Sociedade

Professor aposentado Iedo Fontes lembra de cenas da Ditadura de 1964 a partir de Pombal diante da resistência e de atrocidades do Golpe


31/03/2025

Walter Santos

As memórias dos muitos efeitos causados pela Ditadura Militar, hoje completando 61 anos, ainda perduram ente gerações de paraibanos e brasileiros perseguidos pelo Golpe de 1964. No caso do professor aposentado Iedo Fontes, natural de Pombal, ainda conviveu com a Ditadura do Chile onde foi preso no Estádio Nacional.

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Em depoimento, ele comenta diversas fases passadas e vividas. Eis a seguir:

“Hoje, 31 de março de 2025, está completando 61 anos do golpe militar de 1964. Em 1964, eu estava com 18 anos. Portanto, tive uma experiência de resistir ao golpe militar de 1964 na Cidade de Pombal, ao lado de muitos jovens de minha geração.

Lembro-me muito com idades mais avançadas de Plínio Leite Fontes e Antonio Elias de Queiroga. A manifestação em frente à Prefeitura foi encerrada com ameaças dos policiais por orientação da família Pereira ligada às forças conservadoras da Cidade.

No Estado de Direto onde as instituições funcionam plenamente violar a Constituição pelo uso da força e crime de lesa-pátria. Foi exatamente isto que os militares fizeram em 1964. Desde a independência em 1822 até o golpe militar de 1964, o Brasil atravessou períodos de golpes e ameaças a ordem constitucional. Portanto, o Século XX seria marcado no Brasil por sucessivas tentativas de ruptura da ordem constitucional.

O processo sucessório desencadeado após o suicídio de Vargas, levaria, em 1955, o ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek ao Poder, tendo sido eleito como vice-Presidente João Belchior Marques Goulart. A conspiração para impedir a posse de JK começou uma semana após a proclamação do resultado eleitoral.

A família Marinho pregava abertamente o golpe militar. Para evitar o golpe, o marechal Henrique Dufles Teixeira Lott , então Ministro da Guerra, reuniu em seu gabinete alguns oficiais de sua confiança para evitar o golpe.

Lott foi candidato a presidente da República, porém, foi derrotado por Jânio Quadro. Jânio, era um político carismático e populista. Ele esteve em Cuba, saindo do País, muito impressionado com o modelo desenvolvimentista adotado por Fidel Castro na Ilha.

A renúncia de Jânio oito meses após assumir o governo provocaria a maior crise institucional da história política do Brasil. Para complicar ainda mais o quadro politico nacional, no momento da renúncia de Jânio, o vice-Presidente se encontrava na China de Mao Tsé-Tung.

A posse de Jango foi resultado de um acordo com os setores golpistas, que introduziu no Brasil o “parlamentarismo”. Na política externa, Jango manteve a política independente de Jânio Quadro.

No dia primeiro de abril de 1963, entra em cena a figura de Gilberto, com o apoio de banqueiros, latifundiários, grandes empresários nacionais e pelo Departamento de Estado americano, fazendo uma defesa da legalidade em decorrência da ameaça comunista.

Pretexto, para o golpe que estava sendo articulado por eles. Com a garantia de que a marinha americana se encontrava nas costas brasileiras, os militares não tiveram mais temores em agir. Os jornais com algumas exceções estamparam no dia primeiro de Abri: A REVOLUÇÃO VENCEU! O golpe foi recebido com satisfação pelo governo norte-americano, ao constatar que o Brasil não seguiria o mesmo caminho de Cuba.

O regime militar de 1964 torturou, matou e sequestrou, enterrando em valas comum centenas de homens e mulheres que ousaram desafiá-los. Cometeram crimes de lesa humanidade, reconhecidos pela nossa Constituição de 1946 e pelos organismos e convenções internacionais. Em 1979 o modelo econômico e politico do regime militar esgotou-se. Em síntese, o projeto Brasil-Potencia fracassa.

O desequilíbrio do balanço de pagamentos, o acentuado endividamento externo, a queda continuada das exportações, o elevado custo da produção interna provoca o aumento da inflação (chegando a 100%) em 1982, somando-se a isso a falta de crédito internacional para financiar o desenvolvimento.

Os descontentamentos gerados aos trabalhadores pela via do arrocho salarial, criaria um amplo e combativo movimento sindical que os militares já não podiam reprimir.

Passados 61 anos do golpe militar no Brasil, ainda não conseguimos sarar nossas feridas. Na véspera de completar 79 anos, passei por duas experiências traumáticas: o golpe militar de 1964 no Brasil e o golpe de 1973 no Chile, de Salvador Allende”.



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