Economia & Negócios

Pão de Açúcar tenta sobreviver à era Abilio

Varejo


09/09/2013

 "Um transatlântico que navega por águas tranquilas." Foi assim que o empresário Abilio Diniz descreveu o Pão de Açúcar, empresa criada por seu pai há 65 anos, que começa hoje uma fase sem sua sombra e credibilidade.

Na verdade, a maior varejista brasileira enfrentará águas bem turbulentas: a concorrência com as pequenas redes (o maior desafio, segundo o presidente, Enéas Pestana); a negociação com fornecedores tão poderosos quanto a BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão, que terá Abilio no leme); a inflação, que dificulta o repasse aos preços; além das mudanças nos hábitos, que pedem praticidade e fim do desperdício.

Com trânsito no governo (tanto petista como tucano) e com respeito do mercado financeiro, Abilio foi a cara e a principal antena da varejista a esses e a outros desafios.

Atleta, empreendedor, religioso (é devoto de Santa Rita), Abilio sofreu -foi sequestrado em 1989- e comemorou vitórias em público.

O estilo do empresário é o oposto do dos franceses do Casino, que são discretos e quase invisíveis. São poucos os relatos sobre a vida de Jean-Charles Naouri, presidente da companhia, e de Arnaud Strasser, principal homem do grupo no país.

Atento a isso, o Casino jamais desprezou a força da equipe do empresário. Nos demais países em que atua, é praxe do grupo operar segundo a bandeira e os costumes locais. Na América Latina, está no Uruguai, na Argentina e na Colômbia -países que, junto do Brasil, poderão formar uma subsidiária latino-americana nos moldes da Latam -união de LAN e TAM.

Há dúvidas sobre a nova composição do conselho de administração, que fora montado como campo de batalha dos dois grupos. Sem a disputa, os nomes serão outros para definir as estratégias.

Surpreendentemente, a empresa conseguiu se manter à parte da disputa societária. Executivos relatam que, apesar das diferenças, na hora de fazer negócio tanto Abilio quanto os franceses tinham como denominador comum maximizar os lucros.

ALIANÇAS

Abilio formou um império afastando primeiro os irmãos, depois fechando alianças estratégicas (como a com o Casino) e, finalmente, comprando redes rivais.

Em 2005, quando vendeu o controle do Pão de Açúcar, a varejista e o Brasil eram outros. À época, o negócio foi considerado bom para o empresário, que recebera US$ 881 milhões prometendo passar o comando aos franceses no então distante 2012.

Sete anos depois, cumpriu o contrato, mas entregou uma empresa quatro vezes maior, incluindo Ponto Frio e Casas Bahia. As vendas, que somavam R$ 13,4 bilhões em 2005, saltaram para R$ 50 bilhões em 2012. O valor de mercado passou de R$ 8,7 bilhões para R$ 23,8 bilhões e as ações preferenciais, de R$ 35,90 para R$ 98,62.

Um ano antes de passar o bastão, o empresário provocou a ira dos franceses ao propor a fusão no Brasil com o arquirrival Carrefour, com o apoio do BNDES, num desenho em que os franceses ficariam em papel secundário. "Não me arrependo de nada do que fiz. Só do que não fiz", disse Abilio, 76, ao anunciar na sexta que deixaria o conselho da empresa.

A HISTÓRIA DE ABILIO DINIZ NO PÃO DE AÇÚCAR

7.set.1948
O português Valentim dos Santos Diniz, pai de Abilio Diniz, inaugura na avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo, a Doceria Pão de Açúcar

14.abr.1959
É inaugurado o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em São Paulo

1995
A empresa abre capital na Bolsa, Abilio assume a presidência e Valentim se torna presidente do Conselho de Administração

Dez.2002
O empresário deixa a direção do grupo e assume o Conselho de Administração

Mai.2005
Abilio vende o controle do Pão de Açúcar para o grupo francês Casino, se comprometendo a efetivá-lo apenas em jun.2012

Jan.2006
O empresário e Casino formam a holding Wilkes, que detém 66% das ações com direito a voto do grupo Pão de Açúcar

Mai.2011
Abilio tenta fusão com o Carrefour no Brasil. Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, diz que a manobra não teve seu aval

Jun.2011
Casino abre processo de arbitragem por suposta quebra de contrato

Set.2011
Casino compra ações do Pão de Açúcar no mercado e aumenta sua participação de 33% a 46%

Mar.2012
Casino informa que exercerá o direito de assumir o controle do Pão de Açúcar e destitui Abilio do conselho do Casino, em Paris

Jun.2012
O empresário cumpre o contrato e transfere o controle ao Casino

Ago.2012
Abilio vende ações para o Casino, que passa a ter 52% da companhia

Jan.2013
O empresário compra ações da empresa BRF (fusão Sadia e Perdigão) e fundos de investimento manobram para tê-lo como presidente da principal fornecedora do Pão de Açúcar

Fev.2013
Casino pede para Abilio renunciar à presidência do conselho do Pão de Açúcar alegando conflito de interesses; ele nega

Abr.2013
Abilio é eleito presidente do conselho de administração da BRF; Casino abre um segundo processo de arbitragem

Set.2013
Abilio Diniz decide deixar a presidência do conselho do Pão de Açúcar



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