Política
O voo dos tucanos paraibanos para seus novos ninhos – Por Anderson Costa
13/03/2025

Anderson Costa
A notícia de que o ex-deputado Pedro Cunha Lima estava de saída do PSDB para assumir a presidência do PSD na Paraíba atingiu o estado em cheio e foi a principal notícia relacionada a política desta quarta-feira (12). Além de Pedro, nascido no berço do PSDB e membro da terceira geração familiar no papel e liderança política da legenda, seu pai, o ex-governador Cássio Cunha Lima também teve sua saída da legenda confirmada.
Diferenças partidárias
Do ponto de vista das simples siglas, não mudou muita coisa para Pedro e Cássio. Se os dois tucanos deixaram o Partido da Social Democracia Brasileira, sua nova morada é o Partido Social Democrático. Então, ao menos o que nos indicam os nomes dos dois partidos, a família Cunha Lima segue unida ao pensamento social-democrático.
Enquanto o PSDB em seu nascimento era um partido muito aproximado dos princípios da social-democracia e defensor dos princípios sociais defendidos por esta corrente política e filosófica, o PSD já nasce tendo uma faceta muito semelhante à adquirida pelos tucanos ao longo do tempo, principalmente após a conclusão do governo de Fernando Henrique Cardoso a frente da presidência da República. Em 2011 os dois agrupamentos políticos já possuíam naquele momento uma faceta muito mais liberal ou neoliberal do que nos levaria a entender os seus nomes.
Sendo assim, enquanto naquele momento o PSDB já seria um partido que se classificaria como uma agremiação social-liberal ou neoliberal, o PSD foi fundado por Gilberto Kassab com o objetivo de ser um partido tão centrista ao ponto de ser praticamente desprovido de ideologia política.
Podemos dizer então que o PSD nasceu com a intenção de ser a mais pura representação do que se entende por centro na política brasileira, aquele que não discorda do poder, que está sempre ao lado do governo e que integra sempre agrupamentos. Portanto, o PSD é o “centrão” do Congresso Nacional em sua essência.
Causas
A saída de Pedro e de Cássio do PSDB já era algo aventado na política paraibana e nacional há algum tempo. Embora se cogitasse que os dois representantes não deixassem o partido antes que o seu futuro se definisse, algo como o capitão de um navio de filme blockbuster que decide afundar junto a sua nau numa busca de morte honrosa ao lado de seu equipamento companheiro de viagens. Desde as eleições de 2022 muito já se falava da necessidade que os tucanos tinham de se reinventarem na política nacional para retomarem a importância do passado e com isso se questionava quem seriam esses líderes políticos que deixariam e quem seriam os que ficariam no partido.
Muitos entendiam que os membros da família Cunha Lima ficariam no segundo grupo de filiados, visto a importância que a legenda teve para a história política do grupo e o papel de liderança que membros da família sempre desempenharam no estado desde que pousaram no PSDB em 2001.
Mas também já havia aqueles que apontavam, acertadamente, a necessidade que Pedro, desejoso de disputar mais uma vez o governo estadual, teria de lastrear o seu nome em um partido com maior base do que o PSDB apresenta hoje na Paraíba. Embora o agrupamento político que a família Cunha Lima integra na Paraíba possua uma boa gama de partidos e lideranças aliadas, o PSDB já vinha passando por um processo de desidratação.
A sigla que já foi representada no Senado Federal por Ronaldo Cunha Lima, Cícero Lucena e Cássio Cunha Lima já não gozava mais de nenhum representante paraibano na Casa Alta do Congresso Nacional e de nenhum paraibano na Câmara dos deputados. Em meio a esta nova realidade de partido nanico na política brasileira, o PSDB não apresentava a “sustância” necessária para ser a casa de um possível governador do estado.
Novos Ares
Em 2023 as lideranças do PSDB, percebendo o seu encolhimento e entendendo que precisavam agir para salvar os tucanos que ainda estavam fielmente empoleirados na árvore, passaram a conversar com os comandantes de outros partidos alinhados politicamente. Neste sentido que muitos nomes da sigla passaram a dialogar com Gilberto Kassab e a se interessarem com a possibilidade de união com aquela sigla de nome tão parecido.
Se lideranças do PSD conseguiram travar a fusão das duas legendas, não conseguiram impedir a capacidade de Gilberto Kassab de atrair alguns tucanos para o seu partido, que agora tinha ares de santuário, para as aves da política nacional que buscavam nova moradia com a clara morte de seu bioma original. Foi assim que Raquel Lyra deixou o ninho tucano recentemente para unir-se ao partido do ex-prefeito de São Paulo.
Foi em meio a estas conversas que também Pedro Cunha Lima entendeu que havia sido chegada a hora da grande migração. Que assim como seu avô Ronaldo Cunha Lima fez ao deixar o PMDB e se tornar um tucano, agora era chegada a sua hora de deixar o ninho e partir para outras paradas. Assim anunciou hoje que o fará, ao lado de seu pai, Cássio Cunha Lima.
Pedro falou sobre a construção de um projeto nacional que o vem empolgando politicamente e ao qual deseja unir-se para discutir pautas locais e nacionais.
Se pensarmos bem, é realmente isso que vem faltando ao PSDB ao longo dos últimos anos. O partido que nasceu com um projeto claro e uma imagem de um Brasil que precisava ser reconstruído pós redemocratização já não empolga mais as massas, não há mais discurso das lideranças tucanas que motivem as multidões. Desde a derrota nas eleições presidenciais de 2014 o partido tornou-se como que uma espécie de figura sem rosto.
Consequências
Assim, também precisamos pensar o que será do PSDB e do PSD com esta mudança política promovida pelos dois líderes políticos da família Cunha Lima, ou ao menos do ramo “ronaldista” da mesma, visto que Bruno, atual prefeito de Campina Grande e neto de Ivandro Cunha Lima, deverá seguir no União Brasil, partido ao qual se filiou em 2023, deixando justamente o PSD que naquele momento era presidido pela senadora Daniella Ribeiro.
Uma pergunta fica no ar, quem serão os políticos que se unirão a Pedro e a Cássio no PSD para engrossarem as fileiras partidárias rumo às eleições de 2026? Se na saída de Ronaldo do PMDB em 2001 este foi seguido por uma vastidão de aliados e companheiros, dificilmente esta realidade se repetirá neste novo capítulo da política paraibana.
Se discute nos bastidores da política o interesse que Cássio teria em filiar os aliados históricos e deputados federais Romero Rodrigues e Ruy Carneiro, hoje ligados ao Podemos. Ambos os nomes já demonstraram o interesse em seguirem onde já estão, com isso os dois, agora ex-tucanos, precisarão analisar bem quem serão os quadros da política paraibana que conseguirão aglutinar ao redor de si para garantirem um fortalecimento partidário em 2026.
O crescimento da presença do PSD paraibano no Congresso Nacional é uma dupla necessidade. De um lado há o partido que entende que precisa aumentar o seu número de broches na Câmara e no Senado para assim ganhar mais importância dinheiro e tempo de propaganda, do outro lado estão os dois filiados mais recentes que precisam se reafirmarem como nomes ainda fortes da política estadual garantindo uma boa representação de aliados em todos os níveis do legislativo estadual e nacional.
O que sabemos hoje é que muitos outros tucanos paraibanos voarão para longe do ninho, o que ainda não sabemos é: para onde irão?
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