Saúde

Passar fluidos vaginais em bebês nascidos em cesárea pode ser arriscado

NOVA MODA


26/08/2017

 As mães não deveriam abraçar a nova moda de cobrir com flora vaginal os corpos dos bebês nascidos em cesáreas, advertem especialistas.

 A técnica expõe as crianças a bactérias que poderiam ter coberto seus corpos caso tivessem nascido por parto normal.

 A ideia é que as bactérias que se encontram na flora vaginal da mãe treinariam o sistema imunológico dos bebês e reduziriam os riscos de eles desenvolverem asma e alergias.

 Estudos apontam que bebês nascidos de cesáreas têm um risco maior de desenvolver doenças relacionadas ao sistema imunológico. Mas pesquisadores da Dinamarca e do Reino Unido garantem que há pouca evidência de que seja eficaz expô-los às bactérias vaginais após o nascimento – e alertam que isso pode ser mais prejudicial que benéfico.

 Risco de infecção

 A técnica é conhecida por "seeding", em inglês – semeadura, em português. Consiste de deixar um algodão ou gaze absorvendo os fluidos da vagina e depois esfregá-lo na pele, no rosto e nos olhos do recém-nascido.

 Uma prova de que a prática está virando tendência está no informe publicado pela revista de obstetrícia e ginecologiaBJOG em 22 de agosto, afirmando que mais de 90% dos obstetras dinamarqueses já foram questionados por seus pacientes sobre esse método.

 Esse mesmo artigo diz que não há provas de que a técnica beneficie o recém-nascido, assinalando que há apenas um único estudo sobre esse método, realizado com somente quatro bebês.

 E alerta para claros riscos para o bebê, incluindo infecções por bactérias estreptococos do grupo B, E. coli e uma série de doenças sexualmente transmissíveis.

 "Sabemos que está aumentando o número de mulheres que procuram seus médicos para saber sobre a semeadura com bactérias vaginais", afirmou a pesquisadora Tine Clausen, autora do artigo e membro do Hospital de Nordsjaellands, da Dinamarca.

 "Eu compreendo, é fascinante pensar que seja possível imitar a natureza com essa técnica, mas ela está baseada em teorias que não têm provas que a sustentem", disse à BBC.

 Clausen assinalou que provavelmente o algodão não vai conter as mesmas bactérias que seriam transferidas no parto normal, pois estas estariam diluídas em sangue, líquido amniótico e no próprio fluido produzido durante o trabalho de parto.

 Seu conselho para as mulheres é "evitar as cesáreas desnecessárias, tentar amamentar o bebê ao menos até os seis meses e iniciar o contato pele-a-pele o quanto antes".

 Cada uma dessas práticas traz benefícios para o microbioma do bebê, sem riscos.

 Cesáreas desnecessárias

 Na América Latina, as cesárias são muito numerosas. No Brasil, México e Argentina mais da metade dos partos são cesáreas. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é de um percentual entre 10% e 15% apenas.

 O médico Patrick O'Brien, do Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas do Reino Unido, afirmou que "não há uma prova forte de que a semeadura vaginal traga algum benefício".

 "Nós não recomendamos essa técnica até que pesquisas mais detalhadas mostrem que ela não é perigosa e que pode de fato melhorar o sistema imunológico da criança."



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