Política

Privatização dos Correios gera divergências no governo

GOVERNO FEDERAL


22/09/2017

O governo tem divisões sobre a eventual privatização dos Correios. A estatal acumula prejuízo em torno de R$ 4 bilhões nos dois últimos anos e estão absolutamente descartados aportes do Tesouro Nacional para tirá-la de sua delicada situação financeira.

A equipe econômica e ministros com gabinete no Palácio do Planalto, como Moreira Franco (Secretaria-Geral), têm simpatia pela privatização da empresa. Essa posição, contudo, não é nada consensual. Diante da discórdia, poucos acreditam em uma decisão a tempo de mudar efetivamente o controle acionário da companhia até o fim de 2018.

Alas do Ministério do Planejamento, que detém a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), e o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), a quem os Correios estão subordinados na estrutura administrativa, preferem outra fórmula.

Eles apoiam a segregação da empresa em unidades de negócio diferentes. A ideia é separar atividades lucrativas em subsidiárias independentes e buscar sócios privados, seja por meio de parcerias estratégicas com grandes grupos ou pela abertura de capital. Os segmentos de logística, encomendas expressas e serviços financeiros são mencionados. Por essa fórmula, essas três unidades – sob o guarda-chuva da CorreiosPar – gerariam receitas para bancar operações altamente deficitárias da estatal, principalmente serviços postais.

Segundo interlocutores do presidente Michel Temer, ele já se posicionou algumas vezes contra a privatização dos Correios por entender que uma empresa voltada à prestação de serviços públicos e tão espalhada por todo o território nacional precisa ser mantida sob controle da União.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou em Nova York que a realização de uma oferta pública inicial de ações (IPO) dos Correios seria uma boa alternativa. Segundo ele, ainda está em estudo uma eventual privatização da estatal ou a oferta de ações. "As duas hipóteses estão sendo estudadas. É uma coisa que estamos olhando com bastante profundidade, muito cuidado", disse.

Meirelles lembrou que outros países fizeram privatizações e foram bem-sucedidos. "E essa questão está cada vez menos relevante na medida em que, principalmente no caso das encomendas, cada vez mais existe a presença de empresas privadas, inclusive empresas internacionais disputando o mercado, o mercado mais competitivo", afirmou, após reunião com investidores no Bank of America. "No final, o que interessa é o bom serviço à população e é isso que estamos esperando, mas não há decisão tomada."

A possibilidade de incluir estudos sobre uma eventual venda do controle acionário dos Correios chegou a ser considerada na última reunião do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que aprovou a desestatização da Eletrobras e a concessão do aeroporto de Congonhas (SP), além de uma análise sobre a Casa da Moeda. O governo considerou, no entanto, que isso seria muito prematuro porque ainda não existe sequer diagnóstico preliminar.

A direção atual dos Correios, sob comando do ex-deputado federal Guilherme Campos (PSD-SP), tem conseguido conter o rombo da empresa. O Ministério do Planejamento estimava um déficit de R$ 1,3 bilhão em 2017.

Em maio, as contas começaram a se inverter e houve o menor prejuízo mensal desde 2013. Campos ainda sonha com um balanço "rosa" – um vermelho bem menos impactante – neste ano e relatou ao Planalto a perspectiva de fechar "quase" no zero a zero.

Mais de 80% do déficit no último biênio se refere à Postal Saúde, empresa criada em 2014 para gerir diretamente o convênio médico dos empregados. Ela é alvo de uma tentativa de acordo com os sindicatos, que é mediada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Atualmente, para cada R$ 100 em despesas médicas do plano, a estatal banca 93% e os beneficiários colaboram só com R$ 7. Os Correios fizeram uma proposta que vai resultar em corte de até dois terços das despesas de custeio da Postal Saúde.



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