Internacional
Papa Francisco morre aos 88 anos e deixa marca de renovação e empatia na Igreja Católica
21/04/2025

Papa Francisco discursa durante evento no Vaticano (Foto: Alessandro Di Meo/Pool via REUTERS)
Portal WSCOM
O mundo se despede de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que faleceu na madrugada desta segunda-feira (21), aos 88 anos. O anúncio foi feito pelo Vaticano às 2h35 (horário de Brasília), encerrando um pontificado de 12 anos marcado pela busca por uma Igreja mais próxima dos pobres, mais tolerante com as minorias e menos rígida em temas considerados tabus.
Francisco morreu menos de dois meses após receber alta de um longo período de internação. Diagnosticado com pneumonia bilateral e infecção polimicrobiana, o pontífice passou cerca de 40 dias internado no hospital Agostino Gemelli, em Roma. A piora no estado de saúde havia sido percebida ainda em fevereiro, quando começou a ter dificuldades respiratórias e passou a depender de auxiliares para leituras durante audiências religiosas.
Apesar da saúde frágil, continuava ativo em compromissos da Igreja, inclusive durante a internação. No entanto, o quadro evoluiu negativamente e, agora, o mundo católico se prepara para o funeral e o início do período de “sé vacante”, até a escolha de um novo papa.
Francisco, o primeiro pontífice latino-americano e também o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro, assumiu a liderança da Igreja em 2013, após a histórica renúncia de Bento XVI. Ele mesmo admitiu, anos depois, que não desejava o cargo, mas aceitou por obediência. O conclave que o escolheu foi uma resposta à crise moral e institucional vivida pela Igreja, abalada por escândalos de abuso e queda de influência no mundo moderno.
Ao longo de seu pontificado, Francisco ficou conhecido por uma postura progressista em relação aos desafios contemporâneos. Criticou regimes autoritários, defendeu migrantes, enfrentou a crise climática com firmeza e abriu espaço para o debate sobre os direitos LGBTQIA+. Foi o primeiro papa a permitir bênçãos a casais do mesmo sexo, nomear mulheres para cargos importantes no Vaticano e defender uma Igreja mais aberta ao diálogo.
Ainda assim, manteve posições conservadoras em relação à ordenação de mulheres e ao aborto, o que lhe rendeu críticas de setores progressistas. Para ele, o papel feminino era essencial, mas não sacerdotal — e, sobre a interrupção da gravidez, manteve a linha doutrinária tradicional.
Francisco acreditava que a missão da Igreja era acolher, e não julgar. “Quem sou eu para julgar?”, afirmou sobre os homossexuais, frase que se tornou um símbolo de sua liderança misericordiosa. Para ele, a Igreja deveria ser um “hospital de campanha”, e não um tribunal de condenações.
Seu legado também inclui uma forte ênfase em reformas administrativas no Vaticano. Dedicou-se à transparência financeira e combateu irregularidades no banco da Santa Sé, herdadas de décadas anteriores. A austeridade também era parte de sua vida pessoal: recusou luxos, vivia com simplicidade e andava de carro popular.
Francisco também será lembrado por seus gestos durante a pandemia da Covid-19. Em 2020, protagonizou uma das imagens mais impactantes de sua gestão: sozinho sob chuva na Praça São Pedro, rezando em silêncio por um mundo assolado pelo vírus. Era a imagem do papa que, mais do que governar a Igreja, buscava consolar.
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos, Bergoglio seguiu um caminho peculiar: formou-se técnico químico, estudou literatura e psicologia, antes de ingressar no seminário jesuíta. Ordenado padre em 1969, subiu rapidamente na hierarquia eclesiástica, tornando-se arcebispo de Buenos Aires e, depois, cardeal, nomeado por João Paulo II em 2001.
Com o nome inspirado em São Francisco de Assis, símbolo da humildade e da opção pelos pobres, Bergoglio deixou um modelo de liderança baseado no afeto, na escuta e na coragem de mudar sem romper com a tradição. Em vida, dizia não temer a morte e que aceitava sua missão com serenidade. Seu lema papal, Miserando atque eligendo — “Olhou-o com misericórdia e o escolheu” — define bem seu caminho.
A Igreja Católica agora se volta para o Colégio dos Cardeais, que deverá convocar um novo conclave nas próximas semanas. Enquanto isso, fiéis de todo o mundo prestam homenagens àquele que redefiniu o papel do papa no século XXI.
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