Economia & Negócios

Professor da UFBa critica forma de pensar da ideologia de gênero

ARTIGO


09/11/2017



O professor de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBa), Wilson Ferreira Menezes, critica em seu novo artigo no Portal WSCOM a forma de pensar da esquerda baseado em temas como a ideologia de gênero.

Para o professor, "essas são, sem dúvida, formas de pensar, agir e viver que, levadas às últimas consequências, condenam a própria existência humana".

Leia:

'A ÓPERA INOPERANTE DA ESQUERDA OU A DESUNIÃO NÃO TEM MAIS FORÇA

Wilson F. Menezes

Professor da UFBa

As leis determinísticas da história chegou à terra prometida do Néant. O luta pela base econômica se esgotou, sem apresentar bons resultados. Assim se pode resumir a estória da esquerda até os anos 60, tal como anunciada no artigo anterior. Nova concepção foi então anunciada, tendo como protagonista o lumpen social, aquela porção desprezível e degradada do proletariado. Nessa nova orientação, emergem dois movimentos: contra a cristandade e a favor da ideologia de gênero.

Alguns antecedentes podem ser vistos nos escritos de Virgínia Wolf e Simone de Beauvoir. Autoras pouco lidas, menos ainda entendidas. Mas para que entender e interpretar se o que interessa é transformar o mundo? Virgínia Wolf defendia ideias estapafúrdias em que o estudo universitário, a igreja, a família e a tradição não deveriam ter a menor importância. O novo é sempre melhor que o velho, devido exatamente a sua novidade. Em sua concepção de universidade, ricos e pobres, tolos e inteligentes deveriam se encontrar e cooperar. Mas será que valeria a pena a inclusão dos excluídos? Só restaria queimar os livros e derrubar as escolas. Por outro lado, como qualquer farda representava o domínio nazifascista masculino, nada deveria ser feito para auxiliar no esforço de guerra. Aquela dos alemães e seus canhões. Que mundo virtuoso e perfeito! É melhor ter medo.

Simone Beauvoir reinou em maio de 68, quando a brisa do Sena beijava e balançava estandartes, ainda não rotos pois a batalha mal se iniciava, mas divinas promessas exalavam muita esperança. A liberdade estava prestes a chegar, apenas porque todos se propunham alcançá-la. Para que limites? Tudo é possível quando se pode gritar: “Renversez les évidences”. “Réalistes, demandez l’impossible”. O nosso “proibido proibir” apenas traduzia essa vontade. Beauvoir apontava a necessidade de as mulheres não se deixarem intimidar por elogios interesseiros, afinal “não se nasce mulher, torna-se”. Chegou a hora de se fazer uma profunda distinção entre sexo e gênero, a mulher não pode ser biologicamente condenada a um destino social e economicamente subordinado ao homem. A concepção de Beauvoir considerava a gravidez como uma grande limitação a autonomia da mulher, na medida em que cria laços biológicos entre mãe e filho. Interessante, notar a lembrança no mínimo engraçada de Sartre (falocrata?): “Réfléchissez, vous êtes une femme, vous n’avez pas été élevée comme un garçon”. Com espinhos e mentiras, Beauvoir, no entanto, escondeu até a morte seu amor pelo próprio sexo.

É nesse contexto de ideias e ideais que sobressai uma forma de luta “inovadora”: destruir o sistema pela negação da cultura. Essa foi a grande contribuição de Gramsci. Para ele a prática revolucionária requer uma teoria isenta de erros. O aprendizado, a sabedoria, a capacitação e o direito de legislar estavam do lado dos oprimidos, a vitória seria fácil de ser alcançada, desde que se adicione a esse aparato a figura do intelectual orgânico, com a função de direcionar e liderar a “grande transformação”. Controlar os meios de comunicação, a educação, a religião, a família e a economia são apenas formas para se conquistar uma hegemonia social. Massas e intelectuais orgânicos, unidos em um bloco histórico e comandados pelo príncipe moderno, acabarão gestando a nova sociedade. Maior voluntarismo, impossível.

