Economia & Negócios

Professora da UFPB fala sobre perversidade das greves na Educação

DEPT. DE ECONOMIA


03/08/2017

A professora do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Claudia Anengues, fala, em seu novo artigo, sobre a perversidade das greves na Educação. O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

Segundo Anengues, "A paralisação dos professores pode afetar o processo de aprendizagem dos estudantes, já seriamente comprometido por deficiências existentes do sistema educacional".

Confira o artigo na íntegra:

O lado perverso das greves na educação

Por Ana Claudia Anengues

As greves consistem em paralisações voluntárias e coletivas do trabalho, em geral organizadas por sindicatos e demais entidades de classe como forma de pressão por maiores salários e/ou obtenção de benefícios. No Brasil, a ocorrência de greves é um assunto controverso, sobretudo quando atinge serviços públicos como segurança, saúde e educação, gerando consequências não negligenciáveis à população que depende da utilização desses serviços.

Na educação essa questão ganha contornos ainda mais complexos. A paralisação dos professores pode afetar o processo de aprendizagem dos estudantes, já seriamente comprometido por deficiências existentes do sistema educacional, como a falta de professores e a precária infraestrutura das escolas. No âmbito das universidades federais, as greves implicam na reorganização dos calendários acadêmicos, o que inevitavelmente atrasa o andamento dos semestres e leva a conclusão tardia dos cursos.

Embora os alunos sejam os maiores atingidos pelas greves dos professores, este aspecto não tem recebido o devido destaque nas discussões sobre educação, tanto dentro quanto fora da academia. No resto do mundo a literatura econômica sobre o tema oferece algumas teorias e evidências empíricas de como o desempenho escolar é afetado pelas greves e pela sindicalização dos professores. Um artigo de 1996, da professora Caroline Minter Hoxby (Stanford University) -How Teachers' Unions Affect Education Production- afirma que os sindicatos podem impactar o desempenho dos estudantes de formas distintas, a depender da real motivação dos professores ao demandarem a sindicalização. Caso o objetivo do sindicato se resuma apenas a reajustes salariais e não a questões que impactem diretamente o aprendizado dos alunos, haverá um impacto negativo da sindicalização. Recentemente, a professora Gabrielle Wills (University of Stellenbosch) em seu artigo The Effects of Teacher Strike Activity on Student Learning in South African Primary Schools, de 2014, encontrou que a participação dos professores em greves contribuiu com a piora do nível de aprendizagem dos estudantes.

A discussão acerca das intenções dos sindicados levantada pela professora Caroline representa um ponto interessante, em especial no Brasil, onde os sindicatos possuem forte influência sobre decisões políticas. Não raro, muitas greves de professores são utilizadas como estratégia político-partidária de sindicatos aparelhados por partidos políticos. Na existência de dificuldades enfrentadas pela categoria, como baixos salários e a falta de condições de trabalho, a utilização da greve como instrumento político faz questionar o grau de representatividade dessas entidades e se essas ações têm se convertido em benefícios reais a trabalhadores e estudantes os quais dizem representar. Até agora o quadro da educação brasileira é desanimador, com péssimos resultados em termos de aprendizagem e, diante deste cenário, as greves e outras ações dos sindicatos da educação têm se mostrado mais como um problema do que propriamente uma solução. Enquanto isso, estudantes dos ensinos primário e secundário continuam a passar dias sem aula e os estudantes da educação superior têm a conclusão do seu curso de graduação adiada.

 



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