Saúde

Orientações sobre a alimentação de bebês mudam ao longo do tempo

Tempo


22/04/2013

 Qualquer um que já tenha cuidado de um bebê sabe que é fácil se preocupar com o que entra –com o que alimentamos a criança– e pensar no que sai com uma espécie de fascínio, como se a fralda escondesse mensagens e presságios.

Os alimentos que damos aos bebês refletem nossas crenças e tradições familiares, nossa origem cultural e circunstâncias de vida. Mas também dizem respeito a considerar as orientações de um bom número de especialistas, de pediatras e até de nutricionistas e alergistas.

Essas orientações, em alguns casos, mudaram drasticamente ao longo do tempo. Mesmo que os cientistas insistam em enfatizar a importância da amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida, hoje eles também reconhecem que pode haver vantagens em expor uma criança de mais idade a alguns alimentos sólidos específicos que antes eram proibidos.

A Academia Americana de Pediatria sugere a amamentação exclusiva –nenhuma fórmula infantil, nenhum outro alimento de qualquer espécie– durante os primeiros seis meses de vida, e a continuação da amamentação por, pelo menos, um ano. Outras diretrizes sugerem que não se dê alimentos sólidos aos bebês de quatro a seis meses de idade, e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram recentemente um estudo que mostra que muitos pais não têm nem mesmo esperado até os quatro meses.

"A primeira coisa que me surpreendeu foi que a prevalência da introdução de alimentos sólidos antes dos quatro meses era de 40%", disse Heather Clayton, epidemiologista e autora principal do estudo. "As mães que davam fórmula infantil aos seus bebês se mostraram muito mais propensas a introduzir alimentos sólidos cedo do que as mães que apenas davam de mamar aos filhos."

Muitas mães disseram que simplesmente achavam que o seu bebê já tinha idade suficiente para comer alimentos sólidos. Entre as outras razões alegadas, foi citado o desejo de ajudar o bebê a dormir. Essa crença é regularmente mencionada no consultório pediátrico. Posso lhes dizer, no entanto, que pesquisas que investigaram se o cereal para bebês ajuda os pequenos a dormir não revelaram nenhum benefício.

Médicos e nutricionistas citam preocupações com a predisposição de crianças pequenas para digerir alimentos sólidos. Também pode haver ligações com problemas de peso posteriores. De acordo com os resultados de uma pesquisa realizada em 2011, bebês alimentados com fórmula infantil que começaram a ingerir alimentos sólidos antes dos quatro meses de idade se mostraram mais propensos a serem obesos aos três anos.

"A sabedoria médica sobre a alimentação infantil mudou ao longo do tempo. No início do século 20, os pais foram aconselhados a não introduzir alimentos sólidos até cerca de nove meses", afirmou Amy Bentley, professora adjunta de ciência dos alimentos da Universidade de Nova York, que está trabalhando em um livro sobre a história da comida para bebês nos Estados Unidos.

"Já na década de 1950, alguns especialistas recomendavam que os bebês começassem a ingerir alimentos sólidos com quatro a seis semanas de vida", disse Amy. Essa orientação estava ligada à ideia de que os alimentos para bebês que estavam sendo comercializados, como a fórmula infantil, constituíam um método mais moderno, científico e seguro de nutrição infantil.

Assim como ocorre atualmente, naquela época "os médicos reclamavam que as mães faziam apenas o que queriam e não os ouviam de fato".

No que diz respeito à alimentação infantil, a mais notável reviravolta recente envolve o problema das alergias.

Até cinco anos atrás, a Academia Americana de Pediatria e a Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia recomendavam aos pais que observassem, com atenção redobrada, a introdução de alimentos com maior probabilidade de causar reações alérgicas, sugerindo que evitassem o leite de vaca até que a criança completasse um ano, que não servissem ovos antes dos dois anos nem qualquer coisa que contivesse amendoim até os três.

"Pensava-se que expor o bebê a esses alimentos no início da vida o tornaria mais propenso a se tornar alérgico", disse Amal H. Assa’ad, professora de pediatria do Hospital Infantil de Cincinnati. Mas os estudos epidemiológicos não confirmaram isso e algumas pesquisas mostraram que, na verdade, manter tais alimentos longe de mulheres grávidas e crianças pequenas pode surtir o efeito oposto.

"Hoje acreditamos que essa ideia estava equivocada e que talvez devêssemos voltar a investir na ideia contrária: a de que é melhor introduzir esses alimentos antes, quando o corpo tem mais tendência a ser tolerante", declarou.

Assa’ad fez parte de um grupo que compilou novas orientações para a alimentação de bebês, publicadas em janeiro no "The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice". A mais importante orientação referente à prevenção da doença alérgica era a amamentação, mas os autores também concluíram que os alimentos altamente alergênicos –como leite de vaca, ovos e amendoim– podem ser introduzidos até mesmo para os bebês, embora não devam estar entre os primeiros alimentos sólidos a serem oferecidos a eles.

Isso não se aplica aos que já tiveram reações alérgicas ou que de alguma forma não estejam completamente saudáveis. Ainda assim, mesmo no caso de bebês saudáveis, as evidências estão longe de serem conclusivas atualmente.

"Ao pesquisarmos a literatura cuidadosamente, tivemos muitas dificuldades de encontrar evidências que provassem uma coisa ou outra", falou Assa’ad. "Estamos fazendo o melhor que podemos com as evidências disponíveis."

Talvez pareça que dar de comer a um bebê pequeno é a parte mais fácil e mais claramente previsível de ser pai ou mãe. Mas o fato de as orientações terem mudado ao longo do tempo ilustra a complexidade das decisões a serem tomadas. A estratégia geral de alimentação recomendada atualmente no caso de crianças sem problemas de saúde é equilibrar a exclusividade da amamentação nos primeiros seis meses com uma abordagem mais descontraída após esse período.

As próprias orientações vêm de uma mistura de ciência dura, sabedoria coletiva e senso comum. Elas realmente mudam com o tempo e, provavelmente, continuarão mudando. Não admira que os pais fiquem obcecados com o que entra e com o que sai. Os comitês de especialistas também ficam.



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