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Qual a Imagem Que Você Tem Da Sua Mãe?


15/05/2012



Na propaganda do Boticário para o Dia das Mães, crianças dizem graciosamente: “A minha mãe tem o cabelo cor de fogo!; Ela tem o nariz pequenininho”, e aí o menino de óculos mágicos diz: “A minha é colorida e brilha!!!”
Bem , a minha mãe nem tem o cabelo cor de fogo, nem tem o nariz tão pequenininho , mas é colorida e brilha também! É colorida porque sempre gostou de roupa florida. E brilha, porque sempre, mesmo diante de tantas adversidades vida afora, achou graça na vida.

Eu agradeço a ela ter puxado esse lado colorido-brilhante. Também me assombro e me assusto diante da vida, cotidianamente.

Afora todas as diferenças e dificuldades, tenho também imagens da minha mãe. Não sei se são boas, santas, maravilhosas, mas são imagens humanas:

Lembro da minha mãe bonita. Vaidosa. De Batom. Mesmo chorando! Gostando de panos e seus doces enganos. A casa José Araújo, Armazém do Norte, Nações Unidas e todas as chitas…

Lembro da minha mãe na máquina de costura, modista, com a Revista Manequim, costurando até altas horas, para ficar bonita, e nos fazer bonitas também;

Lembro da minha mãe cozinhando, reclamando, cozinhando, reclamando,… comidinhas gostosas;

Lembro da minha mãe cantando , enquanto cozinhava. Ainda hoje canto Noel Rosa por conta dela… (“Esse amor que eu não esqueço, e que teve seu começo….”);

Lembro da minha mãe cuidando. Quem sabe por isso adoeci tanto….para tê-la cuidando de mim;

Lembro da minha mãe irritada. Mas bastava atravessar o portão de casa, ou o portal do lar, e a rua lhe fazia feliz. Meu pai sempre me dizia intrigado: “Não sei o que é que acontece que sua mãe em casa é uma, mas atravessou o portão de casa…, acontece uma mágica: ela me dá o braço, e sai assoviando.” Hoje sei bem o que é isso. O portal que divide a domesticidade e o público. O ganhar asas e voar, nem que fosse para à calçadinha de Tambaú.

Lembro da minha mãe atolada em afazeres domésticos. Hoje, também tenho a compreensão do que ser isso. E claro, o cansaço, a impaciência, o esgotamento.

Lembro da minha mãe fumando seu cigarrinho depois do jantar e olhando a lua;

Lembro da minha mãe conversando com as vizinhas. Tricotando. Sabendo fazer de um limão, uma limonada! Ou tomando vinho Celeste!

Lembro da minha mãe indo ao cinema. Quando era à tarde, não me importava. Mas à noite, o que fazia tão pouco, não gostava. A casa da Camilo de Holanda ficava silenciosa, e eu tinha medo.

Lembro da minha mãe aprendendo a dirigir, e eu, uma péssima co-piloto, deixei-a derrubar o muro todinho;

Lembro da minha mãe levando as filhas para o jantar dançante. Reclamava , mas bem que gostava. Aproveitava a desculpas para ver a noite, os jovens, a música, e se requebrar um pouquinho;

Lembro da minha mãe me mandando ler, estudar, tocar piano, dançar ballet,…não me tornei pianista nem bailarina, mas o gosto de escrever, com certeza foi dela.

Lembro da minha mãe de muitas maneiras, e sei que puxei muito à ela, nas coisas de que não gosto, inclusive! mas também nas que gosto principalmente, como gostar de conversar, de cinema, de tomar vinho e cerveja, de gente, de cantar, de passear no shopping (mesmo que ela jure de morte que não goste), de consumir e comprar (ela culpadíssima e eu sem dó nem piedade!), e muito , mas muito mesmo, de dançar. Mas se tiver que citar só uma e talvez a melhor ressaltaria: tenho verdadeira alegria/entusiasmo em ver o mundo e de ter um olhar inaugural diante da vida, e choro muito de emoção com a beleza da arte e tudo o que nos provoca. Hoje mesmo passei o dia extasiada diante do mundo. Cantei o dia todo My Valentine de Paul McCartney, ouvi Carla Bruni, e dei pulinhos de alegria com o dia tão lindo e azul que hoje fez.

Sei que ela está indo se consultar em ouvidos treinados para re-avaliar a vida. Saber o que fez certo ou errado… Imagina se isso é possível?! A vida é imponderável, não temos controle sobre nada, e fazemos somente o que é possível. Mas não se avexe não, que nada é para já! E que a vida vale tudo e tudo vale à pena , se a alma não é pequena. A sua, como na propaganda, é colorida e brilhante. E Humana, demasiadamente Humana!

E já com os cabelos brancos, os anos já idos….a vida segue, a memória finda, e vamos que vamos, cantando, dançando e se assombrando a cada dia.

Feliz Dia das Mães!

Com Amor,

João Pessoa, 12 de maio, 2012

Ana Adelaide Peixoto

 



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