o uso da energia de termelétrica que tem um custo superior a R$1.500 por MWh, cerca de um terço do valor na geração distribuída”, calcula o diretor.

Para o presidente da ABGD, Carlos Evangelista, uma parcela de 30% da bandeira tarifária iria alavancar a geração distribuída em curto prazo e aumentar o número de empregos que se encontram na faixa de 200 mil. “É importante lembrar que a produção de energia de fontes limpas traz benefícios ao meio ambiente e para cada 1 kwh gerado pelo prossumidor, reduz-se mais de 1 kwh do sistema, considerando a eliminação das perdas da transmissão”, calcula Joaquim Rolim.

A ABGD e outras entidades que agregam produtores de energias renováveis firmaram um consenso com o MME para a criação do Marco Legal da Geração Distribuída, com a aprovação do Projeto de Lei 5.829/2019, em agosto, na Câmara dos Deputados. Enviado ao Senado, o PL garante segurança jurídica aos investidores mantendo as regras atuais até dezembro de 1945 para os que já possuem sistemas conectados, e um ano de carência para entrada em vigor das novas regras.

Segundo Joaquim Rolim, o projeto aprovado também recomenda a contratação de geração distribuída pelas distribuidoras em até 10% de sua carga, em suas áreas de concessão, conforme definido no decreto federal 5163/2004.

As crises trazem aprendizados e o setor elétrico brasileiros, segundo ele, está aprendendo a diversificar a sua matriz energética que, em 2001, era baseada nas hidrelétricas. “Não tínhamos a geração distribuída. O GD +10 é a vacina contra a crise hídrica, com uma diversificação que passa pelas fontes de energia limpa. Nossa grande missão é aproveitar melhor os recursos que a natureza nos deu”, conclui.



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