Política

O significado histórico do fracasso da tentativa de golpe de Bolsonaro, comenta Jonas Duarte


09/02/2024

As cenas contemporâneas  em torno do acervo político do ex-presidente Jair Bolsonaro continuam produzindo efeitos de diversos ordens, agora nominando fases do processo fracasso de golpe citando civis e militares, daí merecer abordagem minuciosa do professor doutor Jonas Duarte, da UFPB, em análise histórica de grande relevância. Leiamos:

 

‘É comum dizer-se que a História Política do Brasil é uma sucessão de golpes de Estado.  Verdade.

 

Mas há um bom número de golpes frustrados também. 

 

O golpe de Deodoro, com apoio de civis, contra uma monarquia moribunda, corrompida e desumana deu certo. Viramos “meio República “. Há uma casta quase monarca no Brasil. 

 

O esforço racista-fascistóide para recuperar a imagem da monarquia no Brasil é possível porque nossa República não cala fundo na memória coletiva nacional como uma conquista popular. Está mais para uma vitória das elites quatrocentonas paulistas do que do povo.

 

De lá pra cá, são golpes e remendos políticos-eleitorais impressionantes. Da eleição de Epitácio Pessoa, fora do Brasil, sendo informado que seria o candidato e o Presidente por telegrama, passando pelo golpe de Getúlio em 37 para estancar outros tantos golpes, até o golpe contra o próprio Getúlio em 1954, fracassado pelo ato extremo do Presidente, de tirar sua própria vida como forma de barrar o golpe.

 

Os militares na porta do Catete, prontos para sacar Getúlio mais uma vez do poder foram pegos de surpresa com o suicídio de Getúlio e a comoção nacional. Voltaram aos quartéis com a farda entre as pernas.

 

Café Filho assumiu. Fez um governo desastroso, entreguista. Cedeu as pressões internacionais. 

 

A devoção por Getúlio elegeu Juscelino, do PSD, partido criado como braço direito de Getúlio, Presidente; e Jango, do PTB, braço esquerdo do mesmo Getúlio, vice.

 

Os trogloditas militares, a serviço da velha casta de direita tenta impedir a posse de JK e Jango.

 

São derrotados pelo Marechal nacionalista Henrique Teixeira Lott.

 

As trapalhadas e erros dos militares brasileiros e a falta de confiança das forças armadas estadunindenses nos golpistas brasileiros está na base daquele fracasso.

 

Em 1964 foi diferente. Os militares golpistas-fascistas brasileiros tiveram apoio logístico e da inteligência estadunindenses desde a concepção do golpe.

 

Mobilizou-se a Igreja Católica (TFP), Marçonaria, Meios de Comunicação, empresariado, intelectualidade, etc. Um golpe organizado internamente e com a retaguarda da Operação Brother San dos EUA. Os militares foram, inicialmente, instrumento das oligarquias empresariais brasileiras e estadunindenses. Depois, de Costa e Silva em diante se entronaram como uma Ditadura Militar. Entregavam apenas o resultado ao Capital Monopolista. 

 

O golpe de 2016 contra a Presidente Dilma também foi preparado com Washington. Não precisou dos militares. As marionetes da vez foram os parlamentares e o judiciário. 

 

A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, nos parece, no calor do que veio à tona até agora, uma ação tresloucada de fascistas fora dos quartéis, dirigindo um bando de lunáticos babacas, com sérios distúrbios mentais,  adoradores de pneus, esperançosos que ET’s vissem o piscar de seus celulares e viessem salvar o Brasil. 

 

Toda tentativa de golpe se usa uma massa bruta, ignorante para dar apoio a ação final do golpe. Seja com a farda e os canhões, seja de terno e gravata nos microfones do Parlamento ou com a Toga.

 

O CASO BOLSONARO

 

O fracasso do golpe bolsonarista tem três razões claras.

 

1°. Não conseguiu mobilizar alguém com o mínimo de inteligência. A massa bolsonarista se destaca por seu baixíssimo nível cultural. Empresários, médicos, engenheiros, políticos, advogados bolsonaristas têm uma coisa em comum. A fragilidade intelectual. Mentalidades formadas por preconceitos típicos do século XIX e fake news formam suas crenças. É de dar dó. É a expressão mais baixa, do baixíssimo nível cultural brasileiro. Incapazes de uma reflexão mínima, seguem as bobagens bolsonaristas como dogmas religiosos. Sem o mínimo de inteligência com capacidade de planejar as ações, essa massa de manobra golpista se transformou em vândalos. Bem a cara de Bolsonaro. 

 

2°. A tentativa de golpe, liderada por um “escroque” fanfarrão como Bolsonaro não poderia unir os militares. Só a linha dura, herdeira de Sílvio Frota e aqueles carniceiros torturadores de 64, tipo General Heleno acompanhariam e acompanharam Bolsonaro. Ridículo.

 

3°. Por fim, zero apoio internacional. Os patrões estadunindenses dessa casta Vira-Lata brasileira não quiseram, nem tem mais força nem liderança políticas para outra aventura militar em um país do tamanho do Brasil. 

 

É preciso punir exemplarmente esses golpistas. Suas trapalhadas e ignorância não os isentam do crime. 

 

É imprescindível para avançar na ordem democrática a punição de todos os golpistas. Civis e militares. É obediência a Constituição e a Democracia. 

 

É histórico que militares brasileiros sentem no banco dos réus e sejam condenados por seus abusos e crimes. É fundamental para que a Democracia brasileira avance.’

 



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