Paraíba

‘Pandemia, mortes, fome e a farra dos milionários’, por Éder Dantas


07/04/2021

Em novo artigo, o professor Éder Dantas, da UFPB, analisa a explosão dos números da Covid19, o aumento da insegurança alimentar no Brasil e a divulgação da lista de bilionários da Forbes, cuja presença de brasileiros

Pandemia, mortes, fome e a farra dos milionários

Éder Dantas*

Os números anunciados ontem pelas autoridades revelam que as mortes no Brasil por Covid19  já atingem contornos inimagináveis: 4.211 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Enquanto na maioria dos países, os casos declinam, no Brasil eles não param de crescer. A previsão dos especialistas é que, em breve, chegaremos a 5 mil mortes diárias, cifra só alcançada, no ano passado, pelos EUA da era Trump, país com uma população 50% maior que a nossa.

As taxas inimagináveis de letalidade alcançadas pelo nosso país já preocupam os nossos vizinhos, que fecham as fronteiras para o ingresso de brasileiros. O número total de mortes da pandemia chegou a 337.364. Em março, o país teve o mês mais letal da pandemia, com mais de 66 mil pessoas falecidas. Para abril, a previsão é de que o Brasil tenha 100 mil mortes pela covid-19, segundo projeções da Universidade de Washington.

O Brasil, doente, assiste à total falta de estratégia de nossas principais autoridades, à frente, um presidente da República negacionista da ciência que, claramente, mais atrapalha do que ajuda, ao entrar em conflito com prefeitos e governadores que querem tomar medidas mais duras para evitar o aumento do contágio. Além disso, o presidente insiste em defender o “tratamento precoce” contra a Covid-19, mesmo sem qualquer comprovação científica e não mexe uma palha para agilizar o avanço da vacinação.

O que vemos hoje é a total ausência do Estado Nacional na liderança do país, no processo de combate à pandemia do Coronavirus. O país sofre, desde 2016, quando do Golpe midiático-parlamentar que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, de um processo de enfraquecimento do Estado Nacional em favor de uma agenda liberalizante, que só beneficia as grandes empresas multinacionais e os grandes investidores do mercado financeiro. Refém dos homens da grana, a quem bate continência, nosso presidente prefere utilizar um discurso negacionista e uma tática diversionista para esconder sua paralisia, enquanto assiste, atônito, sua popularidade minguar.

O sofrimento do povo brasileiro com a pandemia é agravado por uma realidade de alto desemprego e, consequentemente, falta de renda, paralisação da economia e a volta da fome que, depois de reduzir no país, na era Lula, voltou a crescer, com a insegurança alimentar disparando nos dois últimos anos. São quase 117 milhões de pessoas nessa situação, sem acesso pleno e contínuo a alimentos. Além deles, há ainda 19,1 milhões de brasileiros que efetivamente passam fome, em um quadro de insegurança alimentar muito grave. Os dados foram revelados pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).

Enquanto isso, a lista de bilionários da Revista Forbes mostrou que, movidos pela globalização neoliberal e o capitalismo de plataforma, o número de bilionários ‘explodiu’ e chegou a 2.755 – 660 a mais que um ano atrás. O número de brasileiros entre eles, por sinal, aumentou. No país governado pelo Capitão, enquanto o povo padece, os “estribados” fazem a festa.

Ao todo, são 57 residentes no Brasil na lista, sendo 11 ‘novatos’. Na companhia de Jeff Bezos, dono da Amazon, o homem mais rico do mundo. podemos destacar os Irmãos Safra (Jacob, David, Alberto e Esther) com uma fortuna estimada em US$ 7,1 bilhões. O segundo entre os brasileiros que estreiam é David Velez, do Nubank, com US$ 5,2 bilhões. O terceiro, Guilherme Benchimol, da XP, tem riqueza estimada em US$ 2,6 bilhões. Quem disse que todos os indivíduos estão sofrendo com a pandemia?

 

*Professor da UFPB.



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