Política

Protestantismo na política brasileira: como bancada foi de nomes ligados a causas trabalhistas para base da nova direita no país


19/06/2025

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Paulo Nascimento

A presença de líderes protestantes na política do Brasil vem de um longo tempo, com raízes históricas da década de 1930, os representantes de igrejas são uma base forte da direita conservadora do Brasil, conhecidos como a bancada evangélica, representa 30% da Câmara dos Deputados e reúne parlamentares de diferentes ciclos teológicos, ideologias e partidos. 

O primeiro evangélico no Congresso

Pastor e capelão militar, Guaracy Silveira foi eleito deputado em 3 de maio de 1933 pelo Partido Socialista Brasileiro, tornando-se o primeiro protestante a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, a sua atuação era pela defesa do Estado laico e pela oposição à obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, especialmente o ensino da fé católica. 

Silveira, um defensor dos direitos trabalhistas, como salário mínimo e proteção social, rejeitou a inclusão da palavra “Deus” na Constituição de 1934, porque acreditava que  isso violava a liberdade de consciência. Reeleito para a Constituinte de 1946, permaneceu ativo no Legislativo até 1951, quando se dedicou à atividade pastoral. 

O seu legado político foi retomado por Guaracy Batista da Silveira, seu sobrinho-neto, pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular. Ele assumiu o Senado pelo Tocantins como suplente em 2018 e novamente em 2022, representando partidos como PSDB e PSD.

Bancada evangélica

Na década de 1980, com o crescimento acelerado das igrejas pentecostais e neopentecostais, a presença de pastores e líderes evangélicos no Legislativo tornou-se mais frequente, com a criação da Frente Parlamentar Evangélica consolidou-se um grupo que defendia pautas religiosas e também atuava em diversas áreas da política nacional.

Os principais nomes que simbolizam essa fase:

A lista começa com Marco Feliciano (PL-SP), um pastor da Assembleia de Deus e fundador da Catedral do Avivamento, foi eleito deputado federal em 2011, presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara em 2013, em meio a polêmicas envolvendo declarações sobre sexualidade e religião, ele já foi até cotado para compor chapas bolsonarista. . 

O delegado e pastor João Campos de Araújo (Republicanos-GO), é auxiliar da Assembleia de Deus em Goiás, foi deputado federal entre 2003 e 2023, com um foco na liderança da bancada evangélica e por pautas conservadoras. Em 2024, foi eleito vice-prefeito de Aparecida de Goiânia. 

Paulo Freire Costa (PL-SP) também faz parte dessa história, filho do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder histórico da Assembleia de Deus, atua como deputado federal desde 2014. Votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e da PEC do Teto de Gastos, e é líder de um instituto social em Campinas.

O pastor Guaracy Batista da Silveira (PSD-TO), da Igreja do Evangelho Quadrangular, foi suplente no Senado e presidente do conselho estadual da igreja em Tocantins. Tem trajetória marcada por ações voltadas à representação evangélica no Legislativo.

Mário de Oliveira (PSC-MG),  completa a lista de alguns líderes religiosos mais antigos no congresso, ele é Pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular, foi deputado por sete mandatos e presidiu nacionalmente a denominação. Enfrentou investigações no Supremo Tribunal Federal antes de se afastar da política por motivos de saúde.

Novas Lideranças 

Depois desses citados, surgiram novas lideranças que ampliaram a representação evangélica na política, tanto no conservadorismo como nos progressistas

Exemplo desses começa com o Gilberto Nascimento (PSD-SP), atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, que está em seu terceiro mandato na Câmara. Ele defende ideologias ligadas à proteção da família, liberdade religiosa e valores tradicionais. Nesse caminho,  Borges (PL-TO), Líder evangélico do Tocantins, alternou a presidência da frente com outros parlamentares. Destaca-se pela defesa de pautas conservadoras, como a educação cívico-militar e críticas ao STF.

Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Vice-presidente da Câmara em 2023, é aliado do pastor Silas Malafaia e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Defende o armamento civil e a manutenção de pautas conservadoras nos costumes. 

O pastor batista Henrique Vieira (PSOL-RJ), um militante progressista, foi eleito deputado federal em 2022, com suas ideias que defende a legalização da maconha, o Estado laico e os direitos reprodutivos das mulheres, assim, o parlamentar é uma das poucas vozes de esquerda entre os evangélicos no Congresso.

Por fim, William Brígido (Republicanos-PE), Bispo da Igreja Universal, é deputado estadual em Pernambuco e tem atuação voltada para a saúde, segurança pública e educação. Ezequiel Teixeira (PODE-RJ), fundador da Igreja Projeto Vida Nova, ganhou notoriedade por defender a chamada “cura gay”. Chegou a chefiar a Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro em 2016.

O peso da bancada 

Um levantamento feito pelo Congresso Nacional mostra que 219 deputados e 26 senadores integram ou se identificam com a Frente Parlamentar Evangélica, tornando-a uma das maiores e mais articuladas do Legislativo. Os membros atuam de uma maneira mais coordenada na defesa de projetos relacionados à moral cristã, segurança pública, oposição à descriminalização das drogas e ao aborto, além de manter alianças com outras bancadas, como a do agronegócio e da segurança.

Essa predominância do conservadorismo é um fato como também há uma pluralidade dentro desses grupo, que atuação de parlamentares como Henrique Vieira cujo demonstram que o campo evangélico não é monolítico, ainda assim, o peso político da ala conservadora é preponderante e tem influenciado diretamente o conteúdo de propostas legislativas e decisões de governo.



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