Economia & Negócios

Para 85% das brasileiras, ida ao salão é arma para se dar bem na carreira

Investimento


06/06/2013

 "A gente tem convênio com 80 empresas do bairro. Muitas delas fecham pacotes para as funcionárias fazerem a unha e mandam desde a diretora até a secretária", diz Roberta de Paula, dona de um salão de beleza na região da Av. Eng. Luís Carlos Berrini, uma movimentada área comercial de São Paulo.

A afirmação da empresária ilustra aquilo que uma nova pesquisa mediu em números. O Instituto Data Popular irá divulgar um levantamento que aponta que 32,2 milhões de brasileiras acima de 18 anos foram a salões nos últimos 30 dias, nada menos que 52% da população feminina nessa faixa etária. Além disso, 85% acreditam que quem anda bem arrumada se dá melhor no trabalho.

Isso porque, como mostram dados recentes, o perfil profissional das mulheres mudou. Nas últimas duas décadas, 11 milhões de brasileiras entraram no mercado de trabalho, e as profissões que ocupam agora são outras. Entre mulheres com mais de 36 anos, apenas uma das cinco carreiras mais comuns envolve lidar com o público – a de vendedora de loja, segunda mais popular, com 8% das vagas. Já entre os 18 e 35 anos, quatro das cinco ocupações mais usuais demandam esse tipo de relacionamento – vendedora, secretária, recepcionista e cabeleireira ou manicure.

"O perfil da nova geração é outro. A filha da cozinheira não quer ser cozinheira, a filha da empregada não quer ser empregada. Por precisarem lidar mais com o público no trabalho, elas vêm os cuidados como necessidade – apenas 30% acham que salão é um luxo", diz Renato Meirelles, diretor do Data Popular e responsável pela pesquisa. "E não é porque aumentou a renda que ela vai mais ao salão, e sim o contrário: ela vai lá porque acha que se estiver mais bonita, vai ganhar mais", afirma.

Como consequência, a pesquisa mostra que os gastos com beleza e higiene mais que dobraram nos últimos dez anos no Brasil. Saltaram de R$ 26,5 bilhões em 2003 para R$ 59,3 bilhões em 2013, segundo projeção do Data Popular feita com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE. A cifra é impulsionada pela camada social que mais cresce e consome no País, a classe média.

– Veja também: na recessão, estrangeiras trocam salões por soluções de supermercados

A chamada classe C deve responder por 47,4% desses gastos neste ano e representam 53% das mulheres que foram aos salões nos últimos 30 dias – o governo considera classe média quem tem renda mensal entre R$ 291 e R$ 1.019 por pessoa da família. A classe alta tem 17% das frequentadoras e 34,2% dos gastos – a diferença entre esses números mostra que são as que mais gastam. Na classe considerada baixa estão 31% das que usaram os serviços e 18,4% dos gastos.

"Durante anos, a mulher da classe C só entrava no salão para atender a madame. Era a manicure, a cabeleireira. Hoje as coisas mudaram, a mulher da classe C é a maior consumidora de serviços de beleza no Brasil", diz Meirelles.

A pesquisa também mediu a frequência com que mulheres de diferentes classes sociais vão aos salões. O dado mostra que não existe diferença significativa entre as faixas de renda. As da classe alta vão em média 2,69 vezes por mês, enquanto as da classe baixa vão praticamente duas vezes (o dado preciso é 1,99). "São números muito próximos. Quando se cuidar vira necessidade, acaba também virando um hábito", afirma o pesquisador.

É o caso da farmacêutica Ariana Fonseca, de 31 anos, que trabalha em São Paulo. "Vou ao salão no mínimo cinco vezes por mês, sendo uma por semana e uma ‘extra’ para fazer o cabelo", diz, enquanto pinta as unhas de vermelho escuro – segundo funcionárias do salão, a cor do inverno. "Acho importante, porque a gente acaba sendo cobrada por isso. Se uma mulher não faz a sobrancelha, por exemplo, já é vista como desleixada", afirma.

Entre as mulheres da classe alta, 8% vão ao salão mais do que quatro vezes ao mês, e 38% vão três ou mais vezes. Na classe média, 21% fazem pelo menos três sessões, enquanto na classe baixa o número cai para 11%. Por outro lado, 22% das que possuem maior renda não foram nenhuma vez ao salão no último mês, dado que chega a 57% entre as que têm renda menor, revela o Data Popular.

"A gente atende muitas mulheres da classe mais baixa que antes não vinham ao salão, mas agora precisam – algumas empresas até as obrigam a vir, e pagam os pacotes. Muitas são tímidas, não estão acostumadas. Mas depois que fazem a unha – que está no pacote – acabam ‘se soltando’ e pedem outros serviços", diz Roberta, do salão na região da Berrini. "Principalmente escova progressiva, que é uma febre", conta.

Ou seja, as novas "exigências" profissionais, é claro, não tiraram delas o prazer de tirar um tempinho para cuidar da beleza. "Acho que ir ao salão tem mesmo a ver com o trabalho, mas também com o lado pessoal. Dá a sensação de que estou fazendo uma coisa ‘de mulher’, já que não temos mais tempo para fazer crochê ou cozinhar", diz Ariana. "Não é um momento perdido, é um momento ganho", afirma.



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