Paraíba

Professor da UFPB discute desenvolvimento tecnológico de João Pessoa com projeto ‘Polo Digital’

Segundo o jornalista Walter Santos, a iniciativa pretende congregar startups com viés em inovação tecnológica, fomentando o desenvolvimento econômico a competitividade e a geração de emprego e renda


01/03/2018



O professor de economia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Erik Figueiredo, discute o desenvolvimento tecnológico de João Pessoa com o projeto ‘Polo Digital’, no Centro Histórico. O artigo semanal é uma parceria do Departamento de Economia da UFPB com o Grupo WSCOM.

“João Pessoa deixa o seu recado: os esforços de revitalização de Centros Históricos precisam ser economicamente (tecnologicamente) sustentáveis“.

Confira o artigo na íntegra:

Modernidade à base de cimento e zinco

Por Erik Figueiredo

A co-produção Franco-Brasileira “Narradores de Javé” (Diretora: Eliane Caffé, RioFilme, 2003) relata o drama de uma cidade do interior do Nordeste prestes a ser submersa pelas águas de uma represa. Buscando evitar a inundação ou, em última instancia, justificar uma indenização, os moradores tentam provar a relevância do patrimônio histórico no município.  Desprovidos de qualquer tipo de registro documental, os ‘Javeenses’ recorrem a um contador de histórias local conhecido como Antonio Biá, protagonizado pelo ator paraibano José Dumont. A tarefa de Biá é redigir a história da cidade, com destaque especial para os feitos do seu povo. Durante sua jornada, Biá esbarra em contos confusos e desencontrados, descobrindo, enfim, que a cidade não possui feito algum. Não há patrimônio histórico, tampouco glória em seu passado. A cidade então é encoberta pelas águas da represa.

A história de Javé se parece com a de centenas de municípios nordestinos. Não falo da inundação – talvez Petrolândia em Pernambuco tenha vivido algo similar -, mas sim do total desprezo pela cultura e/ou pelo patrimônio histórico local. Algumas cidades podem até não apresentar riquezas culturais expressivas, mas quase todas elas fazem questão de apagar o pouco que resta. Há exceções, é claro. A cidade natal do ator José Drumont, Bananeiras-PB, é agradável e cheia de casarões antigos. Seu centro histórico é aproveitado como um fator de atração para os moradores e visitantes. Os cafés, restaurantes e demais estabelecimentos comercias preservam suas fachadas, respeitando o passado sem perder as comodidades do presente. 

Seguindo a mesma direção, porém, com um foco voltado para o desenvolvimento tecnológico, João Pessoa começa a desenhar um projeto para o ‘Polo Digital’.  Trata-se de um Arranjo Produtivo Local (APL) de tecnologias da informação, comunicação e cultura. Nas palavras de um dos seus idealizadores, o jornalista Walter Santos, a iniciativa pretende congregar startups com viés em inovação tecnológica, fomentando o desenvolvimento econômico a competitividade e a geração de emprego e renda. (Maiores detalhes aqui: http://www.ufpb.br/content/equipe-do-ci-colabora-com-criação-do-polo-digital-de-joão-pessoa). Neste sentido, João Pessoa deixa o seu recado: os esforços de revitalização de Centros Históricos precisam ser economicamente (tecnologicamente) sustentáveis.

Em verdade, há outros exemplos próximos a nós. Cidades como Recife e Salvador têm demonstrado que as suas áreas históricas não são economicamente mortas.  Seus projetos de revitalização do patrimônio histórico, iniciados ainda na década de 1990, começam a render frutos no presente. Capitaneados pelo poder público e abraçado pela iniciativa privada, áreas completamente abandonadas (como a zona portuária de Recife), passaram a ser disputadas por restaurantes, bares e casas de shows. Uma iniciativa que agrada aos olhos e ao bolso do empresariado local. 

Infelizmente, isso não é regra. A cidade natal do autor dessa coluna, Conceição-PB, por exemplo, faz questão de não olhar para trás. A praça antiga foi completamente destruída. Os casarões da rua da Igreja Matriz, desfigurados e o pouco da história local jogadas na sarjeta. Nem se pode alegar que isso foi feito em nome da modernidade, pois, não há nada de moderno ou funcional no local. Têm-se apenas portas de metal e janelas de madeira de segunda linha. O centro histórico se transformou em um locus comercial de gosto duvidoso. Alguns bravos moradores tentaram, em vão, alertar para o processo de destruição do patrimônio histórico.  Os representantes do legislativo, no entanto, ignoraram os apelos taxando-os de impopulares. Um projeto de lei foi redigido por um cidadão engajado e devidamente engavetado. Talvez por não se tratar dos famosos votos de aplauso ou das concessões de títulos de cidadania – ações que parecem mais do que justificar as atividades parlamentares. Enfim, a própria representação política parece refletir a pobreza da modernidade local construída à base de cimento e zinco.

Por fim, os exemplos  de João Pessoa  e da pequena Bananeiras, cada um em sua escala, demonstram que é possível aliar o respeito ao passado e a viabilidade econômica. A restauração do legado histórico pode e deve caminhar ao lado do empresariado local a partir da criação de incentivos e da oferta subsídios que viabilizem a adequação do novo ao antigo.  Lembremos de Javé: é preciso preservar o passado, sob a pena de ser inundado pelas águas da irrelevância histórica.      



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