Saúde

Paixão, intimidade, compromisso são os elementos para uma boa relação

ESTUDO DA PSIQUE


01/09/2016



“Você é meu vicio,
mais mortal que a heroína afegã,
mais perigoso que a cocaína colombiana.
Você é a minha solução, meu doce problema”

Todos os namorados do mundo vão concordar com Carla Bruni, autora dos versos acima. No entanto, esse modelo de dependência do amor se aplica muito bem ao amor à primeira vista, mas perde a sua relevância assim que o casal decide permanecer juntos. Os neurobiologistas tentam explicar por alguns microgramas de hormônios, o que diz respeito ao apego do sentimento amoroso, para além deste período da loucura do amor (Como nos tornamos apaixonados? Lucy Vincent ; O amor é uma droga leve …de modo geral, Michel Reynaud e Catherine Siguret), às vezes qualificado de estado psicótico pela psicanálise (O estado apaixonado, Christian David ;O livro da dor e do amor, JD.Nasio). De seu lado, os etologistas justificam a transitoriedade da paixão pela necessidade de proteger sua prole, principalmente nos primeiros meses de vida. Em suma, cada disciplina interpreta os acontecimentos em termos de sua própria perspectiva. Necessariamente redutora.

Obviamente, nem nossos hormonios e nem nossa natureza animal são suficientes para explicar o nosso comportamento apaixonado. Nem uma necessidade qualquer de reprodução justifica a infidelidade amorosa. Portanto, é preciso se voltar para as ciências da psique para ter respostas mais adaptadas à realidade dos casais que perduram. Foi assim que o psicólogo Robert Sternberg teorizou o triângulo do amor. De acordo com o famoso psicólogo americano, o amor é essencialmente baseado em três componentes: a paixão, a intimidade e o compromisso. A dosagem destes três ingredientes dá cor ao vínculo amoroso. Um cocktail que pode evoluir ao longo do tempo e dos acontecimentos.

Paixão, intimidade, compromisso

A paixão é o ingrediente mais óbvio, é a versão de Hollywood do amor romântico, aquecido ao rubro pelo desejo sexual, mas, no entanto, com algumas notas mais surpreendentes. Assim como a autoestima, que o olhar de nosso (a) namorado (a) empurra para o zênite (¹).

A intimidade resume esse sentimento de proximidade, de conexão, de vínculo com a pessoa amada. Ele se traduz também pelo sentimento de bem-estar na presença do outro, a compreensão mútua, o compartilhamento, o apoio emocional, o respeito e a admiração. Trata-se também do componente central da amizade.

Finalmente, o compromisso é provavelmente o menos compreendido, se não o mais inesperado dos três ingredientes do amor. Trata-se, em curto prazo, da decisão de se envolver como um casal a mais longo prazo, do desejo de fazer esforços para manter o vínculo amoroso. Trata-se, portanto de um componente decisivo para a sobrevivência do casal.

Avaliar sua relação

Cada um pode, portanto, avaliar sua relação graças ao triângulo de Sternberg. Os três elementos estão realmente presentes ou um deles está enfraquecendo? Acontece, por exemplo, que um dos dois parceiros, insatisfeito com a evolução de sua relação, decida aumentar seu nível de comprometimento. Durante esta fase, ele vai fornecer esforços significativos para mudar a situação. Mas se o outro não perceber e por sua vez, não entrar em uma fase de esforço para alcançar uma condição satisfatória parar ambos, a crise é inevitável. O mesmo ocorre se os esforços não forem sinceros ou se limitarem a algumas medidas insignificantes de ajuste. Quem tiver feito os esforços, sozinho, por um tempo, vai desistir e entrar em uma fase de descomprometimento que pode até levar à separação. Não é incomum que o outro esteja surpreso, por uma decisão que lhe pareça demasiada excessiva embora níveis elevados de intimidade e/ou de paixão ainda são evidentes.

Mas outras teorias têm seu interesse na compreensão da atração amorosa. É assim que o psicanalista J-G. Lemaire explica em seu livro: O casal: sua vida, sua morte, como os parceiros tiram proveito dos benefícios inconscientes do casal. O conceito de união com base em nossas fraquezas inconscientes é certamente menos glamouroso que a visão romântica, mas às vezes, ilumina alguns vínculos incompreensíveis de outra forma. Ele explica também por que a evolução psicológica de um dos dois pode às vezes perturbar um vínculo que parecia inalterável.

Obviamente, o sentimento amoroso resiste à simplificação (*)

(¹) Zênite é um ponto imaginário (localizado sobre a esfera celeste) interceptado pela vertical traçada a partir da cabeça de um observador.



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