Futebol

“Pobre, mas abusado”, Liverpool fica perto de troféu histórico no Inglês

Abusado


21/04/2014

 No mais recente festival de previsões e prognósticos que marca a pré-temporada inglesa um pouco mais do que os vizinhos europeus por conta da maior visibilidade global do Campeonato Inglês, chamou a atenção em pessimismo que mesmo jogadores do Liverpool reservaram para as chances do time na temporada 2013/14. A maior estrela da equipe, o inglês Steven Gerrard, de 33 anos, cogitou publicamente a possibilidade de se aposentar sem jamais ser campeão inglês, e analistas viam uma vaguinha no G4 motivo para um desfile em carro aberto pelas ruas das cidades dos Beatles.

A três rodadas do fim da temporada, no entanto, Gerrard e seus companheiros estão perto do primeiro título inglês do Liverpool em 24 anos. Uma reviravolta ainda mais impressionante diante do fato do clube ainda estar se recuperando de uma desastrada aquisição por milionários americanos que reduziu ainda mais sua capacidade de competir num mercado já inflacionado pela presença de time com contas bancárias mais robustas, como os dois Manchesters, o Chelsea e mesmo o Tottenham – apesar de ter aparecido em 12o lugar na edição de 2014 da lista dos clubes mais ricos do mundo, o Liverpool teve o orçamento de compra de jogadores encolhido substancialmente.

No campo, porém, o time tem sido aplaudido por uma campanha em que um estilo de jogo "abusado" resultou no ataque mais positivo da Premier League, com 96 gols e, mais importante, o topo da tabela, com cinco pontos de vantagem para o segundo colocado, o Chelsea. No próximo domingo, por sinal as duas equipes se enfrentarão no estádio de Anfield, com o time da casa embalado por uma série de 11 vitórias consecutivas. O Liverpool já garantiu o retorno à lucrativa Liga dos Campeões da Uefa, depois de quatro temporadas de ausência.

A eficiência no ataque, comandada pelo uruguaio Luis Suarez com ajuda dos atacantes ingleses Daniel Sturridge e Raheem Sterling, bem como do brasileiro Phillipe Coutinho, compensa uma certa fragilidade defensiva (44 gols em 35 jogos) e transformou o treinador norte-irlandês Brendan Rodgers num dos ”professores" mais elogiados da temporada europeia. "Se o Liverpool for campeão este ano, o feito será sensacional não apenas numa época de mega-investimentos, mas pelo fato de que o time joga um futebol bonito, diferente da rigidez tática que parece imperar na Inglaterra", diz Oliver Kay, do jornal inglês "The Times".

O entusiasmo aumenta diante do que está sendo visto como boas notícias para a seleção inglesa. Ao contrário dos principais rivais, que abriram o cofre para importar astros de Brasil, África e Espanha, a espinha dorsal do Liverpool conta com jogadores Made In England: a Sturridge e Sterling, por exemplo, juntam-se o meia Jordan Henderson e o lateral John Flannagan. Sem falar em Gerrard, reinventado como um volante passador e mortal nas bolas paradas. Roy Hodgson, treinador da seleção inglesa, deve estar acompanhando com atenção um grupo que lhe pode ser bastante útil na missão de escapar de um grupo com Itália, o Uruguai de Suarez e a Costa Rica na Copa do Mundo.

A "pobreza" do Liverpool precisa ser assim mesmo, entre aspas. Afinal, o time da cidade dos Beatles gastou o equivalente a R$200 milhões em jogadores na atual temporada, por mais que apenas o goleiro belga Simon Mignolet tenha vingado como titular absoluto. No entanto, o investimento foi menor que os de Chelsea, Tottenham e City, que romperam a barreira dos R$ 400 milhões na temporada, e do Manchester United, que ultrapassou R$ 300 milhões.

O que tem sobrado é ousadia, sobretudo em casa: Anfield, o estádio para 45 mil pessoas que o Liverpool tanto precisa ampliar para "malhar" o músculo financeiro, nesta temporada foi um "alçapão" em que o time conquistou 46 de 51 pontos possíveis, com apenas uma derrota em 17 jogos e uma média de três gols por partida.

A Premier League ainda não está decida, apesar dos tropeços de Manchester City e Chelsea, ambos em jogos contra o quase rebaixado Sunderland terem deixado Gerrard e companhia em pole position. Mas depois de passar as últimas décadas como coadjuvante na Inglaterra, com a nobre exceção da conquista da Liga dos Campeões de 2005, o Liverpool parece ter se reinventado com uma eficiência que pegou mesmo seus operários de surpresa.

"Começamos a temporada com o objetivo de ficar entre os quatro quando sabíamos que não estávamos competindo de igual para a igual com nossos rivais diretos, ninguém falou em título mesmo quando os resultados foram aparecendo na segunda parte da temporada. É preciso que a gente mantenha a cabeça no lugar para continuar fazendo as coisas no campo em vez de pensar na tabela", afirmou ao UOL Esporte o meia brasileiro Lucas Leiva, que apesar de prejudicado por uma lesão e a ascensão de Gerrard nesta temporada se viu de volta à seleção brasileira – foi convocado por Felipão para os amistosos contra Coréia do Sul e Gana.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //