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Querido Paul: P. S – I Love You!


24/04/2012

Escrevo esta cartinha para lhe dizer o quanto estou plena, feliz e grata, por ter ido ao seu show em Recife sábado passado, On the Run. Literalmente abastecida por muitos e muitos anos. Foram 3 horas de show, com mais 3 guardando o lugar na grama, mais duas cervejas, um hora perambulando pelas ruas mal cheirosas ao redor do Arruda, procurando por um Taxi livre, sem comer, e alimentada de êxtase êxtase e todos os total Bliss! “A Arte existe por que a vida não dá conta!”, já disse um artista, e já não caibo em mim.

Confesso que você nunca foi meu Beatle preferido. Achava-o careta e com o rostinho redondo demais. Afinal eu era uma criança quando vocês apareceram e nunca entendi a histeria das mulheres que gritavam e choravam quando os cabeludos Iê Iê Iê. Sábado eu entendi isso. Também fiquei gritando, pulando, e sentindo algo maior que o meu corpo podia suportar. Êxtase! Mas não se afobe não, pois sempre soube do seu virtuosismo e genialidade musical. E depois teve Wings e toda aquela delicadeza sonora, com Linda dando um toque nos pandeiros. Sábado achei-o simpático, bonito, e um monstro nos palcos, com toda aquela energia contagiante aos seus quase 70 anos, sem beber um copo d´água sequer.

Quando ouvi A Hard Day´s Night pela primeira vez na vida, ainda criança, fiquei muda. Mas especificamente I Wanna Hold Your Hand, que até hoje sinto frio na espinha e embrulho nas entranhas, cada vez que ouço. Uma sensação de quem ouve uma obra de arte. Também senti isso com Quero que tudo vá para o inferno (Roberto Carlos), Alegria Alegria(Caetano Veloso), A Banda (Chico Buarque). Não falo somente de gostar, mas de sentir uma vertigem, uma sensação de quando se está diante de uma obra de arte, e não só, uma obra de arte que lhe diz algo, e lhe emociona, assim quando vi a Guernica de Picasso. E com a minha inocência ainda de criança/ adolescente, não sabia explicar o que era “aquilo” que toda vez que cantava Beatles, sentia.

Anos depois, agradeci conhecer Renato e Seus Blue Caps, para novamente entrar em órbita com “Feche os Olhos”, “Ana”, e “Menina Linda”. E ouvi tanto tanto tanto as versões dos Beatles, que passei a ter o exemplo de quando a cópia supera o original!!!!

Depois veio Help, e quando ganhei o LP, não parei mais de escutar Night Before na minha vitrolinha, hoje peça de museu. Meu pai, não entendia como aquilo tudo tanto me fascinava. E por aí foi uma vida de: Eleanor Rigby, Penny Lane, Lady Madona, Michelle, She Loves You, All You Need is Love, Tomorrow, Hey Jude e mais 50 músicas de público e crítica que até hoje ficaram no imaginário do século 20, e claro, na trilha sonora da minha vida.

Em 1987, encontrei com você e Linda, na porta de uma galeria em Bath, quando ela fez uma exposição que tive o privilégio de ver, completamente paralisada por estar diante de um Beatle. Contei essa experiência em crônica também, por ocasião da morte de Linda, quem eu admirava muitíssimo como mulher, e mais ainda como mulher de um Beatle, pois tinha sua própria personalidade, talento e sabedoria para dividir a vida sabiamente. Sem falar numa vida com filhos, ideias transgressoras sobre sustentabilidade, vegetarianismo, o que fez de vocês uma família já muito mais interessante e moderna. Sou fã de Stella McCartney e não perco seus desfiles na TV. Admiro também vê-lo sempre na primeira fila.

