Geral

Primeiros Rabiscos de Janeiro


03/01/2012

Começo o ano, lendo a crônica “O ano em que não terminamos”, de André Ricardo Aguiar, publicado no primeiro dia de 2012, no Jornal da Paraíba. Gosto da poesia de André, das suas palavras, e nesse começo de ano, da sua prosa sobre círculo vicioso, escalas de tempo, patinação no caos, embriaguez, trapaças, variação de tempo, sonhos, e o que sobrevive ou não, nos nossos gestos da memória. E ele conclui: “O fim do ano é um nó!”. Mas também vislumbra uma esperança de que não é tão difícil desatá-los. E nos brinda e nos convida à namorar às nuvens, versos de Wislawa Szymborska poetisa polonesa, ganhadora do Nobel de Literatura de 1996, cujo livro, recém lançado no Brasil, está ali na minha mesinha de cabeceira.

Identifiquei-me completamente com a crônica de André, pois como falei no facebook, sou melancolia no último dia do ano. Fico ensimesmada em achar que aquela estrada terminou, que não fiz tudo, mas, ao mesmo tempo, sonho, tomo banho de mar para agradecer tanto, e pedir mais ainda, geralmente uma lista grande , pois hoje temos urgência em tudo que fazemos.

Olhando para trás, fiquei feliz de ter tido saúde para dar e vender; usufrui dos momentos prosaicos da vida; tive muito trabalho, e me lancei em desafios com tantas aulas, tantos assuntos, e tantos programas de literatura. Reclamei bastante, mas foi bom ter dado conta. Pintei a casa, arrumei tantas coisas, joguei tanto lixo fora, e por incrível que pareça, tudo pede novas arrumações. Ai Ai! Como dá trabalho ter uma casa no mínimo organizada. Sim! fiz as pazes com o cidadão cachorro – Boris, um labrador do meu sobrinho Matheus, que veio morar no meu quintal, e aos poucos perco o medo desse elemento que me olha com o olhar de cão sem dono…

Conheci Brasília em 2011. Finalmente visitei a Capital do Brasil. Senti o cheiro do Cerrado, e o vermelho magenta da região central do Brasil. Agora já posso fazer vôos maiores. Afinal me sentia um pouco encabulada de ter visto o mundo lá fora e nunca ter ido à capital.

O ano novo, com Rita Lee nos palcos lançando perfumes antigos, não poderia ser menos que esfuziante. Infelizmente perdi Antonio Nóbrega, pois afinal, não se pode ter tudo nessa vida. Tinha encontro com familiares, brindes, muito Pro-Seco, lentilhas, porco ciscando nas assadeiras, e para frente…, romã para dar sorte e prosperidade, e rock, não é bebê? Fui dormir feliz, como uma verdadeira Ovelha Negra.

Parabéns pela escolha dos artistas da virada, e pela decoração natalina da cidade. Achei tudo muito bonito e original.

Vou à praia no Reveillon já há 10 anos, e confesso que está ficando inviável. Muita gente, muito banheiro químico, muito xixi, que não sei como resolver esses nós. O turista finalmente descobriu João Pessoa, para minha tristeza. Sou egoísta e queria esse lugarzinho só para mim. Pude constatar isso in loco, em Coqueirinho. João pessoa era a cidade esquecida entre Fortaleza, Natal, Maceió e Recife. Bem que os governos poderiam ter vislumbrado que, um dia eles invadiriam nossas praias, e, finalmente chegaram. E agora, estamos com a cidade entupida, e falta tanto…principalmente serviço e capacitação. Não temos conhecimento acumulado na área, e acho que levará um bom tempo até que tenhamos praias limpas, espaços organizados, e conforto para quem vem de fora e para quem daqui não sai.

Dia primeiro o ano, é só lentidão. Um certo mormaço, enfado, e ressaca de tudo. Até a TV está de férias, e os programas reprisados, me deram a alegria de rever a entrevista de Tulipa Ruiz (minha cantora de 2011), Tiê, e Jeneci, no Gnt, meu canal preferido também. Mas, como todo final e início de ano trás tragédias, fiquei muito triste com a morte prematura do jornalista e crítico de cultura, Daniel Piza, quem eu gostava muito de ler aos domingos, no Estado de São Paulo.

Hoje, realmente o primeiro dia do ano (dia 2 de janeiro), misteriosamente amanheci toda animada com esse mês de calor, verão e luz, sentindo energia para iniciar novo ciclo. Nada de ano de muletas, nem de farpado, como disse André. Ando fazendo as pazes com “a vida que insiste em viver na gente” e aceitando meus ritmos, minhas lacunas e dando uma oportunidade à meus dias.

Para 2012, tenho urgência em cuidar do corpo. Dos movimentos. Da agilidade. Da caminhada. Do Pilates. Da musculação…Ufa! e de organizar esses textos num primeiro livro. Já não era sem tempo! Mas como conseguir trabalhar nas férias? Depois de um ano tão exaustivo. E o pior, descubro cotidianamente que, o ritmo frenético dos dias de hoje me pegaram de cheio. E percebo que não sei mais ficar de férias em casa. O cotidiano me traga. E o pior, eu gosto! A segurança do dia a dia; dos afazeres; das obrigações; das demandas; me tomam os dias. Acho que para tirar férias literalmente vou ter que ir para o Havaí! Bem longe da domesticidade, quem sabe pego onda, danço Hula Hula, e me dou de presente um colar e um sarongue florido. Como isso tá difícil de acontecer, vou ali mesmo dar um mergulho, e comer um caranguejo.

É tudo que promete as minhas férias!

Boas Férias!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 2 de Janeiro, 2012



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