Policial

Polícia já tem pista de homem que xingou, atropelou e matou homossexual


04/05/2013

Nascido e criado em Raul Bastos, uma localidade de Alcântara, em São Gonçalo, Eliwellton da Silva Lessa nunca tinha, em seus 22 anos de vida, se afastado muito da vizinhança. O Rio de Janeiro, por exemplo, nem conhecia. Há três meses, no entanto, conseguiu um emprego de faxineiro numa academia de ginástica de Botafogo. Foi o que bastou para que ele se apaixonasse pela cidade e começasse a traçar planos de economizar parte do salário para deixar a casa que dividia com a mãe e alugar um quarto em Copacabana. O sonho de Eliwellton foi interrompido brutalmente na madrugada de segunda-feira. Quando passava com dois amigos por uma das avenidas mais movimentadas de Alcântara, ele foi xingado por ser gay e se envolveu numa briga. Minutos depois, o homem que começou a confusão voltou dirigindo uma van e atropelou Eliwellton, passando o veículo três vezes por cima dele, que morreu quinta-feira.

A polícia já conseguiu, através de câmeras de vídeo da vizinhança, ver o momento em que Eliwellton foi atingido. A placa da van foi identificada parcialmente — apenas os números estão visíveis na filmagem. Veloso diz, porém, acreditar que, ainda neste fim de semana, o agressor, conhecido pelo apelido de "Papai” estará identificado e com o pedido de prisão expedido. Apesar de amigos garantirem que o crime foi homofóbico, o caso foi registrado na 74ª DP (Alcântara), que investiga o caso, como homicídio doloso.

— Entre a briga e o atropelamento se passaram quase vinte minutos. O começo de tudo pode ter sido homofóbico, mas o desfecho foi por vingança — diz o delegado Alexandre Veloso.

O jovem teve a coluna quebrada em três lugares, fraturou três costelas, quebrou a bacia e teve o pulmão perfurado. Mas ficou lúcido ao ser socorrido e chegou a insistir com os enfermeiros do hospital Alberto Torres, para onde foi levado, que guardassem seus tênis porque ele “tinham custado R$ 200”.

Na tarde de sexta-feira, após o sepultamento de Eliwellton no Cemitério do Pacheco, os dois amigos que testemunharam o atropelamento deram detalhes da agressão:

—Estávamos caminhando pela rua, conversando, quando um homem começou a mandar beijinhos, nos chamar de gays. Wliwellton reclamou e começou uma briga. O cara pegou uma barra de ferro, tivemos que apartar a briga. Quanto tudo acabou, saímos caminhando para um ponto de mototáxi. A van veio correndo. O motorista jogou o carro em cima da gente. Eu escapei, mas ela acertou o Eliwellton. O cara passou três vezes por cima dele. Não dá para entender — contou um dos amigos.

Um deles contou que Eliwellton estava entusiasmado com a festa que daria, no dia 23 de junho, na casa de uma amiga, para comemorar seu aniversário de 23 anos.

— Ele estava pensando em comprar 20 caixas de cerveja. Ele convidava todo mundo que ele encontrava na rua. Era um cara festivo, crianção — disse Bruno Assis.

Após o sepultamento, um grupo de amigos do jovem, todos do mesmo terreiro de umbanda que Eliwellton frequentava há 7 anos, fizeram protestos na Estrada do Pacheco. Eles queimaram galhos de árvores e chegaram a interromper o trânsito pedindo justiça. A mãe do jovem, que trabalhava com ele, também como faxineira, na academia de Botafogo, foi embora amparada por parentes.

O coordenador do Rio sem Homofobia, Cláudio Nascimento, esteve na delegacia para acompanhar o caso. Ele pede que qualquer homossexual agredido em São Gonçalo pelo mesmo motorista entre em contato pelo Disque-Cidadania LGBT (0800-0234567).



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.