Sábado, depois de todo um ritual de : compra de ingresso, viagem, espera, taquicardia, energia compartilhada, e deslumbramento, finalmente o show começou. Antes porém, não posso deixar de mencionar o vídeo que passou antes, com um passeio pela contracultura, Beatles, Liverpool, Abbey Road, e tantas imagens de coisinhas pequeninas e gigantescas, que talvez permeiem todos esses anos da sua vida e carreira.

Durante as 3 horas de show, você, o repertório, os músicos, o telão gigante, os vídeos no palco, a qualidade do som, a luz, e a reação do público, tudo de uma excelência que transcendeu todas as minhas expectativas e tudo começou a girar como se o tempo não existisse. Ontem, Hoje e Amanhã. Rock Rock Rock. E a multidão extasiada, cantava e cantava e dançava e dançava- Na Na Na Na – Hey Jude!. Eu, uma formiga naquele meio, me entregava às sensações mais intensas e diversas. Saudades, nostalgia, alegria, euforia, êxtase. E quando a coluna ou os pés davam sinal de cansaço, alongava e outra música indescritível de beleza e história me embalava e/ou alvoroçava, como foi o caso de My Valentine (com o belíssimo vídeo de Natalie Portman e Johnny Depp), no som do carro desde que comprei Kisses in the Botton, me revirando os olhinhos….; ou na linda homenagem a George, e uma Somenthing solitária, com seu ukulelê em punho, com vídeo desse seu parceiro que parecia dizer que: All things DO NOT Pass!

Adorei a homenagem à Linda (aliás, senti a presença dela durante todo o show), à Nancy, a John, e claro ao meu Beatle preferido, George, a Ringo e Yellow Submarine, e ao público "Recifiano", que você chamou carinhosamente e com um sotaque charmoso, de “Público Arretado”! Ou ainda, quando desfilou com a bandeira de Pernambuco. Nesse momento mudei de Estado, e senti-me uma mistura de caboclinho e cidadã do mundo. Já posso até hibernar por alguns anos de tão abastecida de MPB (pois fiz a extravagância de ir ver Chico Buarque na véspera), de Arte e de Beatles. Ainda estou cantando I`ve Got a Feeling! até agora! Ouvir Blackbird quase me levou às lágrimas, e viajei back to 1971, Columbus Ohio, num encontro mágico e afetivo. Também fiquei impressionada com sua capacidade de aglutinar tanta gente para cantar: Give Peace a Chance. Harmonia e puro amor. Sempre. O restante do ano? Close your eyes….saudades da Av, Almirante Barroso, onde os Beatles aconteceram para mim; das Lourdinas, onde cantei She Loves You para os garotos da época; e do Cine Municipal, onde vi Help, com o braço cheio de pulseiras barulhentas, que mudou minha vida e minha vitrola….e Let it be, onde chorei o final dos Beatles, junto com o resto do mundo.

Voltando para casa, na melancolia do domingo, botei Beatles na vitrola, não mais de museu, e ainda em estado de transcendência, ouvi Golden Slumbers e The End, para acreditar no grand finale. E até agora, Ainda estou a cantarolar baixinho, Night Before, e lembrar que, ouvimos no Arruda você cantá-la pela primeira vez no Brasil. The Day After, amanheci com essa sensação de que foi uma experiência única, inexplicável, e "inenarrável".

Quis contar do show para as pessoas, mas não tinha palavra que desse conta do tamanho do impacto. Bárbaro? É pouco! Só aí entendi o slogan das camisetas: “Paul McCartney: Eu fui!”, pois essa é uma experiência vivencial e orgástica; não de um show de um ídolo qualquer, mas de um ídolo que durante mais de 50 anos eletriza um público. Eu fui! Com a performance de Live And Let Die, e toda a parafernália cênica de luzes e fogos, tive a experiência de que nada mais era preciso. E rouca e exausta! Morri. Com as pernas bambas e as carnes trêmulas, vislumbrei o fim. Do show, claro.

E deixo aqui esse bilhetinho:

For you Paul,
P.S. I Love you!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 24 de abril, 2012



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