Economia & Negócios

Professor fala sobre desigualdade e injustiça econômica no Brasil e no mundo

DEPTO. DE ECONOMIA


01/06/2017

O professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Luiz Renato de Oliveira Lima, analisa em novo artigo no Portal WSCOM, desigualdade e injustiça econômica no Brasil e no mundo.

"Este estudo mostrou que não existe evidência de que pessoas (eleitores) se sentem incomodadas pela desigualdade econômica. Na verdade, o que as incomoda é a inexistência de justiça econômica, ou seja, a inexistência de critérios meritocráticos, embora não igualitários, para distribuição da riqueza econômica. Notem que igualdade econômica e justiça econômica são conceitos próximos, mas ainda diferentes."

Leia o artigo na íntegra:

Desigualdade e Injustiça Econômica

O Papa Francisco afirmou que a desigualdade econômica é a raiz do maior mal social de todos os tempos, enquanto que o presidente Baraka Obama a definiu como sendo o maior desafio do nosso século. Uma pesquisa de opinião na Europa e Estados Unidos revelou que a maioria das pessoas acredita que a desigualdade econômica é um mal pior do que AIDS, conflitos religiosos e ameaças nucleares. Diante de tanta indignação ao problema da desigualdade econômica, observamos ao mesmo tempo o sucesso eleitoral de políticos como Donald Trump nos Estados Unidos e Dória em São Paulo. Esses políticos não possuem uma agenda econômica igualitária, mas suas ideias de campanha foram amplamente aceitas pelos eleitores. Como podemos explicar essa aparente contradição?

Para responder a esta pergunta, iremos recorrer a um estudo recente publicado na revista Nature Human Behaviour realizado por Christina Starmans, Mark Sheskin e Paul Bloom, todos professores da renomada Universidade de Yale nos Estados Unidos. Este estudo mostrou que não existe evidência de que pessoas (eleitores) se sentem incomodadas pela desigualdade econômica. Na verdade, o que as incomoda é a inexistência de justiça econômica, ou seja, a inexistência de critérios meritocráticos, embora não igualitários, para distribuição da riqueza econômica. Notem que igualdade econômica e justiça econômica são conceitos próximos, mas ainda diferentes.

Em outras palavras, o estudo mostra que o que causa indignação ao eleitor é ter que estudar anos a fio e não conseguir um bom emprego, enquanto aqueles que estudam pouco, mas se locupletam em acordos políticos, acabam obtendo muita riqueza e poder. O estudo mostra que o eleitor aceita a desigualdade econômica quando ela resulta do pagamento justo ao trabalho (meritocracia), mas não aceita a injustiça econômica pois ela elimina toda forma de ascensão social via esforço e mérito individual. De uma forma bem simples, se 80% da riqueza mundial tiver que pertencer a poucas pessoas, então o eleitor entende que é justo que ela pertença a pessoas que trouxeram grandes contribuições para a humanidade, mas considera errado que ela pertença a indivíduos que enriqueceram através de empréstimos fraudulentos junto ao BNDES ou através de recursos desviados da Petrobrás. Portanto, não é a desigualdade que os incomoda, mas a falta de justiça econômica.

As eleições recentes em São Paulo e nos Estados Unidos mostram que o político que conseguir entender este sentimento, terá grandes chances de vencer as próximas eleições. De fato, ao explorar exaustivamente a ideia de que o cidadão americano tem sido tratado injustamente (seja pelas elites políticas, seja por outros países), Trump constrói uma plataforma eleitoral baseada no fim de programas sociais (ObamaCare), na redução de impostos e na renegociação de acordos comerciais. Note que todas essas medidas não contribuem para uma sociedade mais igualitária, mas sim para uma sociedade economicamente mais justa, indo exatamente ao encontro das expectativas dos eleitores. Da mesma forma, ao explorar a baixa qualidade do transporte público e de sugerir novas alternativas para o agendamento de exames médicos, João Dória consegue trazer ao eleitor a perspectiva de que o mundo pode ser mais justo, embora desigual. As próximas eleições deverão acentuar essa tendência no Brasil, com a derrota dos partidos políticos que defendem uma sociedade mais igualitária, mas que ao mesmo tempo criticam formas de promoção de justiça econômica tais como a manutenção e o fortalecimento da operação lava jato.

Luiz Renato Regis de Oliveira Lima ‐ Professor titular do departamento de economia da UFPB 



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