Educação

Professores botam o pé na estrada usando carro movido a óleo reciclado

Energia limpa


17/07/2013

 O gosto pela aventura e o desejo de provar para os alunos que era possível realizar sonhos levou os professores Gilmar Guedes (Filosofia), Marco Aurélio Berao (Biologia) e Robson Silva Macedo (Religião) a realizar uma viagem rumo à Ushuaia, na Argentina, conhecida como a ‘Cidade do Fim do Mundo’. O trio partiu em janeiro deste ano e passou 37 dias na estrada com o objetivo de coletar material para ser trabalhado em sala de aula. O ‘detalhe’ fundamental é que eles fizeram o percurso a bordo de um Mercedes Benz 58, movido a óleo de cozinha reciclado. Colegas de trabalho e alunos do Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, Rio de Janeiro, inicialmente duvidaram que a viagem, batizada de Jornada da Estrela, desse certo, mas eles conseguiram realizar o projeto, e voltaram cheios de histórias para contar.

“A expedição contribuiu para aumentar a autoestima dos alunos e professores, mostrando que é possível produzir coisas interessantes na escola pública. Fotos, vídeos e o nosso próprio depoimento estão sendo usados no dia a dia com os estudantes. Visitamos 29 cidades no Uruguai, Argentina e Chile e discutimos com os alunos questões políticas e culturais relativas a esses países. Fazemos uma abordagem multidisciplinar e o material está sendo usado também por outros colegas. Na aula de Química, o processo de aproveitamento do óleo já serve de base para explicar alguns conceitos e, em Língua Espanhola, os textos das entrevistas durante a viagem estão sendo trabalhados pelos jovens. Professor não é aquele que diz o que se deve aprender, mas que aponta metodologias. Mesmo no mundo contemporâneo, com o volume monstruoso de informações, o professor não está obsoleto, pelo contrário, ele é uma referência”, conta Guedes.

Os alunos do colégio participaram ativamente do planejamento da viagem, recolhendo o óleo de cozinha que foi utilizado como combustível para o Mercedes Benz 58, que pertence ao professor Gilmar, que dá aulas de folosofia. Os professores construíram um segundo tanque para o combustível alternativo e no meio do caminho contaram com a ajuda de parceiros mobilizados pelas redes sociais, que doaram mais óleo de fritura. De malas prontas, eles percorreram 22.720 km, sendo que 8.000 km abastecidos com óleo de cozinha. No meio do caminho, passaram por geleiras, desertos, lagos sulfurosos, florestas e viram de perto espécies exóticas da fauna e da flora de cada região. O professor Robson Silva Macedo, que também é fotógrafo, fez mais de 20 mil imagens e 30 horas de filmagem. As melhores fotos foram reunidas em uma exposição na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ).

“Boa parte das fotos foram feitas dentro do carro. Usamos as redes sociais para postar diariamente as imagens, e os estudantes cobravam, mas nem sempre tínhamos conexão para atualizar diariamente. Usamos os meios de comunicação para manter contato com os alunos e isso ajudou no sucesso da expedição. Aí que se dá o processo de educação, quando o aluno questiona e quer saber mais. O grande mestre Paulo Freire já falava que o professor é um mediador. Para mim, o professor é tudo. Sem ele, não há escola. Entra a questão salarial sim. Também dou aula em universidades e meus alunos que fazem licenciatura estão de olho em outras áreas, não têm interesse em dar aula. É preciso valorizar a figura do professor, porque ele é o futuro da sociedade”, ressalta Macedo.



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