O movimento contra a cristandade e a ideologia de gênero vem reforçar esse tipo de ataque. Para essa linha de pensamento, as pessoas podem encontrar a felicidade independentemente de suas orientações e vontades sexuais, sem nenhum tipo de limite religioso, ético, moral, biológico ou social. Essa é a razão para que a igreja católica, favorável a proteção da família e contrária a prática do aborto, por exemplo, tenha atraído a fúria de organizações internacionais, dentre as quais se destaca a ONU. “Emancipar” a sociedade das religiões cristãs, em particular a católica, passa a ser a grande meta. O objetivo é fundar uma ética laica voltada a todo ser humano, sem vínculos religiosos, muito menos os judaico-cristãos, mas com total leniência em relação ao islamismo e ao movimento comunista internacional. Assim, os direitos humanos devem substituir o direito natural.

Esse tem como base a tradição, hábitos e costumes, enfim na cultura. É a partir dele que se pode montar toda uma estrutura de leis, às quais todos têm que ficar submetidos. Evitam assim os excessos e equívocos. Esse argumento, diretamente inspirado na religião, trata o mundo como uma expressão da vontade divina. Deus é que deu a vida ao homem, por isso mesmo ele deve respeitá-la, não podendo dispor dela ao seu bel prazer.

Ademais, o temor de uma explosão demográfica no planeta, fez ressurgir um malthusianismo revigorado. A ONU e inúmeras Organizações Não Governamentais espalhadas pelo mundo passam a aconselhar práticas tais como: uso de anticoncepcionais, aborto livre, casamento homossexual dentre outras. Tradição, região, hábitos e costumes não importam mais. A ideologia de gênero se encarrega de conduzir a negação da família, do sexo e da religião, bem como orientar o controle dos instrumentos de informação e formação das pessoas. Gesta-se um mundo sem passado e sem futuro, só o presente importa. 1984 não viu tudo.

 Essa ideologia tem como meta, não apenas acabar com o privilégio masculino, mas a própria diferença entre os sexos, dado que para ela culturalmente as diferenças biológicas não importam. Dessa forma, com base em um argumento apenas teórico, a questão do gênero tem sido vista como uma construção cultural em que o homem feminino e a mulher masculina são apenas duas possibilidades dentre as muitas combinações possíveis de papéis sociais. No entanto, estudos relativos a neurociência e a psicologia evolutiva, partindo de testes empíricos, apontam diferenças inatas nas preferências e comportamentos sexuais de homens e mulheres. Também vale destacar que os países nórdicos (Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca), desde 2010 vem questionando os fundamentos científicos dessa ideologia.

 Os movimentos contra a cristandade e a favor da ideologia de gênero necessariamente entende que é possível transformar a sociedade e fazer tabula rasa do passado. Ora, uma criança quando nasce é como uma folha de papel em branco, onde se pode escrever o que se queira. Para essa ideologia é chegada a vez de o Estado intervir no controle populacional, com práticas que deixam a China de Mao bastante tímida. Roubaram o feminismo e fizeram mal uso dele? Sei lá. Apenas vemos estímulos em prol de uma humanidade desumana e despida de todo e qualquer aspecto cultural e civilizatório. Práticas de pedofilia, aborto, prostituição, incesto, zoofilia e mutação sexual através de cirurgias médicas, que se somam a condenação do cristianismo, fazem surgir um novo mundo novo, não tão admirável assim. Essas são, sem dúvida, formas de pensar, agir e viver que, levadas às últimas consequências, condenam a própria existência humana. Por enquanto só nos resta um grito rouco, mas também cheio de ironia: Viva o lumpen! Viva a sociedade do futuro sem passado. PeTralhas de todo mundo uni-vos!'
 



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.